Em 19 abril de 1943, em um laboratório suíço, o químico Albert Hofmann tirou os óculos e os apoiou sobre a mesa. Sua percepção sensorial estava incrivelmente aguçada, e ele estava tendo alucinações. Ele tinha certeza de que estava morrendo e, como não queria morrer no laboratório, voltou para casa de bicicleta. A viagem não saiu como o planejado. Tudo o que surgia em seu campo de visão ficava distorcido. Uma hora antes, Albert Hofmann deixou cair acidentalmente em seus dedos um pouco do LSD usado em um dos seus experimentos. Ele havia testado o agente em ratos na tentativa de criar uma substância capaz de estimular a respiração e a circulação, mas eles não reagiram. Ele então guardou o composto junto a outras centenas de invenções mal sucedidas. Agora, seu próprio corpo dizia que havia algo nessa substância que merecia ser investigada. Assustado, Hofmann chamou um médico, que lhe disse que não havia nada de errado. Mas, de repente, a paranoia infernal se transformou em um estado de euforia. Foi aí que Hofmann entendeu uma característica básica dessa experiência psicodélica: ela despertava emoções e sentidos. O químico imediatamente percebeu o potencial do alucinógeno sintético que havia descoberto por acaso.
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Cientistas americanos souberam da descoberta. E a introdução do LSD foi parte de uma grande operação da CIA sobre o controle da mente durante a Guerra Fria. Ela temia que a China e a União Soviética estivessem desenvolvendo métodos para limpar a mente de agentes americanos. Contrataram então psiquiatras do Ocidente para pesquisar os efeitos da substância em milhares de civis inocentes. Soldados ingleses e americanos eram orientados a praticar exercícios sob influência do LSD. E, no porão de um hospital dinamarquês, mais de 400 pacientes da ala de psiquiatria recebiam uma dose dez vezes maior de LSD do que o normal. Isolados sem nenhum tipo de apoio terapêutico, alguns cometiam suicídio; outros ficavam traumatizados para o resto da vida.
Mesmo assim, não foi por causa desses repugnantes experimentos que o LSD se tornou famoso. Hoje, a principal associação que fazemos da substância diz respeito à subcultura da flower-power (símbolo dos movimentos hippies), à arte psicodélica e aos protestos contra a Guerra do Vietnã. O LSD tornou-se uma substância controlada em 1968, o que aumentou sua popularidade nas ruas. No entanto, banir a droga também fez com que as pesquisas fossem interrompidas. Depois de tornar-se moribunda por décadas, as pesquisas psicodélicas estão renascendo. Projetos piloto mostram resultados promissores no seu uso para o tratamento da ansiedade de doentes terminais, estresse pós-traumático e outras aflições. Em uma dessas pesquisas, 80% dos veteranos de guerra testados apresentaram melhora. Esse tipo de pesquisa está sujeito a uma supervisão legal rigorosa. Mas se a tendência continuar, o LSD pode um dia ser renomeado como uma substância terapêutica. Albert Hofmann e a primeira viagem do LSD são comemorados todo 19 de abril, o dia em que ele fez uma viagem para casa em outra dimensão: o Dia da Bicicleta.