Gwyneth Paltrow é uma celebridade com muitas competências: atriz, redatora, empreendedora e agora executiva bem-sucedida. Em 2008, a atriz vencedora do Oscar fundou a Goop e dedicou-se a a construir uma empresa e uma marca de estilo de vida com o compromisso de ajudar as mulheres a fazerem suas próprias escolhas, motivá-las a compartilhar suas trajetórias em todos os ângulos que caracterizam suas vidas – estilo, viagem, trabalho, alimentação e beleza e até bem-estar físico, mental e espiritual. O sucesso da Goop reduziu sensivelmente sua presença nos sets de filmagem, mas trouxe muitas compensações e realização pessoal. Para entender como essa transformação aconteceu, Gwyneth conversou com Poppy Harlow, âncora da CNN no SXSW.
A grande pergunta que as pessoas fazem para Gwyneth é: o que a tirou de sua zona de conforto para se arriscar em uma carreira completamente diferente da fama e dos holofotes do cinema? Ela responde que a mudança de carreira deve-se a um princípio pessoal: ter senso de humor em todos os momentos da vida. Segundo a atriz e empreendedora, o humor a ajuda a enfrentar controvérsias e identificar novas coisas para fazer. “Eu não estou mais nos 20 e nos 30. Amo estar com meus 46 anos e entender quem sou hoje e não me abalo com o que as pessoas possam pensar de mim hoje em dia. Me realizei também como mãe e tenho filhos incríveis”, afirma Gwyneth. Sua companhia a realiza, os desafios associados a empreender a completam e a motivam a fazer melhor todos os dias.
Poppy Harlow pergunta para a atriz sobre sua paternidade e como isso afeta sua personalidade. Ela perdeu o pai muito cedo e sua mãe foi quem a inspirou para seguir a carreira artística. “Minha mãe foi minha heroína e meu pai, meu mentor e devo aos dois ser o que sou hoje”. É perceptível que Gwyneth é uma pessoa simples, de grande humildade e que segue valores que a colocam no coração das pessoas comuns, elementos essenciais para empreendedores.
Depois de anos fazendo filme atrás de filme, conhecendo vários países do mundo, usufruindo da fama, ao ser mãe, algo a fez pensar que ela deveria estar presente na vida das crianças, ter um trabalho menos atribulado, que a deixasse longe da família. E então, veio a Goop. “Eu queria aprender um novo trabalho, algo que eu não sabia fazer, que me trazia perguntas que tinha medo de fazer. Fui ao Google pesquisar termos e conceitos. Enfim, sou uma líder de negócios bem vulnerável”, conta. E será que o mundo vê com bons olhos uma líder mulher e que não tem medo de se mostrar vulnerável? Gwyneth diz que essas vulnerabilidades a fizeram buscar algumas qualidades masculinas que a ajudam a lidar com essa limitação e a se tornar uma executiva melhor. Depois de sete anos à frente do negócio, ela contratou uma CEO para a empresa, alguém que pudesse olhar com mais propriedade para marketing, operações, eficiência.
“A empresa hoje está estruturada, tem um negócio que tem significado para o cliente, uma cultura sólida que espelha o nosso plano de negócios, uma fundação que garante o crescimento da empresa”, fala a executiva. Ela procura ser inspiradora para seus colaboradores, interagir com o máximo de gente possível no dia a dia, procurando evitar uma gestão “top down”, negativa. “Todos devem ser responsáveis pela cultura e devem ser tratados com respeito, compartilhar vitórias e derrotas, tentar fazer coisas significativas, mesmo pequenas que tragam resultados”, afirma.
Em sua trajetória, Gwyneth procurou diversos mentores, para que a ajudassem em diversos momentos. Brian Chesky, fundador do AirBnb foi um deles – cheio de energia, capaz de transmitir conhecimento sobre marketing, negócios, ideias – apontou. Por isso, a atriz julga-se uma pessoa de sorte, que teve a chance de conhecer pessoas incríveis que compartilharam conhecimento com ela para permitir que suas empreitadas fossem bem-sucedidas.
Um dos pilares do sucesso da Goop é o conteúdo. Ela se inspirou na Disney, na busca por criar conteúdos que sejam relevantes para os clientes. Em mais uma iniciativa, Gwyneth agora trabalha conteúdos para a Netflix, que julga uma plataforma disruptiva, elaborando uma série de seis episódios.
Gwyneth também comentou sobre seu incômodo com o Facebook. Como plataforma social, ela nunca a utilizou, mas a forma pouco transparente com que a rede social muda seu algoritmo, consumindo cada vez mais recursos para gerar o mesmo resultado. “Qual é o valor do consumidor, o custo de aquisição do cliente? Temos todas as métricas e seguimos um plano que repentinamente é modificado por conta de uma mudança crítica no algoritmo”, comenta. Por isso, a executiva defendeu a mudança de estratégia e a Goop passou a usar mais o Instagram e vem conseguindo obter crescimento orgânico expressivo.
Um fato curioso foi que um certo dia, Jeff Bezos, da Amazon a convidou para conversar. Ela conta que sempre foi fascinada por ele e pela notável competência da Amazon. E o que aconteceu depois da conversa? “Nada”, conta a atriz, sorrindo. Simplesmente ele nunca mais retornou. Apesar disso, a Goop cresce de maneira sustentável e sólida. A empresa já tem mais de 25% dos clientes fora dos EUA e operações na índia, no Canadá e na Europa.
Gwyneth está empenhado em fazer da Goop uma companhia continuamente melhor: “somos jovens, estamos nos ajustando a regulações, aprendendo a entender o poder que nossa influência tem, o alcance que temos. Queremos vender bons produtos que ajudam mulheres, que mobilizam pequenas empreendedoras, que têm nossa ajuda nas questões legais para crescer e tocar seus pequenos negócios”. Ela sabe que está fazendo e construindo. Um negócio relevante, que se preocupa até mesmo com o bem-estar sexual das clientes. Parece controverso, mas ao mesmo tempo, a saúde sexual das mulheres importa. Outra controvérsia seria a possível venda de produtos ligados à economia da canabis, mas a executiva prefere aguardar uma resposta legal mais sólida antes de investir nesse segmento, apesar de reconhecer o tamanho do mercado.
E será que a Goop pode lançar uma extensão para homens? “Por enquanto, não”, afirma Gwyneth. “Temos que manter nosso foco”.