A pandemia provocou uma série de mudanças no trabalho, nas relações sociais, nas relações de consumo e na vida profissional e pessoal da sociedade, mas o que muita gente não esperava era ver essas alterações acontecerem de uma forma tão veloz.
A digitalização virou palco para novos modelos de negócio e criou espaço para muitas ressignificações. O painel “Pílulas do dia: 4 grandes insights por 4 mentes provocadoras”, do CONAREC 2020, abordou quatro esferas presentes na sociedade atual – inclusão social, saúde, criatividade e propósito – e como elas se tornaram importantes no momento de pós-pandemia.
Acessibilidade física e digital
Como será que é ver o mundo totalmente em aceleração, mas não ter disponível um suporte que inclua um grupo da sociedade? Esta foi a primeira provocação do painel que tratou sobre a falta de inclusão social para pessoas com deficiência (PCD) no mercado de consumo.
Cid Torquato, Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo, faz um panorama sobre a falta de acessibilidade física no comércio em geral. No Brasil, tem cerca de 15 milhões de pessoas com deficiência que ainda não têm acesso ao comércio no que se refere à possibilidade compra, devido à falta de acessibilidade física.
“Não é um problema das grandes empresas brasileiras de comércio, o problema é no pequeno comércio”, avalia. “É muito importante que as lojas físicas se adequem e cumpram a lei. Não é difícil ser acessível, é uma questão de vontade e de quebrar esse preconceito que faz com que as pessoas vejam investimentos dessa natureza como desinteressantes ou inúteis”, afirma o Secretário.
Mas o problema não é só a acessibilidade física. O fechamento das lojas e o crescimento acelerado do comércio eletrônico mostrou que o problema também está no ambiente digital. No Brasil, a acessibilidade digital também é lei. De acordo com o secretário, o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG) tem como principais objetivos, promover a inclusão social e diminuir as desigualdades.
Só que na prática não é o que acontece. “Hoje, apenas 5% dos sites em operação são acessíveis segundo as regras do eMAG, que são os princípios de acessibilidade digital publicado pelo Governo Federal”, afirma Torquato.
“A agenda da deficiência tem a questão fundamental para que a inclusão da pessoa com deficiência possa existir”, conclui Cid.
O valor da saúde
“Por causa da pandemia, a assistência médica no mundo inteiro dramatiza a necessidade de se introduzir na saúde novos critérios para viabilizar o processo que aconteceu em todos os setores da economia.” É o que diz o CEO e Fundador da Innovatrix, Projetos de Inovação, Clemente Nobrega.
O segundo especialista a se apresentar no painel defende a necessidade de percepção do conceito de saúde com base em valor. “Os consumidores só pagam pelo que percebem ter valor. Esta percepção se forma a partir da expectativa dos benefícios que ele espera obter. Chamamos esses benefícios de desfechos”, diz. Ele usa como exemplo a comparação das máquinas de barbear ofertadas no mercado anos atrás e atualmente. “Os designs desses produtos vão incorporando demandas visuais e ao mesmo tempo tornando os produtos mais acessíveis e melhores”, afirma.
O CEO e Fundador Da Innovatrix – Projetos De Inovação explica que na saúde, não é possível constatar a mesma condição de valor obtido em relação aos produtos. “O consumidor não sabe o que está pagando, ele acredita, mas não tem informação sobre os desfechos gerados pelo médico ou pelo prestador que trata da condição de saúde que ele tem”, comenta. “A ideia de desfecho em saúde é a mesma ideia do desfecho que existe em marketing e que está por trás dos processos de adoção de qualquer produto ou serviço. Eu pago por alguma coisa se minha expectativa em relação ao benefício que eu vou obter é concretizado”, conclui o executivo.
Mente criativa
Criar, ressignificar e se adaptar são palavras-chave para definir o cenário pós-pandemia. Usar a criatividade para desenvolver novos modelos de negócio é uma boa saída para quem quer iniciar a trajetória no empreendedorismo durante o a pandemia. Patricia Bernal, Fundadora do Ih!Criei, ajudar a entender como essa relação de produção é estabelecida nesse novo jeito de consumo e demanda do mercado.
