Nem sempre as pessoas possuem uma boa relação com o dinheiro. São poucos os brasileiros que conseguem poupar e investir. Na verdade, a grande maioria tem insegurança com o mercado financeiro, se equilibra para tentar fechar as contas no azul para evitar a inadimplência. A trajetória econômica do nosso país contribuiu para esse cenário. As constantes trocas de moedas, sobretudo nos anos 1980 e 1990, e a inflação pesada nesse período corroeram a confiança das pessoas. Tanto que no primeiro sinal de instabilidade, os juros sobem, a renda cai novamente, a inflação avança e as famílias voltam a ter dificuldades para pagar suas contas. É um ciclo vicioso, mas que pode se encerrar com pequenas ações individuais.
Um problema complexo e crônico como esse, evidentemente, possui explicações. Dois fatores se destacam na atual conjuntura: o primeiro deles diz respeito ao próprio cenário econômico que estamos passando atualmente; os efeitos da pandemia de covid-19 que está “cobrando” sua conta, os acontecimentos externos (como o conflito entre Rússia e Ucrânia) e a própria dificuldade do país em conter uma crise que se arrasta por anos e impactam diretamente no desempenho da economia nacional.
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Os índices de desemprego são afetados, ainda que tenha caído de um ano para cá, e também, as taxas de juros que sobem para conter a inflação. Em suma: está muito mais difícil de pagar as contas realmente, já que a capacidade e propensão de pagamento das pessoas físicas e jurídicas piorou.
O estudo Raio X do Investidor Brasileiro, realizado pela Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e Capitais, mostra que 61% da população do nosso país não investiu em nada durante o ano de 2021 e apenas 23% colocou o dinheiro em poupança.
Isso só prova o quanto falta em nós uma cultura e uma educação voltada às finanças para evitar a inadimplência
Não se trata de ser expert em economia, mas de compreender técnicas e situações que podem ajudar (ou prejudicar) o orçamento pessoal. Ainda que o contexto seja desafiador, é possível, pelo menos, não acumular mais dívidas. Poucos receberam esse cuidado na infância, e certamente muitos se lembram das dificuldades enfrentadas pelos pais e avós em outras épocas. Mas podemos mudar isso.
Tanto para aqueles que já possuem dívidas, como também para aqueles que desejam parar de sofrer para pagar contas em dia, evitando a inadimplência, algumas recomendações são bem úteis. A primeira delas, evidentemente, é fazer um planejamento financeiro diante de sua realidade. É um procedimento simples: basta somar todas as receitas entrantes e subtrair as despesas do mês. Não gastar mais do que ganha é o primeiro passo.
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Essa técnica é vital porque é a partir dela que a pessoa consegue avançar na contenção dos gastos. Afinal, é preciso adequar as contas àquilo que a família realmente ganha. Isso significa que é preciso cortar alguns gastos supérfluos e substituir antigos hábitos, optar por produtos de qualidade, mas com preços melhores. Evitar o desperdício como uma torneira pingando, um banho mais demorado ou uma luz acesa desnecessariamente, por exemplo, são pequenos gestos que além de ajudar nosso planeta também ajudam no orçamento no fim do mês.
A melhor maneira de lidar com as dívidas é enfrentar a situação com total transparência junto ao credor
Numa negociação, em via de regra, funciona, afinal um acordo e/ou uma renegociação amigável sempre são melhores que uma demanda judicial, que, neste caso, todos “perdem”, pois os altos custos e despesas de um processo jurídico, aliados às correções e multas, dificultam ainda mais a quitação da dívida e posterga a situação de inadimplência.
Outro ponto importante é não estourar limite da conta e/ou do cartão de crédito. Isso só é aceitável apenas em situações urgentes e não planejadas, que infelizmente acontecem. Por isso, que é importante ter sempre uma reserva em dinheiro disponível.
A conjuntura econômica externa não conseguimos alterar, mas temos o poder de transformar nossa própria vida por meio das nossas escolhas. Assim, para que a inadimplência pare de assustar as famílias brasileiras, é preciso mudar primeiro a própria relação que as pessoas têm com o dinheiro. Quando se coloca a casa em ordem, o ambiente lá fora pode até ser difícil e complicado, mas conquistando saúde financeira garantimos qualidade de vida. Tranquilidade não tem preço!
*Eric Garmes é co-founder da Paschoalotto
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