Em um recente encontro entre religiosos e cientistas no Vaticano, o Papa Francisco opinou sobre o avanço da inteligência artificial nas rotinas humanas. E exibiu sua preocupação quanto ao uso pouco consciente da tecnologia. Entre outros temas, o encontro abordou temas sensíveis tais como a “corpo e alma” e um mundo cada vez mais mecanizado e também aspectos morais sobre o uso da IA, o que poderia resultar em uma discussão sobre a criação de leis de proteção para robôs.
A discussão ocorreu no seminário “Roboética: Humanos, Máquinas e Saúde” foi sediado no fim de fevereiro na Academia Pontifícia da Vida. O encontro, realizado há 25 anos, surgiu por iniciativa do papa João Paulo 2º, em resposta a rápidas mudanças em biomedicina. Seus temas de estudo incluem avanços em técnicas de alteração de genoma humano.
Este ano, o tema do encontro colocou o paralelismo entre alma e a crescente quantidade de robôs artificialmente inteligentes. Na abertura do encontro, o papa Francisco apresentou uma carta onde menciona o paradoxo do “progresso” e adverte contra o desenvolvimento de técnicas sem antes pensar nos impactos negativos que elas podem ter na sociedade. “Antes de tudo é preciso compreender as transformações que se anunciam nestas novas fronteiras, para identificar como orientá-las ao serviço da pessoa humana, respeitando e promovendo a sua intrínseca dignidade. Uma tarefa muito exigente, dada a complexidade e a incerteza sobre os desenvolvimentos possíveis”, diz a carta de Francisco publicada pela agência britânica de notícias BBC.
Alma
Pelo lado da ciência, um dos palestrantes foi o professor japonês Hiroshi Ishiguro. Ele defende a ideia de que a humanidade precisa evoluir para além dos nossos corpos orgânicos para algo mais duradouro e que poderia armazenar “a nossa alma”.
“Nosso objetivo máximo de evolução humana é a imortalidade, substituindo nossa carne e ossos por material inorgânico. A questão é (adaptar nosso corpo) para caso algo aconteça no planeta, ou com o Sol, de modo a não conseguirmos viver no planeta e tenhamos que viver no espaço. Nesse caso, o que é melhor: materiais orgânicos ou inorgânicos?”.
O arcebispo Vicenzo Paglia, presidente da Academia Pontifícia da Vida, mostrou preocupação com a afirmação e disse ser impossível separar o corpo da alma. “A carne é o corpo com alma, e a alma é o espírito com carne”, declarou Paglia. “O corpo é muito importante para seres humanos. Através do corpo nós amamos, abraçamos e nos comunicamos uns com os outros. De um lado, estamos cientes desse progresso incrível, mas de outro sentimos que esse avanço pode causar riscos ao mundo. O risco é esquecermos que somos criaturas, e não criadores.”
Direitos dos robôs
Outra reflexão feita no encontro foi à discussão sobre a criação de direitos dos robôs no futuro. Afinal, é preciso pensar em garantias fundamentais de existência para máquinas.
Ishiguro defendeu a aprovação de leis e comparou com a crescente quantidade de legislações para garantir a proteção de animais de estimação.
Uma das vozes contrárias foi Christiane Woopen, líder do EGE e professora de Ética e Teoria da Medicina na Universidade de Colônia (Alemanha). “Não compartilhamos da opinião de que robôs tenham de ter direitos”, disse Woopen. “Direitos pertencem a pessoas e dizem respeito a questões fundamentais, como dignidade humana e autonomia. Esses direitos se referem a pessoas, seres humanos, e à Carta fundamental de direitos da UE.”
O fato é que o Grupo Europeu de Ética na Ciência e nas Novas Tecnologias (EGE, na sigla em inglês) lançou no ano passado um relatório enfatizando “as urgentes e complexas questões morais” levantadas pelo avanço da Inteligência Artificial na robótica. O grupo defendeu a necessidade de um modelo coletivo e colaborativo de trabalho, de modo a definir um conjunto de valores em torno do qual a sociedade se organizaria, e o papel das novas tecnologias nisso.
Com informações da BBC Internacional