Os Millennials, a agora a Geração Z, estão mudando a fotografia do mercado corporativo. A oferta de produtos e serviços, o atendimento ao cliente e o modo como se encara a força de trabalho nunca mais serão os mesmos depois deles. O que as grandes empresas têm aprendido com o comportamento dessa geração pautada no digital, na agilidade e na impaciência com processos engessados, chefias abusivas e burocracias de todos os níveis? O CONAREC 2017 reuniu nesta semana executivos de peso para tentar encontrar a resposta.
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“Se você não tiver um senso grande de propósito e projeto claro fica difícil lidar com essas novas gerações”, disse Flaviano Faleiro, líder da Accenture Digital para a América Latina. “É uma nova geração conectada e com senso de pertencimento grande, com baixa resiliência a lidar com frustrações e estresses e isso é um desafio para as empresas”, completou.
O desafio, disse, é comportamental e não geracional. O executivo lembra que os Millennials provocaram essa ruptura: quando se fala deles não se fala mais necessariamente sobre os jovens que nasceram a partir da década de 80; mas sim sobre o comportamento e mindset que eles introduziram no mercado. Eles influenciam as gerações anteriores a pensar como eles e isso tem ajudado as companhias a promover inovação. “Na empresa, 90% das pessoas são das novas gerações, mas quem lidera a inovação é a Geração X. Então o modelo mental não é geracional”, afirmou Faleiro.
Da Geração Millennial, Rodrigo Galvão, presidente da Oracle Brasil, lembra que sua geração ajudou a rejuvenescer o mercado. “É uma questão de enxergar valor naquilo que se faz”, disse. A empresa, cujo quadro de funcionários é formado por cerca de 60% de Millennials, começou a trabalhar com projetos ligados a empreendedorismo e startups, que chamam a atenção dessa geração. “São projetos bottom up, desenvolvidos de forma orgânica e natural para que as pessoas se sintam parte. Precisamos empoderar as pessoas e isso realmente faz com que as coisas aconteçam de forma mais rápida”, afirmou.
Como lidar
A presença dos Millennials nas empresas e seu impacto nos modelos de negócios é incontestável. “Não existe indústria que não esteja sendo desafiada”, afirmou Faleiro, da Accenture. Do total de 9 mil colaboradores do Grupo Fleury, em torno de 60% pertencem a geração Millennial. “É uma geração que precisa de uma construção sólida e colaborativa”, disse Carlos Marinelli, CEO do Grupo Fleury. “Eles têm uma busca por propósito e trabalho e a gente precisa ter essa busca também. Saber qual é o propósito e o impacto do trabalho é muito importante para as pessoas, ainda mais para eles”, disse.
“Cada vez que começamos a falar sobre os Millennials, eu me questiono se eles estão dentro do gabarito como falam”, questionou Jorge Nasser, diretor geral do Bradesco Seguros. Para ele, trata-se muito mais de comportamentos inseridos dentro de um mesmo contexto do que qualquer outra coisa. Do total do quadro da seguradora, 43% são Millennials e Nasser lembra que a empresa está inserida em um mercado super tradicional, repleta de processos e com pouca flexibilidade. “E isso não importa porque a partir do momento em que você dá um proposito, e oferece um ambiente que provoca as pessoas a ter uma missão, você conquista. É entender a cultura: somos uma empresa analógica no relacionamento com as pessoas e digital nos processos e negócios e mais do que entender a categorização de uma geração é deixar claro o ambiente e o propósito”, afirmou. “Essa geração nos provoca a ter um conhecimento embasado por fatos e não achismos e assim é o cliente. Essa relação é que nos impulsiona a investir em tecnologia, a nos reinventar”, completou.
Lidar com essa geração é falar sobre transparência e meritocracia, afirmou Danilo Caffaro, vice-presidente executivo de Produtos, Negócios, Marketing e Inovação da Cielo. “Não podemos negar o contexto em que as empresas estão. Precisamos ter uma velocidade alta de reinvenção. E para isso precisamos ser muito transparentes nas relações e trabalhar com meritocracia. Os Millennials têm provocado isso a partir da sua inquietude. Eles nos provoca a repensar as respostas”, disse.
É o que também acontece na Telhanorte. Juliano Ohta, diretor geral da marca, afirmou que a empresa se reinventa no sentido de aumentar a agilidade. “A empresa tem 350 anos, atua em um setor difícil, mas nosso presidente quer que ela seja uma startup de 350 anos. Parece incoerente, mas faz sentido. É uma nova cultura, apesar de toda a herança de uma empresa com três séculos”, disse.
As dores de se lidar com os Millennials
Apesar de promoveram mudanças fortes e positivas na empresa no sentido da inovação, os Millennials também têm comportamentos que são difíceis de lidar, de maneira geral. Segundo Marinelli, do Fleury, é preciso trabalhar a paciência. “Eles querem feedback imediato e aí a gente tem de trabalhar muito para ter paciência e mostrar que a vida não é como o Facebook e as relações no trabalho e com os clientes são mais complicadas que isso”, disse.
Marcelo Gobbi, head global de Soluções de Comunicação da Movile, a empresa mais jovem na discussão, também lida com desafios para lidar com essa geração. Para ele a paciência também é a palavra-chave. “O primeiro desafio é o relacionamento interpessoal, porque eles estão conectados o tempo todo e isso faz com que eles acabem perdendo um pouco essa relação. O segundo desafio é a paciência. O líder precisa ajudar no desenvolvimento dessas duas características”, afirmou.
Na Telhanorte, o desafio está em integrar as gerações. “O varejo é muito conhecido por paixão e isso sempre foi uma característica muito valorizada. Mas tem o outro lado: o cliente hoje não acredita mais em tudo. Ele não acredita mais no modelo que funcionava antes. O desafio é como a gente faz a transição da geração apaixonada para uma baseada em dados”, afirmou.
Os executivos, líderes de empresas grandes, concluíram que lidar com os Millennials, ao fim, é uma questão que ultrapassa gerações. É uma questão humana. “Independentemente de gerações, o que sempre vai prevalecer é o relacionamento humano. Os líderes precisam ter empatia”, disse Gobbi, da Movile. “O que a gente precisa é entender que a tecnologia é meio e não fim e como humanos temos as nossas necessidades. Em última análise, somos da Geração ‘H’. Somos humanos e cheios de fragilidades”, lembrou Nasser, do Bradesco Seguros.
Confira aqui a cobertura completa do CONAREC 2017, que tem como tema “Somos todos Millennials”