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Apesar dos avanços, pessoas pretas enfrentam desafios na busca por cargos de liderança

Apesar dos avanços, pessoas pretas enfrentam desafios na busca por cargos de liderança

Brasil tem mais negros nas universidades, mas a disparidade em cargos executivos ainda é uma questão que precisa ser enfrentada

Oportunidade é uma palavra que acompanha pessoas pretas, seja pela falta dela ou por alguma possibilidade favorável. Quem atesta é quem vos escreve: sou jornalista e negra que entende o peso das camadas criadas pela falta de oportunidade em vários setores da sociedade. À medida que avançamos em diálogos, dados e reflexões, vamos percebendo – a ritmo lento – alguns movimentos positivos. No entanto, a luta é grande e há ainda um longo caminho a percorrer.

No mês em que celebramos a Consciência Negra, marcada pela figura de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da libertação escravista e símbolo da resistência negra, o dia 20 de Novembro vem promover uma importante reflexão sobre a história do país e a promoção de igualdade racial na sociedade. Ocupar espaços como este, não apenas para escrever sobre este tema, mas tantos outros, é a tal da oportunidade abraçada, deseja e conquistada.  

É preciso refletir sobre esses dados: se há 13 anos o número de pessoas pretas com acesso ao Ensino Superior aumentou, por que ainda existe uma lacuna tão grande nos cargos de liderança em serem ocupados pessoas pretas? E será que esse acesso basta, uma vez que foi impulsionado pela Lei de Cotas? Vale a reflexão inclusive sobre a disparidade de ensino até a entrada na Universidade. Ou seja, mais do que estar matriculado, é preciso que o aluno esteja apto a acompanhar aqueles que, ao longo da vida, tiveram um ensino mais qualificado por terem oportunidades diferentes até esse ponto.

Os negros representam 56,1% da população brasileira, de acordo com dados do IBGE, mas são minoria nos espaços de destaques e cargos de liderança. A verdade é que os dados são claros e nos mostram que ainda é preciso muito diálogo, maior conscientização para que se abram oportunidades para negros especialistas, como médicos, advogadas, economistas, engenheiros e tantas outras profissões.

Mulher negra, nordestina e pioneira

Em uma entrevista exclusiva para a Consumidor Moderno, uma voz eloquente entre os conselheiros do mercado brasileiro e internacional merece destaque: Jandaraci Araújo. Ela é conselheira emérita do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, conselheira independente do Instituto Inhotim e Museu Afro e da Women in Leadership in Latin America (WILL). Foi a primeira mulher a ocupar um cargo de destaque desde a criação do Banco do Povo em1997.

Além disso, Jandaraci é co-fundadora do Conselheiras 101, programa que busca incluir mulheres negras e indígenas em conselhos de administração, e foi uma das convidadas a falar na ONU sobre Finanças Sustentáveis. Também é professora de Finanças Corporativas de pós-graduação e escritora, lançou 2 livros em 2021 em co-autoria, como “Mulheres nas Finanças e Mentores e suas Histórias”. Recentemente foi reconhecida como Top Voice Linkedin na pauta de Equidade de Gênero.

Ter um currículo tão extenso exigiu resiliência, foco e determinação. A executiva nos conta que além do machismo e racismo, a solidão e a invisibilização são desafiadores para ocupar essas posições.

“Um dos maiores problemas hoje são as oportunidades no mercado de trabalho. As pessoas negras se formam e se especializam, mas os profissionais continuam sendo invisibilizados. O racismo no Brasil tem essa característica cruel e sutil de criar barreiras que é difícil a gente combater. É uma tendência a não incluir” explica. 

Na sociedade é muito comum o reconhecimento do problema que pessoas pretas enfrentam, no entanto, para muitos ainda é muito difícil o reconhecimento de atitudes e falas racistas, principalmente dentro de organizações.

“O nosso papel é não abrir frente ou não sucumbir as estratégias dos negacionistas, a estratégia do silenciamento ou a essa falsa democracia racial que tentam nos vender. Contra dados e fatos não há argumentos, as pessoas até se comovem, mas tentam arrumar uma estratégia para desqualificar o discurso e a fala das pessoas pretas. Recentemente temos visto um movimento das pessoas dizerem que essa agenda já passou, como se já tivéssemos resolvido o problema de 56% da população que está à margem da sociedade e que ainda não está nas posições de liderança, seja no setor público ou privado”, alerta a executiva.

