A crise econômica não vai deixar de mostrar seu impacto tão cedo. Por causa dela, os índices de inadimplência só vão se recuperar a partir de 2018, segundo a Associação Nacional dos Birôs de Crédito (ANBC).
Segundo a Associação, essa demora deve-se fundamentalmente a tendência de aumento do desemprego, principal causa da inadimplência a partir de 2015 – que eleva o endividamento.
Além disso, há uma queda na renda real da população. Se no ano de 2015, a renda média real do trabalhador teve um recuo de 0,2%, em termos reais, frente ao ano de 2014, apenas no primeiro trimestre deste ano, a queda na renda real já é de 3,2% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
Diante desse cenário, os brasileiros atrasam suas contas e têm mais dificuldades até com as contas básicas, como luz, água, telefone, plano de saúde, mensalidades escolares, prestações de financiamentos.
Outro fator que impede com que a inadimplência recuo de forma mais rápida, segundo a Associação, é a manutenção de uma nova lei paulista, que ao dificultar ainda mais a obtenção de empréstimos às famílias para saldarem suas dívidas, estenderá o problema de aumento da inadimplência por tempo indeterminado.
A Lei paulista nº 15.659/15 impõe a substituição da carta simples de aviso sobre as dívidas, com aviso de postagem, usada há mais de 30 anos, pelo modelo com aviso de recebimento (AR) para o devedor, e a respectiva assinatura no aviso antes da inclusão do nome na lista de inadimplentes.
A Lei está em vigor há oito meses e, segundo a Associação, dificulta a recuperação do crédito e o acesso das famílias aos empréstimos, agravando a inadimplência.
Isso porque, segundo a Associação, a comunicação com AR não é benéfica nem para as empresas tampouco para os consumidores. Para as empresas, ela custa sete vezes mais. Para os consumidores, há ainda mais restrição de crédito, porque como não possuem informações atualizadas, as empresas, principalmente de varejo, reduziram a concessão de crédito.
De setembro de 2015 a fevereiro deste ano, o crédito ao consumidor no Estado de SP cresceu apenas 2,5%, ao passo que nos demais Estados o crescimento acumulado foi de 3,5%. Isso representa uma redução de R$ 4,2 bilhões no crédito às famílias em São Paulo, afetando principalmente as de mais baixa renda.
“Se o credor não tem informação atualizada, não pode prever a probabilidade de o consumidor pagar a dívida e por isso não arriscará conceder crédito. Se o fizer, cobrará taxas de concessão e juros mais altos, suficientes para cobrir o alto risco de não receber”, argumenta a Associação.