Se as NFTs são um assunto estranho a muitos, pode ser que esta nova cultura das autenticações digitais fique mais clara conforme mais e mais artistas e esportistas anunciam lançamentos e leilões com elas.
Na indústria da música nacional, estrelas como Pablo Vittar e Supla já deram sinais de estarem trabalhando em projetos com NFTs. Em outros países grandes bandas já leiloaram os direitos autorais de um álbum inteiro. Pintores, escultores e criadores de arte em geral estão enxergando cada vez mais valor no token criptográfico.
E não para por aí. No esporte, até a NBA está na jogada.
Mas, afinal, qual o motivo? Por que artistas querem vender vídeos, imagens e canções usando NFT? Por que o astro Michael Jordan é investidor da plataforma de NFT da NBA?
Para responder a estas perguntas, nada melhor que entender a lógica por trás dessa tecnologia e as perspectivas de futuro que alimentam este hype.
Blockchain e NFTs
O blockchain é a tecnologia de funcionamento das NFTs. O sistema de blocos permite que informações sejam conectadas entre si e registradas. Por estarem acorrentadas, é possível rastrear o envio e recebimento de informações, mas é praticamente impossível mudar uma informação – pois isso exigiria mudar praticamente toda a cadeia.
Enquanto certos ativos podem ser trocados por ativos de mesma grandeza, as NTFs não. Com o dinheiro, é possível trocar uma nota de R$ 10 por duas de R$ 5 porque dá na mesma. Essa capacidade que o dinheiro e outros ativos têm de serem trocados ou substituídos por outros parecidos com o mesmo valor é a sua fungibilidade. As NFTs – Non-Fungible Token – são tokens não fungíveis – se referem a ativos digitais irrepetíveis, como explica o cofundador da consultoria de negócios esportivos Outfield Pedro Oliveira. “A partir da tecnologia de blockchain, eu atribuo ele (NTF) a um bem e vendo como um ativo único.”
Ao registrar informações de quem tem o ativo, quem vendeu e quando vendeu, as NFTs conferem unicidade e autenticidade ao ativo, corrigindo um problema digital que há muito tempo faz parte da vida dos criadores na internet: a falta de direito sobre a propriedade.
Ctrl C, Ctrl V
Os maiores leilões de obras de artes com artistas ainda vivos aconteceram com NFTs: o “Retrato de um Artista”, de David Hockney, vendido por US$ 90 milhões em 2018; “O Coelho”, de Jeff Koons, vendido por US$ 91 milhões em 2019; e a obra “Os Primeiros 5 mil Dias de Beeple”, por US$ 69 milhões. Nesta última, o artista criou uma obra de arte todos os dias por 14 anos desde 2007 e atribuiu uma NFT à colagem, que não existe fisicamente. Para ver a imagem, basta uma busca na web.
Mas se é só dar um Google e ver a imagem, qual é a lógica de se ter uma NFT e pagar tão caro por ela?
“O maior valor de qualquer manifestação artística está no fato da sociedade poder interagir com ela e da experiência individual que ela traz para nós. Mas também tem o outro lado dessa equação, que está focado na escassez, no investimento em ativos ilíquidos (obras de arte), mas que retém seu valor ou valorizam ao longo do tempo”, observa Oliveira. Assim, por ser única, a NFT autentica o direito de propriedade, a portabilidade e a escassez de um ativo. Em outras palavras, todos poderiam ouvir as músicas do Beatles, mas Michael Jackson era o dono (da maioria) delas. Hoje, todos podem ver “Os Primeiros 5 mil Dias de Beeple”, mas apenas o dono detém a obra.
Recentemente, a banda Kings of Leon vendeu seu novo álbum “Quando Você se Vê” como NFT por US$ 2 milhões, dando os direitos autorais aos compradores. Além disso, os fãs terão ingresso vitalício na primeira fila de todos os shows da banda.
Um futuro de NFTs
Nos últimos anos, diversas indústrias viram seus ativos físicos serem substituídos por seu correspondente digital. O e-commerce é a desmaterialização do varejo. Os antigos MP3 e hoje streaming de música são a desmaterialização dos CDs, o streaming de vídeo a desmaterialização dos DVDs, os sites de busca a desmaterialização das bibliotecas, os apps de videoconferência a desmaterialização das reuniões, os websites a desmaterialização dos jornais e o Bitcoin está desmaterializando o ouro.
O NFT é um passo no sentido da desmaterialização nas artes e nos esportes.
“Esses itens que são colecionáveis têm um valor intrínseco enorme. Sports cards nos EUA, por exemplo, valorizaram mais que a bolsa de valores na última década. E os NFTs, por serem descentralizados, únicos e em cima de uma criação, são uma camada a mais para a monetização dessas criações artísticas. Isso é ótimo para todos os produtores de propriedade intelectual, como artistas, atletas, celebridades, criadores de conteúdo e influenciadores, pois cria uma nova fonte de receitas”, explica Oliveira.
No esporte e no universo dos games, além de geração de receita, as NFTs são vistas como um incentivo para a digitalização massiva de produtos, serviços e conteúdos, acrescenta o fundador da OutField. “Já há exemplos como a plataforma de NFT NBA Top Shot, na qual as pessoas podem adquirir clips digitais de melhores momentos. Recentemente, um clip do Lebron James foi vendido por US$ 200 mil. E aí começa até a se formar um mercado secundário, pois, uma vez que você tem a posse da NFT, você pode vendê-la também”, observa o executivo.
Acredita-se que no futuro as NFTs sejam cada vez mais usadas para autenticação de documentos, domínios de sites – tornando-os incensuráveis em blockchain -, conteúdos virtuais – como tweets e memes -, vinhos, imóveis, ingressos e tudo que é único, valioso e digitalizável. Além disso, as NFTs podem servir de colateral em empréstimos com criptomoedas e nada impede de surgir outras formas de criar valor com este mecanismo.
É uma novidade que todo o mercado precisa estar atento.
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