“Isso é o grande ponto, os negacionistas vão continuar negando, e temos que continuar atuando e desenvolvendo estratégias para ocupar espaços. Enquanto não tivermos pessoas negras com o poder da caneta, ainda vamos ficar à margem. Esse sistema que tenta nos corromper fala que nós vivemos nos vitimizando, e para eles digo uma coisa: a agenda não passou e só vai passar quando tivermos indicadores melhores em relação a população negra, seja indicadores sociais ou em relação ao mercado corporativo, esse assunto não se acaba. Precisamos inviabilizar os negacionistas e dar visibilizar a população negra e aos movimentos negros que estão fazendo a diferença”, enfatiza Jandaraci.  

Não podemos esperar 167 anos

Um estudo feito pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), organização sem fins lucrativos, pioneira no Brasil e comprometida com a aceleração da promoção da igualdade racial, evidencia que as desigualdades no mercado de trabalho brasileiro, resultaram em uma previsão sobre quando a igualdade racial poderá ser alcançada, caso as políticas governamentais e as ações das empresas não sejam aceleradas. A estimativa aponta que o cenário do mercado de trabalho do Brasil só deve se tornar mais igualitário por volta de 2190. Nesse ritmo, levaria 167 anos para que o desemprego entre pessoas negras e brancas se equilibre.

“A desigualdade racial persistente no mercado de trabalho brasileiro é um fenômeno estrutural que requer ação imediata e coordenada”, afirma Luana Génot, fundadora e diretora do Instituto Identidades do Brasil. “Este estudo não apenas destaca a urgência de abordar essa disparidade, mas também reforça o papel fundamental das práticas de D&I para criar uma sociedade mais equitativa e ajudar as organizações a atingirem seus objetivos estratégicos”.

“Ações que estão em processo de mudança”

Reverter essa realidade é tarefa urgente para as organizações. É necessário começar o quanto antes,. Quem ainda não colocou o tema em pauta, ou ao menos não se preocupa em entender seu quadro de diversidade e contribuir para um mundo mais equitativo, está no mínimo atrasado.

Tudo começa pelo diagnóstico, afirma Carine Roos, mestre em Gênero pela London School of Economics and Political Science e CEO da Newa, empresa de consultoria especializada em DE&I e saúde emocional para organizações.

“Antes de elaborarmos qualquer atividade relacionada a este tema, precisamos realizar um censo interseccional, envolvendo gênero, raça e classe, para entendermos, por exemplo, como as mulheres negras estão se sentindo dentro dessa empresa e como a organização está olhando para ela. A partir destes dados interseccionais, é possível criar processos mais assertivos e inclusivos para essas mulheres”, aponta.

Empresas como Mercado Livre, Sanofi e Aegea criaram no último ano políticas com programas de aceleração de carreira e metas atreladas à emissão de títulos financeiros para aumentar a proporção de lideranças negras. Recentemente, o Grupo Casas Bahia registrou um aumento no número de lideranças negras como resultado de um programa de ações afirmativas para promover a igualdade racial. Hoje, a varejista tem 33% de lideranças pretas, frente a 26% em 2021. De acordo com a empresa, a meta é chegar a 45% de pessoas negras em cargos de liderança até 2025.

A Carine Roos explica que é preciso olhar para o processo de como essas vagas são criadas e oferecidas ao mercado. “Depois do diagnóstico fica mais claro quais são as sensibilidades das organizações e quais problemas devemos resolver. Por isso, todo o time de recrutamento e de líderes precisa estar alinhado com esse diagnóstico e com as ações que estão em processo de mudança, para depois trabalhar o olhar para que o processo seletivo seja mais diversos, cuidadoso e eficaz”, comenta a CEO.

Mudar a realidade é missão para hoje, pois só assim veremos mais oportunidades acessíveis à pessoas negras. Não se pode normalizar o fato de grandes empresas, centenárias, premiadas, não terem um (a) CEO negro, por exemplo. Na verdade, isso precisa gerar incômodo e questionamento, ‘onde estão as lideranças negras dentro da minha organização?’

Aproveito este espaço para compartilhar algo. Eu acredito muito na educação e ao ler um livro nos tornamos todos aprendizes.  É como diz uma frase que ouvi recentemente e faz total sentido: “Ninguém volta o mesmo depois de ler um livro”, por isso deixo aqui uma indicação para entendermos o tema em águas mais profundas. Vale a leitura da filósofa e ativista Djamila Ribeiro no livro “Pequeno Manual antirracista”, somente para aqueles querem atuar na transformação da sociedade.




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