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A Inteligência Artificial na visão do design

A Inteligência Artificial na visão do design

SXSW explora o potencial da IA para modificar a noção de valor das ideias e das coisas. Um campo fértil no qual a curiosidade intelectual pode prevalecer sobre a burocracia e os vieses humanos

É possível acreditar que a Inteligência Artificial Generativa tem potencial significativo de estabelecer maior colaboração entre pessoas e lançar as bases de métodos mais consistentes para resolução de problemas? Iaona Teleanu, Senior Product Designer da plataforma de colaboração Miro abordou esse assunto espinhoso em uma apresentação surpreendente no SXSW 2024. Ioana não é uma entusiasta da IA, mas sim uma entusiasta do que podemos desenvolver, como podemos expandir limites e ensinar pessoas a se tornar mais éticas e responsáveis nos manuseio da tecnologia. A designer acredita que devemos assumir a responsabilidade de calibrar as fundações que irão estabelecer o bom uso de IA. 

Segundo Ioana, os sistemas de IA vieram para ficar. E como podemos usar IA para criar designs realmente importante e úteis para as pessoas? Como se faz design para sistemas de IA? A premissa é que qualquer tecnologia é sempre uma conjunção de ferramentas. Novas ferramentas que devemos aprender a utilizar, porque nós incialmente as modelamos, e depois elas nos modelam. No mundo do design, há uma crença de que ainda há muito por fazer no mundo e então extrapolar esse design para os consumidores.

O design da decisão 

A experiência humana é largamente definida pela qualidade das decisões que tomamos em nossas vidas. E sim, é necessário criar designs para decisões, defende Ioana. Essa disciplina traz responsabilidades sensíveis para executivos e criadores, engenheiros e programadores. Os sistemas de IA não são maldosos por design, por princípio, são espelhos de nossos vieses. A oportunidade é justamente refletir sobre o “senso dos dados”, o sentido e a forma pelas quais os dados irão modelar IAs mais permeáveis à uma sociedade equilibrada e sem preconceitos.

“Temos de pensar também em Inteligências Artificiais com design baseado em probabilidade, para englobar comportamentos imprevisíveis ou não-determinístico”, afirma a executiva. Essa carga de responsabilidades que depositamos sobre nós mesmos como humanos, diante da tecnologia, é imprescindível. São muitos os nossos deveres diante dessa nova tecnologia, de sua flexibilidade e plasticidade. Quando desenharmos sistemas não convencionais, é fundamental pensar o que vem depois deles, o que eles podem gerar, que consequências podem trazer e que responsabilidades teremos com o inesperado. Porque as possibilidades estão abertas para aplicar IA em todos os aspectos da vida humana, mas muitos deles são delicados demais para serem deixados sem conformidades e regramentos.

Ioana toca em pontos realmente muito sensíveis para essa nova era que estamos vivendo. É necessário entender que estamos vivendo o início da tendência de Human ai, um período de transição entre uma forma de organização baseada nos vieses humanos e nas nossas crenças e narrativas imaginárias, para outra era, baseada em dados, premissas, probabilidades, inteligências artificiais que se somam e criam possibilidades de exploração de novos modelos políticos, sociais, econômicos e comportamentais, potencializando comportamentos e habilidades humanas.

Toda IA deve estar orientada a explicar as diversas fontes que permitiram chegar a determinados resultados. Ioana trouxe um insight extraordinário sobre essa mudança que vivemos: estamos modificando o que valorizamos e como valorizamos. A era digital, combinada com Inteligências Artificiais Generativas modifica o valor das coisas. Iremos valorizar em que medida o que é criado por um humano e por um sistema? Como iremos atribuir valor na escala de produção dos sistemas digitais? A questão da velocidade de produção pode desconstruir o sistema de atribuição de valor de objetos, estratégias e trabalho de grupo, por exemplo.

O futuro é híbrido

Normalmente, novas tecnologias produzem efeitos que endossam e consolidam determinados elementos. Muitas tecnologias colaboram para manter os privilegiados ainda mais privilegiados. Porém, com a IA, e pelas suas características, há muitas aberturas para que ele seja utilizado por bilhões de pessoas e ajude a pensar e a embasar decisões e disseminar informação qualificada para pessoas que essencialmente estariam fora do jogo competitivo. Será uma visão idílica do futuro? Ou será uma oportunidade de dar mais oportunidades a mais pessoas, a realmente criar designs de sociedades mais justas e equilibradas?

Interações e experiências

IA baseada em interações reais e processos de conexão qualificados resulta em experiências mais compensadoras para consumidores. Para, Ioana, pela primeira vez na história temos a oportunidade de criar sistemas capazes de decifrar INTENÇÕES. Essa capacidade cognitiva muda essencialmente a maneira pela qual as interações acontecem. Compreender a intenção submersa nas interações com os consumidores é um game changer e fará empresas mais sensíveis às motivações das pessoas.

Do mobile first ao AI first – IA +CX

Sim, o fenômeno agora é considerar o design de produtos e serviços desenhados a partir do princípio  AI First. Como um novo produto ou negócio tera sentido quando ACOPLADO à uma IA? Mais um insight poderoso da designer da plataforma Miro no SXSW. Produtos desenhados para IA, a partir de IA terão maior capacidade de encantar e gerar interações significativas com os clientes em uma escala inédita na história humana. IAs oferecem capacidades de personalização únicas e, novamente, em um escala inimaginável, sempre inserida em um contexto que compreende o momento do cliente. Logo, por consequência, produtos IA first são mais preditivos e adaptáveis às inquietações e mudanças de sentimento e identidade do consumidor.

Ora, temos então um momento raro no qual a informação estará sempre organizada e estruturada para análise e para acionar processos de decisão de alta qualidade. O desafio é saber quais empresas e lideranças estarão dispostas a utilizar IA dessa forma e não como uma simples ferramenta rasa de redução de custos. O bom uso da IA irá determinar novas habilidades e novos empregos que possam lidar com os impactos dessa tecnologia em todas as dimensões possíveis.

Uma boa aposta é pensar em empresas com capacidade  de aprendizado contínuo. Segundo Iaona, será uma condição necessária para evoluir e manter competitividade.  Adotar IA tem potencial de corroer as fundações de empresas baseadas em comando e controle. Ela requer empatia, segurança psicológica e times e esforços multidisciplinares, incomuns e estranhos a empresas tradicionais e com gestão centralizada. Caso contrário, a IA não terá função e será utilizada de forma decepcionante. IAs não são sistemas de redução de custos por si. São sistemas de cognição e produção de informação aplicada a tarefas em escala abundante. 

IA é a experiência do usuário otimizada

O designer, o redator de prompt, o criativo, o líder, todos serão sempre os responsáveis pelo que a Inteligência Artificial irá produzir. Sempre haverá um humano como gatilho, como indutor e condutor do que a IA faz, fez e fará. Ela poderá criar rupturas sensíveis na velocidade com que os sistemas e plataformas se adaptam aos clientes, para buscar linguagens e formas de interação mais confortáveis para todos.

Ioana Teleanu trouxe insights valiosos e realmente inquietantes e originais para ajudar a refletir sobre essa nova realidade. Estamos diante de uma nova etapa da história humana. Pensar na IA e suas possibilidades como disrupção que veio para ficar, acelera a experimentação e torna a curiosidade intelectual uma força para o bem comum. Temos uma ferramenta que aumenta a escala da produção de soluções para problemas complexos e dilemas profundos.

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