“Não são as finanças. Não é a estratégia. Não é a tecnologia. O que continua resultado em maior vantagem competitiva é o trabalho em equipe”. Patrick Lencioni, fundador e presidente do The Table Group, empresa de soluções para aprimoramento da saúde empresarial e engajamento dos funcionários, tem esse argumento como base para seu trabalho e para seu livro.
Em “Os 5 Desafios das Equipes: uma história sobre liderança” (Sextante), Lencioni narra a trajetória de Kathryn Peterson. A personagem fictícia engloba diferentes histórias e acontecimentos acompanhados pelo autor em seu trabalho. Peterson é CEO em uma empresa – DecisionTech, também ficcionalizada – que, depois de sua ascensão no Vale do Silício, se viu em queda no conceito do mercado.
“Os funcionários se referiam ao grupo de executivos da DecisionTech como O Pessoal. Ninguém os considerava uma equipe, e Kathryn imaginou que houvesse uma razão para isso”, descreve o autor. “Ainda que não existisse hostilidade explícita e que ninguém demonstrasse discordância, havia uma tensão quase palpável no ambiente. Como resultado, decisões nunca eram tomadas; discussões eram morosas e desinteressantes, com poucas trocas de ideias; e todos pareciam desesperados para que a reunião acabasse”.
Recém-contratada após a demissão do último CEO e cofundador, que passou a integrar a área de desenvolvimento de negócio, Peterson tem o desafio de transformar equipes disfuncionais em um time de sucesso. “Embora formassem uma péssima equipe, quase todos demonstravam, porém, ter boas intenções e se mostravam bastante racionais quando analisados individualmente”.
A partir dessa fábula, o livro se estrutura em torno de cinco desafios fundamentais que as equipes enfrentam: ausência de confiança, medo de conflito, falta de comprometimento, evitar responsabilização e falta de atenção aos resultados.
1. Ausência de confiança
A ausência de confiança é o primeiro e mais fundamental desafio que uma equipe pode enfrentar. Sem confiança, seus integrantes hesitam em se mostrar vulneráveis, o que impede a construção de relações autênticas e de apoio mútuo. A confiança aqui mencionada por Lencioni é aquela que permite que profissionais admitam seus erros, fraquezas e medos sem temor de represálias.
Este tipo de confiança é essencial para criar um ambiente onde a comunicação honesta e aberta pode florescer. Assim, para enfrentar esse primeiro desafio, Kathryn Peterson, CEO protagonista do livro, reconhece a importância desse tipo de confiança e investe em atividades de team building que incentivam os membros da equipe a compartilhar mais sobre si mesmos, promovendo a vulnerabilidade como uma força, e não uma fraqueza.
Para desenvolver essa confiança, Lencioni sugere que as equipes passem por processos de autoavaliação e sessões de feedback sincero. Ele também destaca a importância de os líderes modelarem esse comportamento, mostrando suas próprias vulnerabilidades primeiro. A construção de confiança é um processo contínuo que requer tempo e dedicação, mas é fundamental para o sucesso da equipe. Sem essa base, os outros desafios se tornam quase insuperáveis, pois a falta de confiança mina todas as outras tentativas de melhorar a coesão e a eficácia da equipe.
2. Medo de conflito
O medo de conflito é um desafio que surge diretamente da ausência de confiança. Quando membros da equipe não confiam uns nos outros, tendem a evitar discussões e debates, o que leva a uma falta de conflito saudável. Conflito, quando bem administrado, é essencial para a inovação e para a tomada de decisões robustas. Permite que diferentes pontos de vista sejam expressos e considerados, resultando em soluções mais criativas e bem fundamentadas. No entanto, sem a confiança necessária, membros da equipe preferem evitar confrontos, o que leva a decisões superficiais e consenso falso.
Peterson implementa uma cultura onde o conflito é visto como algo positivo e necessário. Incentiva debates abertos e honestos, assegurando que todos os membros da equipe sintam-se seguros para expressar suas opiniões sem medo de retaliação. Lencioni sugere técnicas como o uso de “advogados do diabo” para estimular discussões e a criação de normas que incentivem o confronto construtivo. O objetivo é garantir que todas as vozes sejam ouvidas e que decisões sejam tomadas com uma compreensão completa das diferentes perspectivas, promovendo um ambiente de respeito mútuo e colaboração.
