O dia 13 de março – tanto para quem concorda quanto para quem discorda – foi histórico. Quem esteve na Avenida Paulista percebeu – independente do que tenham dito o DataFolha, os organizadores ou a Polícia Militar – que os brasileiros descobriram que a democracia serve também para dar opinião e ocupar as ruas. Não havia para onde correr – e era impossível correr. Às 15h30 da tarde, na região da rua Pamplona, a avenida mais paulista da cidade parecia a estação da Sé às 18h30.
Sou filiada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), mas já fui muito mais engajada na vida política. Fui à manifestação não para me manifestar de fato, mas para ver com meus próprios olhos. Apesar de ser historicamente tucana, tenho muitos amigos de outros partidos e de outras vertentes ideológicas. Assim, já ouvi que as manifestações que estão ocorrendo no Brasil desde a eleição de 2014 são “golpe”, mas já ouvi que são o que há demais democrático no país. Jornalista que sou, fui verificar.
Um fato me preocupou: pessoas pedindo intervenção ou qualquer coisa do tipo. Não vivi a ditadura, mas amo a democracia, o direito de expressão, a possibilidade de gritar o que eu quiser no meio da rua, de votar, de odiar o presidente etc.
Porém, de uma maneira geral, a manifestação me pareceu pacífica. Pessoas trombavam umas nas outras e pediam desculpas! Achei fascinante. Também fui para as ruas em 2013, quando o MPL começou um movimento contra o aumento das passagens. Como foi dito naquela época, não eram “só 20 centavos”. Não eram, de fato.
Fui para as ruas de novo em 2014. Ajudei a bloquear a Paulista em um ato pró-Aécio. Podem perguntar: “mas você gosta do Aécio?”. Se pudesse escolher, não optaria por ele como candidato do meu partido à presidência – tenho preferência por outros quadros do partido, mas não cabe entrar nessa questão.
Ainda assim, não queria Dilma presidente. Preferia o meu candidato. Então, fui para as ruas, me emocionei, pedi votos, vesti (com orgulho) as cores azul e amarela – que, além de estarem na bandeira do Brasil, são as cores do PSDB. Fiz minha parte: lutei contra a eleição de Dilma não apenas dizendo que “não gosto do PT porque ele é corrupto”, mas ofereci às pessoas uma alternativa de poder.
Digo isso para afirmar que, naquele domingo, com certeza presenciei um momento histórico do Brasil. Mas, assumo uma postura old power para perguntar: o que vem depois? Se tirarmos a Dilma, o que vamos fazer depois? Se forem convocadas eleições, quem ganha?
Alternativa para o país
O Brasil está em uma situação difícil. Os jovens, então, estão amarrados em uma condição muito complicada. Já sabemos – o estudo de capa da edição de março da Consumidor Moderno mostrará – que os mais novos não estão interessados em partidos políticos. Ao mesmo tempo, o Judiciário ganha confiança – e é ele quem garante a existência e manutenção do processo democrático hoje.
O meu ponto – de quem adora política – é: não adianta nos revoltarmos com o sistema todo sem entender como ele funciona. Eu fui para as ruas pedir voto para a oposição não apenas porque sou filiada ao partido, mas também porque entendo que, dentro do processo democrático, essa é a forma mais fácil de tirar um partido do governo.
Se forem comprovadas falcatruas da presidente, considero que o impeachment será justo e legítimo. E depois que ela sair as opções não são tão boas: ou teremos Michel Temer até 2018 ou novas eleições no ano que vem – com sei lá quem concorrendo. Tirar o PT – embora eu também não goste deles e também não queira vê-los eleitos nunca mais – não resolve todos os problemas do Brasil.
Mas, a indignação é legítima. A confiança no Judiciário também. Disso tudo, concluo que precisamos de novas lideranças, com urgência. A política brasileira faliu, simplesmente. E as novas gerações não querem saber do velho poder. O que faremos? Eu também não sei.
Hoje, o ativo “confiança” não existe no poder público. Agora, esse valor está restrito ao Judiciário. Dos três poderes, esse é o mais confiável. E se não surgirem pessoas novas e confiáveis, não sei para onde poderemos correr para segurar a democracia e a qualidade dela.
*O artigo reflete apenas a opinião da repórter e não tem qualquer ligação com a posição dos veículos do Grupo Padrão