Nos últimos três anos, diversos setores que moveram a economia passaram por profundas mudanças que levaram ao fechamento de muitas lojas e ao declínio de negócios tradicionais. Para se ter uma ideia, só no mês de agosto deste ano, 146 shoppings centers de todo o Brasil, teve um registro de 127 lojas que fecharem as portas, de acordo com levantamento do Bank of America. Neste contexto, os canais digitais tiveram um boom que refletiu em uma mudança na forma do consumo de diversos produtos e serviços.
Essas mudanças fizeram com que com que um novo grupo de consumidores influenciados por movimentos como a aceleração tecnológica, a recessão da atenção, a escassez do toque e uma nova mentalidade em relação à preservação do meio ambiente e à interação entre o digital e o físico. Frente a essas mudanças que levam a um novo comportamento de consumo, como a indústria da moda responderá às necessidades deste consumidor? Qual será o impacto dessa transição em termos de cadeia de suprimentos, desenvolvimento de coleções ou estratégias de varejo — seja ele em formato físico ou on-line?
De acordo com o relatório “Oportunidades para a indústria da moda em 2024”, da consultoria WGSN, os gargalos logísticos, escassez de matéria-prima, flutuações nos preços e a crise energética global desencadearam mudanças na forma como as empresas gerenciam suas cadeias de abastecimento.
Isso porque, nos últimos anos, a cadeia de suprimentos global foi abalada pela pandemia da COVID-19, afetando cerca de 95% das empresas em todo o mundo, como mostra o relatório. Essa mudança revelou a vulnerabilidade da cadeia de abastecimento global. As restrições de entrega, fechamento de fronteiras e medidas de distanciamento social desenvolvem-se para a desorganização dos fluxos logísticos, exacerbando os desafios já existentes.
Tendências para o mercado de moda
A previsão é que a crise logística se estenda até 2024, sinalizando o início de uma era de ruptura que pode abrir novas oportunidades de atuação para o mercado da moda. Entre as estratégias em ascensão mapeadas pelo time da WGSN para ganhar força no próximo ano, estão o conceito de “Friendshoring”, ciclo de tendências e o movimento Quiet Luxury.
Friendshoring
Este é um termo que se refere à estratégia definida por empresas que decidem realocar suas operações, sejam elas de gestão, produção ou pesquisa e desenvolvimento, para países amigos para fortalecer relações nas cadeias de distribuição e abastecimento e reforçar valores de marca . Nesse sentido, a consultoria aponta que as indústrias de abastecimento irão realocar suas operações tendo em vista proximidade geográfica e valores em comum entre as marcas
No cenário nacional, a Shein surge como um exemplo dessa tendência em ascensão. O gigante do comércio eletrônico não se destaca apenas por suas últimas tendências de moda, mas também pela estratégia visionária de implementação do friendshoring em suas operações. A varejista chinesa tem buscado soluções de realocação estratégica de operações para países outros países, como no caso do Brasil, onde a varejista irá expandir suas operações.
Novo ciclo de tendências
O relatório aponta para um ciclo de tendências. Isso porque o consumidor está cada vez mais recebendo uma enxurrada de excessos de informações, canais e tendo diversas opções de escolhas e claro, que as empresas terão que ter um olhar atendo para este consumidor para que a criação de produtos, estratégias e serviços sejam direcionadas e para estes consumidores. O estudo sugere que se chegue nessa meta via análises de fatores macro, pensamentos em longo prazo e mitigação de riscos para as empresas.
Movimento Low Key Luxury
O “Quiet Luxury” ou “Low Key Luxury”, é uma tendência na moda onde basicamente menos é mais. Essa é uma tendência com alto potencial de longevidade e promete se estender para além do Inverno 2024. Muito discutida por especialistas do setor, influencers e por marcas também, a previsão é que este mercado cause impacto em todos os segmentos da indústria da moda nas próximas temporadas.
Consumidores fora do segmento de luxo também procuram peças com características semelhantes às do #LowKeyLuxury, uma vez que elas trazem mais flexibilidade e segurança aos seus guarda-roupas.
Compras com intenção
Atualmente, diante da transformação dos padrões de consumo em meio à crise econômica, surge uma oportunidade para o setor se reposicionar por meio do investimento na criação de valor.
Ao longo dos próximos anos, o estudo prevê um aumento nas compras motivadas por emoção, à medida que os consumidores procuram aliviar suas emoções, sejam elas positivas, negativas ou complexas. Esta tendência se manifesta através da priorização de pequenos luxos e de relações mais íntimas com as marcas.
Com o surgimento do varejo físico, a tendência é que os consumidores procurarão por lojas que integram os universos reais e digitais por meio de experiências phygital, fornecendo experiência e apoiando sua nova jornada de compra. Essas lojas devem oferecer múltiplos pontos de contato e criar experiências para os clientes.
Retorno ao varejo físico
Em sintonia com a abordagem das compras motivadas por emoções, a WGSN prevê que, em 2024, o encantamento será um sentimento essencial para transferência o retorno às lojas físicas. Estratégias que promovem visitas regulares e prolongam o tempo de permanência podem ser estimuladas por meio de investimentos em experiências. A abordagem no varejo multicanal persistirá, e, como resultado, o papel do varejo presencial não será mais linear.