Quem diria que até o FOMO (sigla para o termo “fear of missing out”, em inglês, ou “medo de estar por fora”, em português) sofreria impacto com a chegada da Covid-19. Mas é exatamente isso que aconteceu por conta das alterações de vida impostas pelas restrições de mobilidade e de convivência social. Em outras palavras, ao olhar as fotos dos anos passados, encarar feriados e comemorações solitárias para aniversários ou datas especiais, entre outras coisas, o sentimento geral é de melancolia e perda. O “novo” FOMO é esse medo de perder oportunidades para viver coisas que seriam importantes na vida – e nunca mais recuperá-las.
Talvez você não tenha percebido essa sensação com mais clareza até ler essa matéria. Ou até entender que, provavelmente, ainda não será em 2021 que a vida social voltará minimamente ao “normal” sem inspirar riscos de contaminação. Se esse sentimento de ansiedade anda rondando – e você segue com o pensamento no que poderia fazer ou viver, mas não poderá – vale acompanhar o que diz um especialista no assunto.
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Alexander Bez, psicólogo especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), na Flórida explica como lidar com esse tipo de FOMO. Ele também é um expert em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA). Acompanhe os highlights:
Sentimento de perda
É normal se sentir melancólico ou ter um sentimento de perda por não ter vivido atividades ou eventos sociais por conta da Covid-19? A resposta para essa pergunta é sim. “Esses sentimentos, de perda, tristeza e angústia são manifestações normais diante do mundo em que estamos vivendo, não podemos nos culpar por essas emoções, apenas não podemos deixar que isso tome conta de toda a nossa vida”, explica Alexandre Bez.
“A pandemia da Covid-19 gerou diversas restrições nas relações interpessoais. O FOMO é um termo que existe há muitos anos, mas ganhou mais força com as redes sociais e mais ainda durante o período pandêmico. O período de quarentena e as restrições da pandemia elevaram essa sensação de ‘estar de fora’, de estar perdendo algo.”
Ansiedade x FOMO
De acordo com o psicólogo, a pandemia evidenciou uma outra nomenclatura – além da FOMO: “Trata-se da ‘Ansiedade Especificamente Pandêmica’, que pode exercer um efeito negativo sobre o medo, potencializando os dois sentimentos”, explica Bez.
Para ele, algumas pessoas adquiriram o FOMO, “enquanto outras não desenvolveram essa síndrome, mas sim uma ansiedade especificamente pandêmica, um sentimento de necessidade de que tudo acabe rápido”. Muita gente deve estar se reconhecendo nisso, certo? Pois o médico continua: “Com as restrições por conta da pandemia, a ansiedade comum, presente em boa parte das pessoas, ganhou também o sentimento de culpa por estar perdendo a vida social e os eventos que antes aconteciam, com isso a ansiedade comum se ampliou”, conta.
Como lidar com essa sensação?
“Um dos primeiros passos que devemos dar é na compreensão dos motivos pelos quais estamos com a vida social ainda muito restrita. Temos que compreender que as restrições são necessárias por uma questão de saúde mundial. Ao ter essa compreensão, de que é algo necessário para um bem maior, os efeitos de frustração por conta da reclusão e os sentimentos de estar perdendo algo acabam cessando”, aponta o psicólogo Alexander Bez.
Claro que tudo isso acontece por um motivo – que é o de sermos seres altamente sociáveis. “A falta de contato com as pessoas, uma rotina coletiva, pode causar exatamente uma ansiedade maior ainda por não estar vivendo uma vida que antes considerávamos como normal”, afirma.
Valorize o momento presente
“Um dos pontos que precisamos ter com a nossa própria mente é apreciar mais aquilo que podemos fazer, mesmo que ainda com diversas restrições, por conta da pandemia, já é um ótimo começo”, indica o psicólogo. Essa seria uma forma de passar a valorizar os momentos atuais ao invés de focar no que não foi vivido.
“Perceber e se atentar mais para a realidade a qual estamos vivendo é outra possibilidade para diminuir as manifestações da ansiedade pandêmica. A compreensão é de extrema importância para não cair na armadilha da FOMO” , conta.
Relacionar-se é importante
Quando o assunto é focar especificamente nos benefícios de se relacionar com outras pessoas – principalmente para a nossa saúde mental – ficou claro que precisamos dar mais atenção a essa parte da vida. Algo que só foi percebido com a chegada da pandemia. “O ser humano é fundamentalmente, um ser social-relacional. O ato de se relacionar com outras pessoas, faz bem à alma e a toda a dimensão do trato psicoemocional. É uma condição natural inerente à nossa existência. Para a saúde mental, uma das partes fundamentais dos relacionamentos é a troca de sentimentos e pensamentos, proporcionando um suporte emocional para nós”, explica ele.
“Ao ficarmos confinados, sofremos com a falta do contato e das interações físicas. Ainda que possamos nos relacionar virtualmente, através das mídias sociais, os laços sentimentais estabelecidos no mundo real não são os mesmos do mundo virtual”, afirma Benz.
“Por conta de um período em que as relações interpessoais ficaram muito distantes, quando voltarmos a um momento perto do que considerávamos antes como ‘normal’, a perspectiva é que se valorizem mais os momentos sociais. A tendência é que a afetividade passe a ganhar um valor maior”, finaliza.
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