/
/
No bricks, no bits: it’s data

No bricks, no bits: it’s data

Nada de tijolo, nada de bits: somente dados. Essa é a mensagem central da NRF. Reinventar o negócio vai além de juntar o físico com o digital

James Carville, nos idos dos anos 90, trabalhando com Bill Clinton, definiu a campanha vitoriosa do democrata à presidência por meio do princípio KISS – Keep it Simple, Stupid (Deixe simples, estúpido), com uma adaptação aguda para a época: “É a economia, estúpido”. Usar princípios normalmente é uma ferramenta poderosa para orientar discurso e engajar pessoas. Pois bem: após mais uma edição da NRF, o centenário e robusto evento varejista que acontece em Nova York no gelado mês de janeiro, trazemos um insight. Um e apenas um, só que emblemático: no bricks, no bits: only data. Ou seja, nada de tijolo, nada de bits: somente dados.

Mas o leitor mais atento pode perguntar: “mas os dados não são essencialmente bits?”. Aí é que está a pegadinha. As empresas sabem que precisam mudar rapidamente e que transformação digital é inevitável e para isso é preciso “reinventar o negócio”, como se “reinventar” fosse uma tarefa simples. Tornar uma empresa digital não se caracteriza por abrir canais eletrônicos ou investir em tecnologias mirabolantes. É adequar a tecnologia possível, madura, de conceito escalável e universal à proposta de valor que possa fazer frente a esse mercado mutante, veloz, acelerado. O varejo não se faz nos bits do e-commerce ou nos bricks das lojas físicas, mas sim na lógica dos dados. O executivo varejista foi condicionado a pensar nas médias, na barriga da curva de Gauss, sem olhar para os extremos, onde estão os pontos de ruptura e os pontos de captura – de negócios e de clientes.

Bits produzem dados, informação. Mas o que fazer com os dados, como interpretar, estruturar, coletar e utilizar dados para realmente apoiar as decisões de negócio, enfim, tomar decisões melhores. Adotar os dados como fundamento das decisões significa remodelar a gestão, desidratar o poder do achismo, da experiência prévia, da tradição que sempre deu guarida para o conservadorismo. Quando vejo um varejista afirmar que seu negócio “não está na internet”, não penso que ele está certo ou errado ou que chegou de Marte recentemente. O que me interessa é que essa empresa será vítima do princípio GERE: Gradualmente e Então Repentinamente, Exponencialmente.

A disrupção nunca vem como um trem atravessando as portas da loja, ou arrebentando a sala de reunião. Ela começa com um pequeno incômodo, quase imperceptível, uma impressão com a qual a gente aprende a conviver. Repentinamente, a impressão torna-se onda e depois tsunami e depois seu negócio foi simplesmente varrido do mercado, do mapa e até da história. Talvez não seja nem nota de rodapé nos cases de negação ou de falhas contundentes na gestão nas escolas de negócios.

E o que isso tudo significa? Que o seu negócio está fadado a morrer, claro. Todo negócio morre um dia, mas nossa função, como líderes, é protelar esse fim o máximo possível, ganhando o direito de sobreviver por mais tempo. E para isso, o negócio precisa ser redefinido, de fora para dentro, do cliente para a empresa, inserido em um ecossistema. A má notícia é que provavelmente nenhuma empresa varejista existente – salvo nativas digitais recentes e a Amazon – tem competências para isso. Redirecionar a empresa para um modelo “fora para dentro” (outside-in) é tirar a intuição da equação, dotar a liderança de humildade para ceder ao poder dos dados. Os dados poderão dizer qual é o consumidor que está no centro, como acompanhar cada etapa de sua jornada, como a loja deve ser, onde deve ser, que merchandising deve ter, como se comunicar, que horas deve estar aberta, se deve ser loja ou simplesmente um show room, quem deve ser contratado para qual função, se as margens são saudáveis, se o negócio deve ser mais on-line, mais off line, mais all line, ou simultâneo (a resposta aqui normalmente demanda empresas que sejam realmente simultâneas – digital em qualquer canal, sem diferenças entre eles). E como captar esses dados para saber quem entra e quem compra e não quantos entram na loja e qual a média de conversão? É aí que cada empresa precisa definir sua agenda, clarificar a proposta de valor, para então procurar a base tecnológica mais adequada para atender à agenda.

