* Por Marcelo Negrini
O Open Banking já é uma realidade no Brasil. Com a primeira fase de implementação iniciada em fevereiro, temos bancos e fintechs compartilhando informações sobre canais de atendimento, serviços e produtos financeiros, de maneira padronizada. Esse é o pontapé inicial.
Neste momento, a grande oportunidade será para o surgimento de comparadores entre produtos e serviços financeiros oferecidos por startups, sites especializados, veículos de imprensa e outros. Os dados compartilhados na fase 1 são genéricos, e não incluem informações sobre clientes específicos.
Abro um espaço aqui para comentar que, nos bastidores, o Open Banking está sendo desenhado por um grupo de trabalho, do qual também faço parte, que envolve representantes de mais de 750 instituições financeiras, como associações de classe, a exemplo da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs), entre outras. Cada uma dessas empresas disponibilizou seus profissionais para trabalhar no desenvolvimento de toda a arquitetura tecnológica, regras e padrões para o Open Banking, e também todos os materiais de divulgação e educação para a iniciativa.
O ponto focal da iniciativa é o site openbankingbrasil.org.br, que é dividido em duas áreas: uma para o Cidadão, explicando a iniciativa para o consumidor de serviços financeiros, e outra para Desenvolvedores, com todas as informações e regras para que as instituições financeiras exponham suas informações e serviços no modelo do Open Banking. Futuramente, existirá também uma área para os Provedores de Serviços, com documentação jurídica para reger o compartilhamento das informações dos consumidores.
Ganhando tração em suas quatro fases
Voltando ao processo de implementação, a segunda fase, do total de quatro definidas para implementação do sistema, está prevista para 15 de julho. Nela, teremos a possibilidade de os consumidores compartilharem com fintechs, varejistas e outros informações como dados cadastrais de contas, bem como saldos e extratos. Isso vale para contas correntes, poupança, cartões de débito, crédito e pré-pagos, além de operações de crédito. Tudo de maneira consentida e controlada.
Funcionará assim: quando, por exemplo, o consumidor contratar um empréstimo em uma fintech, ele terá a opção de transferir as informações de seu banco, sem a necessidade de enviar documentos como RG e extratos bancários. Fintechs mais ousadas poderão até importar a reputação do cliente junto a um banco – afinal, se o banco confia nele, a fintech também pode escolher confiar, sem processos demorados de aprovação.
Nesta fase será necessário o consentimento do consumidor. Para isso, todas as instituições participantes do Open Banking precisarão expor mecanismos para trocas seguras de informação, conhecidos como APIs (do inglês Application Programming Interfaces). Essas APIs deverão oferecer mecanismos para as pessoas se identificarem de maneira segura, usando senhas, biometria e/ou autenticações protegidas por mensagens SMS ou do WhatsApp.
Na fase 3, prevista para 30 de agosto, será possível fazer transações em uma instituição sem ser obrigatório usar o site ou a app móvel oferecido por ela. Por exemplo, você poderá usar um gerenciador de finanças pessoais conectado ao seu banco, que faça o pagamento das suas contas e boletos automaticamente. E indo além do modelo do DDA (Débito Direto Automático). O gerenciador poderá escolher a conta bancária ou cartão com mais fundos, e decidir a melhor opção de pagamento.
Na quarta fase, prevista para 15 de dezembro, o conceito do Open Banking será ampliado para compartilhar operações de investimentos, câmbio, seguros e previdência. Isso abrirá espaço para marketplaces inteligentes, que permitirão a comparação e a portabilidade entre serviços de maneira personalizada – assistentes inteligentes vão escolher as melhores opções, com base nas informações personalizadas dos clientes.
O Open Banking veio para ficar
Isso abre grandes oportunidades de concorrência entre fintechs e bancos de menor porte com os grandes bancos. Esse é o principal objetivo do Banco Central: eliminar os efeitos perversos da concentração de mercado sobre tarifas, taxas de juros e rendimentos de investimentos. Migrar empréstimos, financiamentos e investimentos será tão fácil como fazer a portabilidade de serviços de telecomunicações entre operadoras.
O Open Banking também permite a criação de aplicativos e modelos de negócios inovadores. Gerenciadores de finanças pessoais serão muito mais poderosos e automatizados. Varejistas poderão oferecer crédito em minutos, sem pedir documentos. Financiamentos e seguros poderão ser contratados instantaneamente na compra de veículos. Carteiras eletrônicas poderão escolher o melhor método de pagamento, usando inteligência artificial.
Gerenciadores de finanças mais sofisticados terão a capacidade de rebalancear seus investimentos de acordo com o comportamento do mercado, ou de encontrar empréstimos mais vantajosos para quitar os existentes. Isso poderá ser feito a partir de regras criadas por especialistas, ou por algoritmos de inteligência artificial.
Levará um tempo até a criação dos produtos mais sofisticados, e mais tempo ainda para que os consumidores confiem em aplicativos que gerenciem de maneira automática suas finanças. Mas isso tem o potencial de revolucionar a relação de forças entre os consumidores e as instituições financeiras, bem como entre os grandes bancos e seus competidores, como as fintechs. No fim, quem ganha é o consumidor.
* Marcelo Negrini é Chief Technology Officer na Lendico Brasil
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