3. Falta de comprometimento
A falta de comprometimento é um desafio que impede a equipe de tomar decisões claras e definitivas. Quando não há um alinhamento claro e membros da equipe não se sentem ouvidos, tendem a não se comprometer com as decisões do grupo. Isso resulta em uma paralisia decisória e em uma execução ineficaz das estratégias. Segundo o autor, o comprometimento não significa consenso absoluto, mas sim a disposição de apoiar uma decisão depois que todas as opiniões foram consideradas. Kathryn Peterson trabalha para garantir que todos os membros da equipe compreendam e se alinhem com os objetivos e estratégias da empresa, mesmo que não concordem completamente com todas as decisões.
Para fomentar esse comprometimento, Lencioni destaca a importância de reuniões eficazes onde todas as preocupações sejam abordadas e resolvidas. Ele sugere que as equipes definam prazos claros para a tomada de decisões e a revisão dos compromissos assumidos. Além disso, criar um ambiente onde as decisões sejam comunicadas de maneira direta e onde membros da equipe possam ver como suas contribuições individuais se alinham com os objetivos gerais é crucial. Com isso, a equipe pode avançar com confiança, sabendo que cada integrante está comprometido com o sucesso coletivo.
4. Evitar responsabilização
Evitar a responsabilização é um desafio que pode sabotar a eficácia de uma equipe. Quando os membros da equipe não se responsabilizam mutuamente pelos comportamentos e pelos resultados, a execução das tarefas sofre. Lencioni argumenta que a responsabilização interpessoal é crucial para manter altos padrões de desempenho e para garantir que todos estejam contribuindo para o sucesso da equipe. Kathryn Peterson promove uma cultura de responsabilização mútua, onde todos são responsáveis por chamar a atenção para comportamentos que não estão alinhados com os objetivos do grupo.
Para implementar essa cultura de responsabilização, o autor sugere que as equipes definam claramente as expectativas e os padrões de desempenho desde o início. Isso inclui a criação de métricas específicas e a realização de revisões regulares de desempenho. Ele também enfatiza a importância de feedback contínuo e construtivo, onde os membros da equipe se sentem confortáveis em dar e receber críticas honestas. Com uma cultura de responsabilização bem estabelecida, a equipe pode operar de maneira mais eficiente e alcançar seus objetivos de forma mais eficaz.
5. Falta de atenção aos resultados
A falta de atenção aos resultados é o quinto e último desafio, e ocorre quando os membros da equipe colocam suas necessidades individuais acima das metas coletivas. O especialista ressalta que o sucesso da equipe depende de uma concentração incansável nos resultados. Isso significa que as metas coletivas devem ser priorizadas sobre o reconhecimento individual, status ou ego. A líder da narrativa implementa um sistema de acompanhamento de metas e resultados que ajuda a manter a equipe focada nos objetivos comuns e a celebrar as conquistas coletivas.
Para manter essa atenção aos resultados, Lencioni sugere a definição de métricas claras e a realização de reuniões regulares para revisar o progresso. Recomenda também que as equipes estabeleçam um sistema de recompensas que incentive o alcance das metas coletivas. Ao criar uma cultura onde o sucesso da equipe é priorizado, seus integrantes se tornam mais alinhados e motivados para trabalharem juntos em direção aos objetivos comuns. Isso não apenas melhora o desempenho da equipe, mas também promove um ambiente de trabalho mais colaborativo e harmonioso.
Guia para lideranças
Em seu livro, Patrick Lencioni oferece uma análise profunda dos obstáculos mais comuns que impedem as equipes de alcançar seu pleno potencial. Com uma leitura simples e fluida, consegue capturar a atenção do leitor ao promover a identificação com os desafios enfrentados por sua protagonista que, apesar de fictícia, explora os principais dilemas de uma liderança diante de uma equipe cheia de potencial.
Trata-se de um guia eficiente, com direcionamentos e instruções claras para aqueles que desejam captar o que há de melhor de seus times. O autor demonstra que, com uma equipe sintonizada e colaborativa, é possível conduzi-los seus integrantes não somente ao sucesso profissional, mas também ao resultado máximo do negócio.