Sem dados, quando a disrupção atingir a sua empresa – e, acredite, como o Uber que você chama, a disrupção chega – ela será atropelada e não saberá reagir na velocidade necessária. Terá a sensação de estar flanando como uma bandeira de chegada em prova de Fórmula-1. Fica em movimento, não sai do lugar e vê concorrência e o mundo passar a 330 km/h. Portanto, pule a etapa em que você questiona se o e-commerce “dá dinheiro”, se a etiqueta inteligente vem antes do CRM e que as pessoas farão a diferença. Sua tarefa urgente é conscientizar a empresa de que os dados devem orientar a decisão e que somente assim será possível trazer o cliente para o centro do negócio e desenvolver capacidades e habilidades para inovar e reinventar o negócio.

Data first. O resto são apenas palavras para as lápides.

Compartilhe essa notícia:

WhatsApp
X
LinkedIn
Facebook
Email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recomendadas

MAIS MATÉRIAS

SUMÁRIO – Edição 290

A evolução do consumidor traz uma série de desafios inéditos, inclusive para os modelos de gestão corporativa. A Consumidor Moderno tornou-se especialista em entender essas mutações e identificar tendências. Como um ecossistema de conteúdo multiplataforma, temos o inabalável compromisso de traduzir essa expertise para o mundo empresarial assimilar a importância da inserção do consumidor no centro de suas decisões e estratégias.

A busca incansável da excelência e a inovação como essência fomentam nosso espírito questionador, movido pela adrenalina de desafiar e superar limites – sempre com integridade.

Esses são os valores que nos impulsionam a explorar continuamente as melhores práticas para o desenho de uma experiência do cliente fluida e memorável, no Brasil e no mundo.

A IA chega para acelerar e exponencializar os negócios e seus processos. Mas o CX é para sempre, e fará a diferença nas relações com os clientes.

CAPA: Rhauan Porfirio e Camila Nascimento
IMAGEM: Adobe Stock


Publisher
Roberto Meir

Diretor-Executivo de Conhecimento
Jacques Meir
[email protected]

Diretora-Executiva
Lucimara Fiorin
[email protected]

COMERCIAL E PUBLICIDADE
Gerentes-Comerciais
Angela Souto
[email protected] 

Daniela Calvo
[email protected]

Elisabete Almeida
[email protected]

Érica Issa
[email protected]

Natalia Gouveia
[email protected]

NÚCLEO DE CONTEÚDO
Head de Conteúdo
Larissa Sant’Ana
[email protected]

Editor-assistente
Thiago Calil
[email protected]

Editora do Portal 
Júlia Fregonese
[email protected]

Produtores de Conteúdo
Bianca Alvarenga
Danielle Ruas 
Jéssica Chalegra
Marcelo Brandão
Nayara de Deus

Head de Arte
Camila Nascimento
[email protected]

Designers
Isabella Pisaneski
Rhauan Porfirio

Revisão
Elani Cardoso

COMUNICAÇÃO
Gerente de Comunicação e Cultura
Simone Gurgel

MARKETING
Gerente de Marketing
Ivan Junqueira

Coordenadora
Bárbara Cipriano

TECNOLOGIA
Gerente

Ricardo Domingues


CONSUMIDOR MODERNO
é uma publicação da Padrão Editorial Ltda.
www.gpadrao.com.br
Rua Ceará, 62 – Higienópolis
Brasil – São Paulo – SP – 01234-010
Telefone: +55 (11) 3125-2244
A editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos ou nas matérias assinadas. A reprodução do conteúdo editorial desta revista só será permitida com autorização da Editora ou com citação da fonte.
Todos os direitos reservados e protegidos pelas leis do copyright,
sendo vedada a reprodução no todo ou em parte dos textos
publicados nesta revista, salvo expresso
consentimento dos seus editores.
Padrão Editorial Eireli.
Consumidor Moderno ISSN 1413-1226

NA INTERNET
Acesse diariamente o portal
www.consumidormoderno.com.br
e tenha acesso a um conteúdo multiformato
sempre original, instigante e provocador
sobre todos os assuntos relativos ao
comportamento do consumidor e à inteligência
relacional, incluindo tendências, experiência,
jornada do cliente, tecnologias, defesa do
consumidor, nova consciência, gestão e inovação.

PUBLICIDADE
Anuncie na Consumidor Moderno e tenha
o melhor retorno de leitores qualificados
e informados do Brasil.

PARA INFORMAÇÕES SOBRE ORÇAMENTOS:
[email protected]