Não há dúvidas de que a pandemia afetou as relações de trabalho entre empresa e colaborador. Enquanto alguns profissionais sentem a falta do ambiente do escritório, outros dão preferência ao trabalho remoto. O fato é que novas prioridades estão surgindo, e as empresas precisam estar atentas a isso.
De acordo com a Pesquisa Home Office Brasil 2020, realizada pela SAP Consultoria, que trabalha com recursos humanos, em parceria com a SOBRATT (Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades), as maiores dificuldades encontradas pelas empresas durante a implantação do teletrabalho durante a pandemia foram a experiência do home office, seguidas pela falta de equipamentos e ferramentas de trabalho e de políticas e procedimentos.
Por outro lado, os maiores benefícios apontados pelas empresas foram a redução na manutenção do custo do prédio, seguidos por maior produtividade e menor absenteísmo.
Mas, pela perspectiva dos profissionais, a transição entre o trabalho presencial e o home office também fez com que surgissem diversos desafios.
Na pesquisa “Os Erros e Acertos do Home Office Durante a Pandemia”, realizada pelo SocialBase em parceria com o RH Pra Você, para 70% dos respondentes, o modelo de home office é uma novidade, evidenciando que boa parte das empresas adotaram a modalidade sem experiência prévia.
Nesse contexto, 72% das empresas não realizaram nenhum treinamento para alinhar e capacitar os colaboradores como forma de garantir que o home office seria adotado sem prejudicar a produtividade ou o bem-estar.
Novas prioridades impulsionadas pelo novo modo de trabalho
Entre as novas prioridades dos trabalhadores, a flexibilidade, principalmente em momentos complexos como o da atual pandemia, é importante. A etiqueta corporativa precisa levar em consideração que os modelos de trabalho e jornadas serão cada vez mais divididos entre presencial e à distância, e as equipes precisam ser medidas pelos resultados mais do que pelas horas a fio trabalhadas.
Para a publicitária com especialização em coaching, Neemat Eid, co-fundadora e gerente de marketing da Agência ICB, uma tendência de prioridade do funcionário de hoje é um modelo híbrido de trabalho.
“Acredito que os trabalhadores passarão a valorizar a possibilidade de escolher quando trabalhar no escritório e quando não, apenas se deslocando em caso de necessidade. Claro que como todo modelo, não será perfeito, mas em geral, saber que seu trabalho pode ser feito de qualquer lugar é um ganho para os colaboradores em geral”, pontua a publicitária.
Ainda de acordo com a pesquisa da SocialBase, pelo menos 96% dos entrevistados estão aptos a aderir a um modelo de trabalho híbrido em um cenário de normalidade. Um fenômeno que Neemat Aid entende mais como relacional do que profissional.
“As pessoas têm sentido falta do ambiente do escritório, mas não, necessariamente, em trabalhar no escritório, e eu entendo que aqui a falta é da interação entre pessoas, a hora de almoço, happy hour, cafezinhos. Mas, aguardemos para avaliar melhor o desenrolar”, reflete a gerente de marketing.
Mas, além da adaptação repentina por uma nova forma de trabalho, os trabalhadores tiveram que enfrentar todos os efeitos que essa mudança acarretaria. Segundo um relatório do ADP Research Institute, isso inclui:
- Promoções colocadas em espera;
- Demissões;
- Dispensas temporárias;
- Maior uso de tecnologia;
- Mais horas de trabalho;
- Trabalho alterado para ser principalmente virtual.
Sendo assim, os trabalhadores que experimentaram essas mudanças tornaram-se muito mais resilientes, despertando para uma nova realidade na relação com o trabalho, gerando novas prioridades que afetam não só sua produtividade, mas sua saúde mental e bem-estar como um todo.
Afinal, quais são esses desejos?
Em meio a tantas mudanças e quebra de paradigmas, uma coisa é certa – a crise ocasionada pelo coronavírus está sendo um catalisador para um novo futuro do trabalho, mais flexível, diversificado e voltado para o bem-estar.
Pensando nisso, o ManpowerGroup perguntou a mais de 8 mil pessoas sobre o futuro do trabalho, e descobriu que 8 em cada 10 trabalhadores querem mais equilíbrio entre vida profissional e família no futuro.
Sentimentos de isolamento, estresse, medo e ansiedade serão um legado da Covid-19, bem como as reflexões sobre o valor da saúde, do bem-estar, da família e da comunidade.
Por isso, será necessário priorizar o bem-estar emocional e a empatia com a mesma importância que as empresas hoje estão adotando as medidas físicas de contenção da propagação do vírus, como uso do álcool gel e distanciamento.
Esse olhar mais cuidadoso para as emoções dos colaboradores vai assegurar que as pessoas se sintam mais confiantes e produtivas. Outro ponto importante para isso será a questão do propósito. Hoje as pessoas preferem trabalhar em empresas que compactuam com seus valores. O desejo é de sentir que está colaborando de alguma forma com o que acredita.
O olhar das empresas
Na opinião de Neemat Eid, para se adaptar a esse novo cenário e às novas prioridades dos funcionários, as empresas precisam estar atentas e preparar aquelas pessoas que ainda não se acostumaram com esse modelo híbrido de trabalho, estabelecendo regras até todo mundo se acostumar com o novo cenário.
“Trabalhar de casa não significa trabalhar 12h, 15h ou mais horas. É uma mudança cultural, principalmente no Brasil, e como toda mudança ela precisa ser explicada enquanto é aplicada. Treinamentos, horários, conscientização de gestores e subordinados, tudo isso precisa estar em pauta. Quando há regras claras no jogo, as possibilidades de penalidades acabam sendo minimizadas”, esclarece.