“Hoje, dentro da economia criativa temos diversos segmentos que já estão consolidados no meio digital. Eles permitem que o profissional criativo trabalhe em qualquer lugar do mundo e que corporações e investidores vejam nos criativos um valor agregado e uma possibilidade não só de lucro, mas de transformação social”, diz a Fundadora do Ih!Criei, portal dedicado à Economia Criativa com foco em carreira, empreendedorismo, negócios e gestão.
Ela apresenta exemplos de modelos de negócio de empresas da área de alimentos, teatro e música que se destacaram no meio digital, na medida que as vendas nas lojas físicas foram impossibilitadas por conta da pandemia. Para a especialista, no mundo digital se deve considerar as possiblidades de rentabilidade dos produtos e serviços e não apenas o valor unitário do produto.
“Claro que, em um ambiente como esse quanto mais gente, maior será a concorrência e, consequentemente, haverá uma variação de valores e preços. Mas se a pessoa conseguir entender o modelo de negócio e adaptar para o seu, é possível ter uma rentabilidade muito positiva que pode chegar a 50% de faturamento via aplicativos”, afirma.
Mas, apesar dos benefícios trazidos, a economia criativa encontra desafios. Para Bernal, eles são: investimentos, tempo de criação, gestão de negócios, organização e planejamento, tecnologia e priorização. “Um dos desafios dos profissionais criativos é priorizar. São tantas boas ideias e projetos interessantes que há uma dificuldade de priorizar qual se deve fazer primeiro. São ideias apaixonadas que nascem de um incomodo, de um por que com sentido. Então essa é uma das dificuldades que percebo que atrapalha muitos negócios, projetos e ideias criativas de existirem no mercado.”
“Mudança de era”
“Vamos precisar de uma solução que seja tecida junta, justamente para poder lidar com essa quantidade de mudanças.” É o que diz Sabina Deweik, caçadora de tendências, futurista, educadora e coach ontológica ao avaliar o atual momento pós-pandemia.
Segundo ela, o mundo não está passando por uma era de mudança. O termo que melhor define essa atual realidade é a “mudança de era”, com mudanças que afetaram o ambiente de trabalho, o mercado de consumo, os comportamentos e as relações pessoais de todas as pessoas.
Deweik aponta que estamos vivendo uma nova economia: a Economia da Língua. Segundo ela, esse novo modelo econômico é definido através da centralização da gastronomia para estimular sentidos que são importantes para o consumidor nessa nova era. “O consumidor quer ser ativado 360 graus através de todos os tipos de experiências olfativas, táteis, voz, gestos e a tecnologia está aí para nos ajudar a ativar todas essas experiências”, diz. “É por isso que a gastronomia fica no centro de toda essa encarnação de toda economia. Ativar o sentido da autenticidade e da transparência é muito importante para o consumidor”, explica a Coach Ontológica.
Sobre as novas gerações, Deweik conta que “as pessoas hoje buscam cada vez mais por sentido”. Ela explica que a ideia de propósito tomou grandes proporções nos campos dos negócios nessa nova geração. “As empresas começaram a pensar a questão do propósito, a busca por sentido e isso impactou todas as esferas da nossa vida”, afirma.
A caçadora de tendências, futurista, educadora e coach ontológica ressalta que as novas mudanças impactaram a vida de todo o mundo decorrente de uma série de problemas que já vinham aparecendo antes da pandemia, mas com a disseminação do vírus esses impactos foram acelerados.
“Mudanças que demorariam décadas para acontecer, aconteceram em meses. Para que possamos lidar com esses novos cenários, é preciso estarmos atentos aos sinais, no sentido da gente se adaptar e surfar essa nova onda, porque toda onda vem com uma energia muito grade de mudança, mas podemos surfar essa nova onda ou deixar que ela nos afogue”, conclui.
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