A confiança na economia brasileira segue em trajetória errática. Ora melhora, ora piora. A luta pela aprovação da PEC do teto dos gastos mostrou que o Governo não tinha tanta força no Congresso como imaginara, criando preocupações em torno da reforma da Previdência. Em meio a esse cenário, o varejo enfrenta também os desafios da economia real.
Em outubro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu pelo corte de 0,25 pontos percentuais na taxa Selic, que hoje se situa em 14% ao ano. Decisão esperada e correta, porém considerada insuficiente para reduzir efetivamente as taxas de juros do mercado, que ainda tolhem o consumo e investimentos.
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Ainda segundo a autoridade monetária, os juros no crédito rotativo à pessoa física e jurídica seguem em suas máximas históricas (480% e 357% ao ano, respectivamente). Ao lado desses níveis absurdos, o varejo sangra também em função do elevado desemprego a 11,8%, segundo o IBGE. Para a instituição, o setor recuou quase 6% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Ou seja, pode melhorar a confiança, pode a política econômica estar corretamente orientada, mas a recuperação do varejo depende de variáveis baseadas na economia real.
Sabe-se também que os investimentos produtivos, que são importantes na geração de emprego, não se concretizam – estoques seguem enxutos, reduzir preços é um difícil desafio com a reduzida margem de lucro das empresas, e o fluxo de clientes nas lojas não tem contribuído para atenuar tal cenário desafiados. Expectativas, portanto, são insuficientes para compensar a economia real.
Bradariam os otimistas: “a inflação está em queda e podemos derrubar os juros!”. Doce sonho de qualquer empreendedor e consumidor ávido para contratar linhas de crédito. Mesmo a inflação tendo registrado a menor taxa para o mês de outubro desde 2000 (0,26%), não é o momento correto para uma queda consistente da taxa Selic. Por quê?
É importante que o País mantenha uma política monetária apertada (isto é, não reduzir a taxa Selic) enquanto não surgirem progressos efetivos do lado fiscal. Ou seja, toda cautela é necessária. No primeiro mandato de Lula, Joaquim Levy (então Secretário do Tesouro Nacional), alinhado com Antonio Palocci (então Ministro da Fazenda), promoveu importante movimento de corte de gastos. A austeridade então imposta já abria espaço para uma redução sustentável da taxa Selic.
Porém, a política econômica sofreu uma inflexão no sentido da elevação dos gastos públicos, e quaisquer consequências negativas da expansão fiscal foram atenuadas pela abundância de recursos externos provenientes do boom das commodities. Encerrada a abundância mas não a festa dos gastos públicos, chegamos ao presente atoleiro fiscal e ao descontrole inflacionário, piorados pela ausência de reformas estruturais urgentes na economia brasileira, que valem extensos estudos e artigos por si só.
Os juros precisam cair, mas de maneira sustentável, e isso dependerá de medidas concretas de austeridade e de reformas estruturais que não apenas acenem positivamente ao mercado, mas que mostrem uma trajetória real de redução dos gastos públicos. É claro que as taxas de juros cairão, porém não tão rápido quanto clamam varejistas, empreendedores e consumidores. Duro, porém necessário para o bem da economia no longo prazo.
*Eduardo Bueno é economista do Centro de Inteligência Padrão – CIP.