Os cartões private label não bandeirados são marca registrada do varejo de moda brasileiro. É comum ouvir o convite: “vamos fazer o cartão da loja” acompanhado da explicação de todas as condições especiais de parcelamento, descontos e, claro, acesso a crédito. Supermercadistas também usam amplamente a solução que foi criada para pessoas de baixa renda. É justamente no crédito que os varejistas concedem aos consumidores que uma empresa de tecnologia em meios de pagamento identificou uma oportunidade.
A Merci percebeu que grande parte do crédito liberado não era usada já que o cliente só pode usar o cartão da loja para comprar em um estabelecimento da rede. Para resolver o problema, a empresa criou uma carteira digital que permite ao consumidor usar um cartão private label em outros estabelecimentos, sejam varejistas ou prestadores de serviço.
Como funciona
Batizada de Merci, a solução pode agrupar o crédito que o consumidor recebeu de vários varejistas na plataforma. Ao usar a carteira digital, o consumidor pode utilizar o montante em vários estabelecimentos como Netflix, Uber e Spotify. “A Merci nasceu com o propósito de inclusão. O primeiro movimento é em direção ao cartão de loja que é, por essência, um cartão pensado para uma população de uma classe social mais baixa”, diz Pedro Milanez, fundador da Merci.
Para usar a ferramenta, o consumidor faz um cadastro e registra seus cartões na plataforma. No sistema, ele pode transferir R$ 100 para usar no Uber, por exemplo, ou pode realizar o pagamento em estabelecimentos físicos via código gerado pela Merci, sem a necessidade de transferir seus créditos previamente.
Vantagens para o varejo
A Merci vem fechando parceria com varejistas para escalar a solução. Uma vez que a emissora adere ao programa pode escolher onde o crédito que liberou a seus clientes será aceito e quanto o cliente poderá gastar fora de sua loja. Quando o consumidor usa o crédito fora da rede a compra aparece na fatura do cartão como qualquer outro gasto dentro da loja.
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A cada transação mediada pela Merci, o varejista é remunerado. A empresa não abre quanto é repassado a cada transação. “Ajudamos o varejista a criar um produto financeiro novo. Trazemos uma linha receita para o varejista que muitas vezes ele não possui”, explica Milanez.
Para Milanez, outra vantagem para o varejo é aumentar a frequência na loja física, já que o cliente pode usar o cartão exclusivamente em razão do crédito aberto a outros estabelecimentos e o pagamento da fatura é feito, na maioria das vezes, nas lojas físicas.
Risco da operação
Como emissor do cartão, o varejista continua assumindo todos os riscos da concessão de crédito para o consumidor. A carteira digital não garante o fim do risco de inadimplência, mas cria alguns dispositivos para diminuir o perigo. A solução dá ao emissor o controle de quanto será liberado para o consumidor gastar fora de sua loja e ainda quais estabelecimentos serão elegíveis para pagamento com a Merci. Outra funcionalidade é ajudar o varejista a entender seu consumidor, uma vez que consegue mapear hábitos de consumo fora da rede.
Expansão
A rede de supermercados paulista D’avó, a Oscar Calçados, que tem forte presença no Vale do Paraíba, em São Paulo e a fintech de concessão de crédito FortBrasil já são parceiros da Merci no projeto. Milanez conta que outros três varejistas estão testando o sistema. “Projetamos em torno de 20 a 25 emissores cadastrados na plataforma (até o fim de 2019) e, se tudo der certo, em torno de 500 mil usuários ativos transacionando, mas com potencial de alcançar 5 milhões de consumidores”, explica o fundador da Merci.
Para justificar a projeção de impacto dez vezes maior, Milanez explica que os varejistas possuem uma base de consumidores inativos muito grande. São pessoas que conseguiram crédito e usaram o cartão apenas algumas vezes. “Um dos princípios da Merci para ajudar o varejista é fazer esse inativo se tornar um usuário ativo”, diz.