A inovação vai deixar nossa alimentação mais saborosa? Pensar em como a tecnologia vai modificar nossa maneira de comer parece assustador. O SXSW explorou bastante essa questão. Um dos painéis, trouxe uma combinação de profissionais que amam alimentação sobre todas as coisas: Regina Anderson, diretora executiva da Food Recovery Network, Tony Hillery, diretor executivo do Harlem Grown, Danielle Nieremberg, presidente da Food Tank, (think tank for food) e Haile Thomas, palestrante e ativista de bem-estar, CEO da Happy para compartilhar suas histórias de esperança e sucesso. Jovens líderes que trabalham em campos, cozinhas, salas de diretoria e laboratórios em todo o mundo para tornar o sistema alimentar mais ambiental, econômico e socialmente sustentável. Mas a próxima geração também enfrenta imensos obstáculos: os jovens agricultores enfrentam competição severa, os jovens empreendedores muitas vezes assumem dívidas enormes e os jovens líderes precisam de mais apoio, mais pesquisa e mais investimentos. Esses jovens líderes vêm de diversas origens, mas todos concordam que as atuais práticas de produção e consumo de alimentos são insustentáveis. Como empreendedores sociais, eles estão encontrando novas maneiras de educar e inspirar e mudar a forma como o mundo produz e consome alimentos.
O papel da agricultura nos dias de hoje
A agricultura é uma atividade em envelhecimento acelerado ao longo do mundo, particularmente nos EUA. Mais de 60% dos trabalhadores de fazendas hoje têm mais de 50 anos. Por que a produção de alimentos não atrai mais os jovens? O fato é que a agricultura é uma atividade muito associada aos baby boomers, o que pode trazer implicações sérias para a segurança alimentar. É necessário aumentar a visibilidade e a atratividade da atividade agrícola para os mais jovens. Pessoas como Haile Thomas,que criou a Happy (Healthy Active Positive Purposeful Youth) e mal saiu da adolescência. Ela reconhece que a carreira no campo não traz glamour e, fundamentalmente, perdeu o senso de propósito para os mais jovens. Na opinião dessa legítima representante da Geração Z, o trabalho agrícola precisa resgatar sua relevância. Tony Hillery afirma, com razão que a maior parte das pessoas vive nas cidades e essa tendência demográfica cria uma enorme insegurança alimentar. No entender desse ativista, a questão alimentar passa por reconhecer que o sistema falha e não parece capaz de solucionar o aumento da pobreza.
Regina Anderson concorda que vivemos em um mundo urbano, mas ainda assim, ela diz que há muita gente disposta a ajudar, a participar de comunidades e resolver problemas como a falta de segurança alimentar. A associação que comanda – Food Network – consegue engajar estudantes para que se dediquem a alimentar aqueles que precisam, por meio de campanhas e atividades diversas. Há poder transformador no mundo, apesar da nossa tendência de continuamente classificar e rotular pessoas. “Perspectiva é tudo”, afirma Haile. “Eu venho de uma família de classe média, e é sempre uma surpresa ver comunidades diferentes, suas carências e problemas básicos, como falta de informação. Eu acho que precisamos fazer mais por comunidades carentes, como geramos mais oportunidades para pessoas jovens, como desenvolvemos novas capacidades e habilidades para impulsionar empreendedores nesses ambientes mais pobres”, conta a jovem, mas acredita que fome, comida é um passo importante, mas tem que vir acompanhado de muitos outros.
Não existem balas de prata
Metrópoles como Nova York, São Paulo ou Paris trazem um problema sistêmico: a maior parte de seus cidadãos tende a se confinar em conchas e bolhas e a ignorar quase completamente as necessidades dos mais carentes. É um ciclo consistente que normalmente faz crianças sofrerem enquanto as pessoas perdem sua empatia e esquecem de que podem ajudar quem realmente precisa. Levar comida para quem precisa vai além de exercer humanidade, é acelerar a solução de problemas que já estão conosco há tempo demais. “De que adianta as brilhantes capacidades das pessoas que têm mais, de eventualmente fazerem algum trabalho voluntário e não exercerem o privilégio da vida que levam para realmente propor soluções que resolvam problemas reais?” pergunta a corajosa Haile. Mas segundo Regina não existem balas de prata para resolver questões complexas. É necessário trabalhar duro, trabalhar melhor, trabalhar bem e praticar a camaradagem, para que as pessoas possam fazer da diversidade um valor e um estado de compreensão que não discrimine ninguém, quem tem mais recursos, menos recursos, mais ou menos condições. “Os humanos são paradoxais e por isso precisamos aceitar todos como são, mas lutar para que possam se engajar na causa de quem precisa”, observa.
De todo modo, as variáveis que podem resolver a carestia estão conectados e mais do que nunca, as pessoas precisam compartilhar experiências, jornadas pessoas e histórias para formar redes que tenham a capacidade de fazer mais e ajudar a resolver problemas que minimizem a fome, a insegurança alimentar e propiciem uma vida sustentável para o máximo de pessoas. As discussões do SXSW levam alimento para a alma e a mente das pessoas, encorajam mais gente a a acreditar que os problemas podem ser resolvidos. Como diz Regina, “pessoas jovens têm urgência, vivem com mais intensidade e elas podem amplificar esse debate e trazer mais soluções reais mais rapidamente”. A energia de um evento como esse não precisa totalmente canalizado para as mídias sociais, mas para resolver problemas reais, assumir a liderança de causas que fazem a diferença no mundo. “No fim das contas, o que nós fazemos é o que conta. Não devemos esperar pelos governos, nós é que temos o poder da mudança”, concluiu a notável Haile Thomas, de maturidade impressionante para quem tem apenas 18 anos de idade.