Muito se fala em como as empresas estão tirando proveito da Inteligência Artificial (IA) para extrair dados, potencializar ganhos financeiros, conhecer os hábitos do consumidor, ofertar produtos personalizado, o que é extremamente louvável, admirável e considerável. Por outro lado, pouco se explora como essa poderosa ferramenta que revolucionou a forma como vivemos em sociedade pode ser um impulsionador para o equilíbrio de questões sociais complexas e históricas.
Em um país com mais de 200 milhões de habitantes onde a pobreza, desemprego, disparidade econômica, desigualdade racial e a exclusão social avançam como nunca visto na história, as certezas sobre a agenda de 2030 que prevê a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades parecem cada vez mais distantes. Diante desse cenário tão desafiador enfrentado há anos no Brasil, a IA se apresenta como esperança para ajudar e auxiliar no combate para superar essas assimetrias econômicas e sociais. Chegou a hora de adentrarmos em águas mais profundas e refletir sobre como o uso dessas tecnologias para pode tornar o mundo mais equitativo e incluso.
Para Luis Guedes, professor da FIA Business School, a IA tem potencial para equilibrar o ecossistema social “O potencial da IA para reduzir as disparidades é enorme, mas também o são os riscos éticos. Tanto as empresas como os governos precisam garantir que a adoção ampla de IA não perpetue as desigualdades sociais e econômicas existentes. A boa governança e as práticas éticas devem estar integradas em todas as iniciativas de IA para garantir que a tecnologia sirva como uma ferramenta para a melhoria da sociedade e não como um risco de se aprofundarem as injustiças e assimetrias”.
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Uma reflexão para empresas e governos
O professor acredita em uma colaboração conjunta entre empresas e governo para reduzir as disparidades econômicas e sociais para então o Brasil caminhar para um futuro com novas perspectivas. “As empresas também podem empregar IA para otimizar as suas cadeias de abastecimento, especialmente no agronegócio e na indústria de transformação. Isto torna os produtos mais acessíveis e pode dar subsídio a uma distribuição mais equitativa de bens essenciais. Além disso, a análise de dados baseada na IA pode orientar as iniciativas de Responsabilidade Social Corporativa (RSE), ajudando as empresas a investirem os seus recursos onde podem ter o maior impacto social”, explica.
Embora as empresas possam tomar medidas significativas para alavancar a IA para o bem social, o papel do governo, na visão de Luis Guedes é fundamental nessa área. “A IA pode apoiar a elaboração de políticas de alocação de serviços públicos levando em consideração um conjunto de dados maior que normalmente um formulador de políticas públicas humano faria, mesmo que em conjunto” defende.
Em um estudo global realizado pela consultoria McKinsey revela uma estimativa de como a IA pode transformar o cenário econômico mundial. De acordo com as projeções, a inteligência artificial está projetada para gerar US$ 13 trilhões até o ano de 2030. Esse dado mostra como a utilização da IA está se tornando cada vez mais essencial em diversos setores, e as ONGs (Associações Não Governamentais) não estão fora dessa tendência.
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O Papel das ONGs
Rosi Teixeira, head de tecnologias emergentes e comunidades da Thoughtworks, acredita que as ONGs são um agente crucial para o desenvolvimento sustentável.“A IA pode ser utilizada para apoiar como as ONGs mensuram o seu impacto social” afirma. “No caso de ONGs, a IA auxilia no cruzamento de dados para avaliar o impacto social de ações, na personalização de ações com base na realidade mapeada da população que afetam, na análise da conjuntura existente no entorno das ações que fazem parte do foco da instituição, no apoio a processos de aprendizado e na construção de campanhas” explica.
Nos próximos anos, a IA vai acelerar tendências e movimentos do mercado de tecnologia e caberá a toda cadeia de valor uma atenção às mudanças disruptivas que será provocada na sociedade “Nos próximos anos, veremos uma mudança muito grande na forma com a qual desenvolvemos software, na forma como mapeamos jornadas de usuários e como definimos estratégias de tecnologia. Deve acelerar também as discussões e ações (eu espero) no entorno de sustentabilidade e tecnologia responsável” analisa Rosi Texeira.
Os desafios de IA na transformação social
A especialista Renata Gusmão, Diretora de Transformação Social da Thoughtworks para a América Latina, chama atenção para os impactos que a IA tem causado na sociedade. “Os efeitos da IA sendo utilizada em escala usando dados históricos de uma parcela da população, podem aumentar injustiças contra maiorias historicamente invisibilizadas, por isso, é preciso combater ativamente o uso e construção de uma IA enviesada e mapear os efeitos e potenciais consequências (intencionais ou não) do seu uso”
A especialista complementa que os maiores desafios estão relacionados à análise dos impactos da IA e o respeito à privacidade das pessoas. “Os caminhos para que o uso de IA promova impactos positivos na sociedade passam por fazermos um uso responsável dessa tecnologia. É preciso criar processos de trabalho que constantemente atuem para mitigar os possíveis impactos hostis da tecnologia”.
A IA tem o poder de ser uma força transformadora na luta contra as disparidades em nossa sociedade. Na visão do professor da FIA é essencial equilibrar seu potencial com a responsabilidade ética “Tanto as empresas como os governos precisam garantir que a adoção ampla de IA não perpetue as desigualdades sociais e econômicas existentes. A boa governança e as práticas éticas devem estar integradas em todas as iniciativas de IA para garantir que a tecnologia sirva como uma ferramenta para a melhoria da sociedade e não como um risco de se aprofundarem as injustiças e assimetrias” finaliza.
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