A pandemia é um teste de liderança. No âmbito dos negócios, uma recente pesquisa da consultoria Edelman mostrou que funcionários confiam ainda menos em seus chefes, e que seriam receptivos a eventuais cortes em seus salários se pudessem se livrar deles.
Mas avaliar um líder pode não ser tão simples. Em seu mais recente artigo na publicação referência em negócios Fast Company, o professor na Universidade de Columbia Tomas Chamorro-Premuzic lembra que, na liderança, existem resultados e opiniões.
“A maioria das pessoas vê suas próprias opiniões como fatos, mas estas são sobretudo expressões de suas preferências, valores ou crenças.”
As pessoas tendem a opinar sobre a liderança e os líderes sem dedicar tempo e esforço para examinar o histórico de um líder – e sem compreender totalmente seu potencial de liderança. Pensando nisso, Premuzic ressalta três características a serem observadas nos líderes ao longo de 2021, já que este ano pode não ser muito diferente do ano passado: humildade, curiosidade e integridade.
Separamos a seguir as percepções mais relevantes do especialista sobre estas três características esperadas aos líderes que podem mitigar as consequências ainda em andamento da pandemia, bem como dar-nos motivos para sermos otimistas.
Humildade
A humildade é valorizada, mas é raramente é encontrada em líderes. Desde que Jim Collins publicou seu best-seller “Empresas Feitas para Vencer” (2001) – no qual ele fornece dados convincentes de que os líderes seniores mais eficazes não são apenas notavelmente persistentes, mas também humildes -, não podemos deixar de falar desta questão.
Curiosamente, o livro também traz evidências de que a chance de ser promovido a cargos de liderança, subir na hierarquia organizacional ou ganhar eleições políticas é significativamente maior se a pessoa não for humilde. Geralmente escolhemos líderes com base em sua confiança transmitida, sua assertividade e capacidade de não ter consciência de suas limitações. E isso precisa mudar.
A receita de sucesso de um mau líder está no encorajamento dado a eles em doses de confiança, sua capacidade de esconder as próprias limitações, de não se preocupar com o que as pessoas pensam e de se colocar à frente da situação mesmo quando não tem talento para tanto.
Curiosidade
Mesmo os líderes mais inteligentes não podem confiar em sua inteligência. Isso porque a imensa maioria dos problemas que eles precisam resolver hoje não está bem definida e exige muito aprendizado. Além disso, a maioria dos líderes experientes passou muito tempo confiando em suas experiências anteriores e utilizando seus conhecimentos atuais.
À priori, portanto, nenhum deles é especialmente útil ao lidar com uma pandemia sem precedentes, ressalta Premuzic.
A curiosidade é a melhor maneira de resolver esse problema. Forte desejo de aprender, paixão por fazer perguntas (em vez de fornecer respostas), capacidade de ouvir, desafiar os preconceitos, identificar lacunas entre o que se sabe e o que precisa saber são pontos que podem ajudar líderes e equipes a se adaptarem ao desafios do momento.
Premuzic lembra que é preciso uma mente faminta para ser um líder. A liderança deve ser como um questionamento sobre a tradição, e a melhor forma de desafiar a tradição é ter a curiosidade de explorar alternativas. Isso inclui valorizar a diversidade de pontos de vista, valores e opiniões.
Integridade
Pessoas, organizações e sociedades geralmente ficam melhor quando seus líderes são honestos e éticos, ao invés de imorais ou corruptos. Mas basta abrir o jornal para ver líderes colocando interesses à frente dos coletivos. Premuzic lembra que existem aqueles que exploram seu poder e influência para tirar vantagem, e que têm total incapacidade de resistir à tentação de trapacear.
Isso acontece porque “os líderes ruins se multiplicam como bactérias em ambientes contaminados”. No esquema parasitário deles, crescem ao passo que debilitam os sistemas manipulando as regras do jogo.
Premuzic deposita as esperanças em líderes que tenham autocontrole, encontrem motivos para serem guiados pela empatia ou simpatia e que compreendam que a liderança não é um privilégio pessoal. A liderança é a capacidade de convencer um grupo de pessoas a colaborar efetivamente na busca de um objetivo comum.
Esperança e talento à prova
Premuzic sugere que nunca houve melhor época para líderes humildes, curiosos e éticos. A esperança deve estar sobre aqueles em posições de poder e que buscam maneiras de mostrar coragem moral para minimizar a dor de todos.
“Em vez de pedir às pessoas que desenvolvam resiliência – o que infelizmente é um reflexo dos líderes que temos – vamos exigir um nível mais alto de competência e desempenho para nossos líderes”, conclui o especialista.
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