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Made in China: o país que virou a indústria do mundo

Made in China: o país que virou a indústria do mundo

Para ampliar sua presença no mundo, a China troca, ao longo do tempo, sua pauta de exportação de produtos com baixo valor agregado para tecnologia de ponta

NOVAREJO mergulhou na economia chinesa desde a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung até o império do Alibaba, de Jack Ma, para entender como o gigante asiático saiu de uma economia agrária ineficiente para se tornar o maior varejo do mundo. Confira o quarto capítulo da série sobre a China.

A onda liberalizante que o Ocidente viveu ao final dos anos 70, com o Consenso de Washington, teve ecos na China. A abertura econômica do país asiático aconteceu em 1978. A partir de então, o sistema fechado chinês passou a se abrir gradativamente. O responsável por começar esse processo foi Deng Xiaoping, que recebeu a missão de transformar a economia chinesa de majoritariamente agrária para potencialmente industrial. O trabalho do sucessor de Mao Tsé-Tung, que morreu em 1976, foi manter a centralização da economia chinesa ao mesmo tempo em que promovia a abertura da economia local para a iniciativa privada.

Deng promoveu o fim da estatização total da terra, que havia sido implementada por Mao nos primeiros anos da revolução. Sob Deng, os agricultores voltaram a ser donos das terras. “Foi possível promover uma melhora extraordinária na produtividade agrícola da China simplesmente dando liberdade aos agricultores camponeses para usar sua própria iniciativa”, avalia o historiador Archie Brown em sua obra “Ascensão e queda do Comunismo”.

Com a abertura para vendas de produtos agrícolas, um imenso mercado interno para bens industrializados foi criado a partir do acúmulo dos camponeses, o que deu um impulso para a acumulação de riqueza no interior chinês e, consequentemente, para a criação das primeiras empresas locais de capital privado, lideradas por empreendedores com pouca ou nenhuma educação formal. E que também não tinham experiência em negócios. Para isso, já nos anos 1990, Deng criou uma política de repatriamento dos imigrantes chineses que haviam saído do país para estudar e empreender. A criação de uma nova elite econômica e intelectual viria a germinar as lideranças que fundaram algumas das gigantes da internet chinesa do século 21.

Elias Jabbour, professor de Planejamento Econômico da FCE/UERJ, coloca como ponto de virada do desenvolvimento da China a política de liberação do excedente da produção agrícola para comércio. Antes da abertura econômica, toda produção era socializada. Com o tempo, foi permitido aos produtores rurais vender parte da produção no mercado, ainda que o governo ficasse compulsoriamente com uma importante parte da produção. “A China camponesa passou a praticar a via americana, que entendia o pequeno camponês como potencial granjeiro e futuro empresário. Hoje, 70% dos empresários privados têm origem camponesa”, destaca Jabbour.

Contra a maré

Se a abertura econômica significou um acelerado processo de desindustrialização no Ocidente, com o avanço do setor de serviços contra a desidratação da indústria, na China, o crescimento da produção industrial foi exponencial. Na contramão do mundo, o gigante asiático fez um trabalho de industrialização de sua economia e de aumento cada vez mais vigoroso de exportação de produtos com alto grau de tecnologia. Para proteger a sua indústria, a China evitou subir tarifas alfandegárias para barrar importações e usou seu câmbio desvalorizado como principal motor da industrialização acelerada.

Uma das características centrais da economia chinesa é o forte controle sobre o seu câmbio. A manipulação do valor de sua moeda deu à China a capacidade de direcionar o crescimento da sua indústria ao longo das últimas décadas. O resultado disso foi a substituição das exportações chinesas. Em 1992, a venda de roupas correspondia a 14% do total de exportações. Em 2005, a participação da produção têxtil caiu pela metade. No mesmo período, a exportação de calçados caiu de 7% para 4%. Aparelhos eletrônicos com baixo grau de tecnologia caíram de 27% para 12%. Aparelhos de telecomunicação, por outro lado, registraram alta sensível, de 3% para 14% do total de exportações em 13 anos. Maquinaria eletrônica pulou de 3,5% para 9% e máquinas de escritório de 1,5% para 13%.

Efeitos sobre o Ocidente

O deslocamento de cadeias inteiras de produção para a China não gerou somente crescimentos robustos nas décadas seguintes para os chineses, mas ajudou a fortalecer o poder de consumo dos países desenvolvidos. Segundo Jabbour, a migração da indústria para a China “ajudou a manter a democracia em países do Ocidente, em especial nos EUA, onde, segundo ele, o consumo está diretamente entrelaçado aos direitos dos americanos”, afirma.

E na era da informatização, a China ganhou terreno ao deixar de exportar apenas produtos de manufatura simples para fortalecer seu parque tecnológico. “Em 1978, a China exportava produtos manufaturados para economias de renda. Isso faz com que a China comece a ganhar mercado nos EUA e Europa principalmente. No mesmo tempo, isso representava para a China 97% da pauta exportadora e 93% iam para Estados Unidos e Europa. Como o passar do tempo, a China vai alterando a pauta exportadora. Nos anos 2000, quando a China cresce ainda mais aceleradamente, o país já exporta carros e aviões comerciais”, destaca o professor de Relações Internacionais e Economia da UNIP, especialista em Ásia e doutorando sobre a economia chinesa contemporânea na UNESP, Luis Fernando Mocelin.

A criação de uma elite econômica

Na década de 2000, a China entrou na Organização Mundial do Comércio e abriu ainda mais o seu mercado. Foi neste período que nasceram quase todas as empresas do País que atuam na internet. Os empreendedores dessa época tinham mais influência estrangeira, tendo como espelho as empresas ocidentais, e com os olhos mais voltados para o mercado externo. A maioria dos negócios de êxito na China do fim dos anos 2000 e anos 2010 está voltada para o potencial da internet, em especial da internet móvel.

Brown destaca que, em 2007, cerca de 165 mil novos membros do Partido Comunista Chinês (PCCh) vinham do que foi chamado de novo estrato social, termo que se refere a homens de negócios, gerentes do setor privado, cidadãos que trabalham para empresas estrangeiras e profissionais autônomos. O historiador afirma que, ao longo do desenvolvimento da economia chinesa sob a égide do comando central com abertura para o empreendedorismo individual, “os capitalistas passaram a ser bem recebidos se quisessem se tornar Comunistas”. O exemplo mais eloquente é Jack Ma, o multibilionário chinês criador do Alibaba, que é membro e porta-voz do PCCh.

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