Vai chegando o fim do ano e tudo o que se quer saber são as tendências do que vem a seguir nos mercados, certo? E falando de 2020, um furacão varreu o mundo como conhecíamos antes da pandemia de Covid-19. São essas análises que estão presentes no relatório Culture Next, divulgado pela plataforma de streaming Spotify e focada no comportamento de consumo e na atitude social da Geração Z, em especial. Vale lembrar que a chamada GenZ é aquela com pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010.
Como muitos analistas de mercado e de comportamento vêm enfatizando, a pandemia acelerou mudanças de comportamento, no campo profissional e também de relacionamento entre as pessoas. Todos precisaram se adaptar às turbulências econômicas e sanitárias que atingiram o mundo. Mas como essa parcela mais jovem da população, que também é consumidora, está lidando com isso? É o que o relatório vem apontar, olhando, claro, para a sua seara – que é a do conteúdo em áudio.
Uma parte das entrevistas e análises foi feita com 5500 pessoas, em lugares mutio distintos entre si, como Brasil, Austrália, Indonésia e Estados Unidos. Confira alguns destaques principais:
GenZ: reconstruir a sociedade do zero
Sim, esse é um desejo dos jovens até 25 anos. Diante de um mundo complexo, confuso e poluído, muita gente não vê mais sentido sequer em continuar com as estruturas do jeito que elas estão. “A geração Z está reconsiderando a faculdade: 1 em cada 3 pode não cursar o ensino superior. Eles estão repensando a força de trabalho: 65% planejam ser (ou já são) seu próprio chefe”, mostra o estudo.
Além disso, o surgimento de aulas virtuais durante a pandemia apenas promoveu debates sobre o valor das mensalidades e os custos divergentes entre as faculdades. Outros dados reforçam essa vontade de construir tudo novo: no Brasil, por exemplo, “quase metade dos jovens entrevistados disse que as gerações mais velhas não podem atuar como guias para a idade adulta porque o mundo mudou muito”. É a mentalidade do “faça você mesmo” chegando firme e forte.
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Criativos e independentes
Entre as informações de destaque no material, está a de que, entre os brasileiros entrevistados, cerca de 70% pensavam em começar o próprio negócio. Até porque, a maioria também tem grandes suspeitas de como funcionam as grandes e tradicionais instituições. Além disso, muitos deles viram os pais perderem o emprego com a crise de 2008, que começou em solo norte-americano, mas se espalhou para boa parte do mundo.
“A nossa geração tem uma mente mais independente”, diz Kix, de 18 anos, que vive em Atlanta, nos EUA, onde abriu uma marca de camisetas com um amigo. “Estamos mais interessados em empreendedorismo e não em trabalhar para outra pessoa”, reforça. E o fato de ter tantas plataformas tecnológicas à disposição faz com que se possa aprender de tudo, ainda que não tão profundamente, e ser criativo, testar, começar. “Como disse Davi, 25 anos, um jovem cineasta em São Paulo, é nas redes sociais que ‘consigo referências para o trabalho, posso saber o que meus amigos estão fazendo, me mantenho atualizado e descubro coisas novas'”.
A relação com o áudio
A gente já vem falando por aqui, na Consumidor Moderno, sobre a importância do mercado de podcasts e áudios, em geral. Chegando na seara de atuação do Spotify, há um grande mapeamento de como a GenZ e também os millennials lidam com conteúdos em áudio. A primeira informação aqui é a de que podcasts se tornaram uma forma de reunir a família, inclusive quando há crianças na casa. Segundo dados da plataforma, em 2019, o Spotify teve um salto de 263% no consumo de podcasts para crianças e famílias ouvidos por meio de smart speakers.
De acordo com o estudo, “O áudio não é útil apenas em casa, é um ponto de contato de várias gerações, e hoje isso significa muito. Em julho, quando perguntamos às gerações Z e millennials qual tema central diz mais sobre sua vida agora, a principal resposta foi ‘família’ por uma ampla margem”.
Mais adiante no relatório, os entrevistados mostram como a relação com o áudio é a mais confortável, no momento, diante de tantas inovações tecnológicas: “Os podcasts me estimulam da mesma forma que normalmente acontece ao lermos um livro”, diz Stephanie, de 32 anos, moradora de São Francisco, nos EUA. Tanto que a medida que o distanciamento social recrudesceu em diversos países, os podcasts de aprimoramento pessoal subiram no ranking dos mais procurados.
Autodescoberta e comunidade
É reconfortante verificar que para boa parte dos mais jovens o conceito de comunidade, de estar entre outras pessoas, é muito valorizado. É o contrário do movimento individualista e consumista que marcou começo dos século 21. “O conceito de autodescoberta não é exclusivo dessas gerações, mas está acontecendo de forma diferente graças ao acesso e conectividade que a tecnologia oferece”, explica o relatório.
“Com nossa pesquisa, descobrimos que os jovens estão cada vez mais formando identidades com base em interesses específicos e se conectando com outros que compartilham esses gostos no mundo todo. 79% dos jovens e jovens adultos brasileiros disseram que é muito mais fácil se sentir conectado a uma comunidade hoje graças às plataformas digitais”, completa.
Ser considerado “estranho” não é mais uma coisa negativa. Os “estranhos” se encontram e viram suas próprias comunidades. Só no Spotify, por exemplo, há 4.028 microgêneros entre os conteúdos apresentados pela plataforma. Ou seja, de fato ficou muito mais fácil encontrar alguém que tenha afinidade com algum interesse particular. Um dos acontecimentos marcantes que vieram com a pandemia foi a criação de playlists abertas, entre amigos, que ficavam “mais próximos” uns dos outros desta forma, já que a mobilidade estava suspensa.
O relatório completo possui 26 páginas e traz mais insights relacionados ao comportamento dos jovens em relação à política e ao uso da tecnologia. Entre as conclusões apresentadas pelo material do Spotify está a de que, mesmo em um ano com mudanças dramáticas e incertezas, os entrevistados estão em busca de tornar a sociedade mais inclusiva e justa. E, para isso, devem reescrever suas próprias regras sociais e culturais.