Enquanto a economia não se estabiliza por causa das incertezas causadas pela pandemia de Covid-19, um movimento chamado por alguns experts de “boomerang” tem acontecido entre a geração millennial: o de voltar para a casa dos pais. O regresso desses jovens está acontecendo porque eles perderam o emprego durante os cortes de trabalho que aconteceram por causa da disseminação do vírus ou mesmo por conta do confinamento.
Muitas vezes, principalmente nos Estados Unidos, os mais jovens deixam cidades médias e pequenas para trás para migrar aos grandes centros, como Nova York, São Francisco e Los Angeles, por exemplo. Tudo em busca de ofertas profissionais. Na nova vida, eles acabam morando em apartamentos e casas bem menores ou compartilhadas para diminuir os custos. No Brasil, esse fluxo pode ser visto em São Paulo, que atrai muita gente por causa das ofertas de trabalho, mas possui um custo de vida bem acima do que a média nacional.
Mas, o confinamento fez muita gente rever seus conceitos de espaço pequeno e caro – e esse fluxo boomerang de retorno passou a ser mais visto, como mostram reportagens recentes do “Financial Times”, do “Vox.com”, do “Buzzfeed” e do “The Atlantic”.
A realidade agora é a de que voltar para a casa dos pais não deve ser visto como uma “falha” de percurso ou sinal de que o millennial em questão não venceu na vida. É mais um ajuste de rota e – ao menos nos Estados Unidos -, o atual status de cerca de 52% da população nascidas entre os anos 1980 e 1995.
“É o maior fluxo de retorno para a casa dos pais desde a Grande Depressão”, anuncia o Buzzfeed em sua matéria sobre esse fenômeno. Já no “Atlantic” assusta o seguinte número: 2,9 milhões de jovens adultos retornaram para a casa dos pais nos meses de março, abril e maio, nos Estados Unidos, por causa da pandemia, segundo pesquisa realizada por uma empresa de consultoria imobiliária chamada Zillow. Numa outra pesquisa feita apenas com pessoas entre 24 e 29 anos, 39% dos entrevistados declararam que iam se mudar de volta para o lar familiar ou tinham planos de fazer isso muito em breve.
E no Brasil?
Por aqui, a situação é diferente e como o País já vinha enfrentando crises econômicas nos últimos anos, muitos millennials nem sequer saíram da moradia familiar, onde continuam enquanto estudam, trabalham ou procuram por um novo emprego. Enquanto na sociedade norte-americana, esse status de “morar com os pais” quando já se é adulto é algo visto de maneira não muito positiva, por aqui, o peso é outro.
A chamada “Geração Canguru”, no Brasil, abrange tanto gente que está dividindo o mesmo teto com familiares mais velhos porque precisa de ajuda para pagar as contas, como quem decidiu não se mudar para economizar e investir o dinheiro em mais estudo ou negócios próprios. No Brasil, uma em cada quatro pessoas de 25 a 34 anos está nessa situação, segundo dados do IBGE divulgados em 2015. Apesar de não haver dados mais recentes especificamente sobre esses números, acredita-se que essa estimativa venha a aumentar. A maioria dos “cangurus” brasileiros é composta por homens – são 60% nos dados colhidos.
Em “tempos de pandemia”, para usar um termo que já se consagrou neste 2020, essa situação deve ficar ainda mais comum. Vale lembrar que ela também não é algo restrito a quem tem mais ou menos escolaridade. Os últimos dados mostram, inclusive, que aqueles com mais escolaridade – cerca de 35,1% dos jovens adultos brasileiros na casa dos pais – tinham ao menos ensino superior completo.
Se até 2018, 25% dos jovens brasileiros entre 25 e 34 anos não tinham planos de sair da casa dos pais, esta data deve se alongar por mais tempo. Por outro lado, essa realidade abre espaço para a troca de carreira – algo que muita gente está fazendo agora, seja por necessidade ou por interesse próprio – ou começar o próprio negócio. Se antes de março de 2020 já não tinha tanta gente assim ligando para a frase “moro com meus pais”, parece que este é mesmo o momento de deixar esse tabu para trás.
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