Ao longo dos anos, as mulheres têm entrado cada vez mais no mundo dos negócios. Ainda que conquistar esse espaço seja desafiador — muitas vezes mulheres empreendedoras enfrentam barreiras mais difíceis —, se as portas não se abrem, elas mesmas criam maneiras de garantir a presença nesse mercado. E para ajudá-las a construir esses espaços, a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres criou um curso gratuito sobre digitalização dos negócios.
Ainda que a pandemia tenha impulsionado novos empreendimentos online, o número de mulheres empreendedoras diminuiu em decorrência da crise. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que o percentual de mulheres donas do próprio negócio, no começo de 2020, era de 34,5%. Já no último trimestre, essa taxa caiu para 33,6%, o que representou uma diminuição de 1,3 milhão empreendedoras nos negócios de um ano para o outro.
Entre os motivos para a redução, além da crise econômica, está a falta de conhecimento para digitalizar um empreendimento, recurso vital para a sobrevivência dos negócios durante a pandemia. A partir dessa dificuldade, o Programa Ganha-Ganha, feito em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Europeia (UE), fez uma série de materiais sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho, incluindo um curso sobre a digitalização dos negócios.
O curso Digitalize Meu Negócio, fruto dessa aliança entre a ONU Mulheres, a OIT e a UE, foi pensado especificamente para as empreendedoras da América Latina. No Brasil, o programa foi feito em parceria com a Rede Mulher Empreendedora (RME), uma das maiores iniciativas para apoio do empreendedorismo delas.
“Estamos felizes com a parceria com o Ganha-Ganha que vai nos permitir levar o Digitalize Seu Negócio para mulheres na América Latina e Caribe. Acreditamos que o foco em mulheres potencializa o impacto nas famílias e comunidades e apoiar a digitalização dos negócios é essencial para atravessarmos a pandemia”, diz Ana Fontes, fundadora da RME.
Digitalize Meu Negócio
O curso tem como objetivo “driblar” o momento de crise causado pela pandemia e trazer os negócios para o âmbito digital. Embora seja gratuito, os candidatos passarão por uma classificação que selecionará 150 empresas. Podem participar mulheres líderes ou fundadoras de pequenas ou médias empresas, desde que sejam latino-americanas, nascidas no Brasil, Argentina, Chile, Costa Rica, Uruguai e Jamaica.
As aulas começarão em maio e terão duração total de dois meses. Serão conduzidas de acordo com a metodologia da RME. De acordo com as fundadoras, o curso trará formas de digitalizar negócios tradicionais em todos os âmbitos, inclusive para atendimento e relacionamento com o cliente, bem como serviços bancários digitais. Outro foco também estará na gestão digital, com maneiras para aprimorar a liderança.
O cadastro deve ser feito no site oficial do programa entre os dias 04 e 19 de abril. “Oferecer ferramentas para que empreendedoras possam digitalizar seus negócios é uma ação importante para minimizar esses danos e garantir que mais mulheres possam manter a renda”, diz Anastasia Divinskaya, representante da ONU Mulheres no Brasil.
Detalhes sobre as mulheres empreendedoras no Brasil
Dados do Sebrae mostram que as mulheres já representam uma parcela significativa dos empreendedores brasileiros. Ao todo, já são 24 milhões de empreendedoras no Brasil e a motivação, mostra a pesquisa, normalmente vem por causa do desemprego ou de maneira a aumentar a renda — o que ocorreu com mais frequência durante a pandemia.
Em geral, as mulheres também abrem um negócio em busca de independência financeira, visto que muitas delas são responsáveis por todo o sustento da família. A pesquisa do Sebrae mostra que o número de mulheres que chefiam economicamente os lares brasileiros subiu sete pontos percentuais entre 2017 e 2019, atingindo 45%.
“Mulheres e meninas têm sido especialmente prejudicadas pelas consequências econômicas e sociais da pandemia de COVID-19. Os negócios liderados por mulheres têm sido também os mais impactados, uma vez que estão concentrados em atividades mais afetadas durante a crise – como alimentação, vestuário, turismo e serviços”, destaca Divinskaya.
Entre as barreiras enfrentadas pelas mulheres no momento de abrir um negócio, está a dificuldade para ter acesso a crédito, ainda que elas tenham um nível de inadimplência inferior aos homens. O estudo mostra que 38% dos homens estão endividados, ainda que tenham suas dívidas em dia. Já para as mulheres, o percentual é menor, de 34%.
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