As preocupações com a preservação do planeta têm pressionado os modelos econômicos e negócios tradicionais a pensarem em estratégias de proteção ao meio ambiente, como a economia circular. E o momento atual pede um olhar mais cuidadoso para o futuro por parte das empresas, seja pelo comportamento de um consumidor mais consciente, seja pela necessidade de construir um futuro que pensa melhor no mundo.
Para isso, a economia circular cria um ciclo em que o desperdício é reduzido ou mesmo eliminado. Nesses ciclos, os recursos são utilizados de forma eficiente, priorizando insumos renováveis, maximizando a vida útil de um produto e reaproveitando o que antes era considerado resíduo.
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Mesmo empresas com modelos de negócios lineares por natureza, ou seja, que extraem, utilizam e descartam, como petróleo e gás ou mineração, podem introduzir elementos de circularidade em suas operações.
A Braskem, por exemplo, maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas, reduziu sua emissão de gases de efeito estufa em 20% e a geração de resíduos em mais de 60% na última década. A empresa também assumiu o compromisso de neutralizar suas emissões de carbono até 2050, apostando em soluções de economia circular para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Como desenvolver a economia circular
Patrícia Lima é fundadora da Simple Organic, uma marca de cosméticos e maquiagem natural, orgânica, vegana, cruelty free (que não realiza testes em animais) e sem gênero. Em 2019, a marca conquistou a certificação Lixo Zero, reconhecida internacionalmente pelo ZWIA-Zero Waste International Alliance, que atesta ações de gestão de resíduos.
Além disso, a empresa não utiliza caixas como embalagens secundárias, que foram substituídas por embalagens sustentáveis de tecido. A marca também aderiu ao selo Eu Reciclo, que compensa 100% da embalagem primária comercializada, neutralizando o impacto ambiental.
“O que era uma tendência, hoje virou uma urgência, uma necessidade para que todo consumidor e marca pensem nesse momento com um novo mindset, que é permanente, não mais uma ação específica ou algo pontual dentro da sua cadeia de produção”, atesta a fundadora da marca.
Para Patrícia, o mais importante da cadeia circular é trabalhar o conceito como um todo, incluindo o pós consumo e considerando não só o momento em que o produto está sendo criado, mas como ele vai ser descartado, ou reutilizado, e como a embalagem vai ficar no meio ambiente.
“Apostar na economia circular é dar novas origens para algo que seria descartado, olhar a embalagem de uma forma mais inteligente e entender que a responsabilidade não é só da marca, mas do consumidor também. É um olhar de todos com o planeta”, explica Patrícia.
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Exemplos em embalagens
A empresa de Patrícia desenvolveu diversas estratégias para trabalhar suas embalagens com sustentabilidade. Segundo a empresária, assim que uma fórmula é desenvolvida, o próximo passo é pensar nas possibilidades de embalagens para aquele produto.
Confira algumas soluções encontradas:
- Embalagens secundárias (aquelas embalagens externas dos produtos, como caixinhas de papelão ou plásticos da embalagem) foram substituídas por embalagens de tecido.
- Eliminação da dupla camada de plástico, uma prática muito comum na indústria da beleza, já que impossibilita o descarte correto e a reciclagem do material.
- Todas as lojas da marca adotaram a logística reversa para as embalagens vazias, que posteriormente são enviadas para reciclagem. Ao devolver embalagens já utilizadas, o consumidor ganha 10% de desconto na compra do próximo produto.
- A empresa também não trabalha com plástico colorido, já que isso impossibilita a reciclagem do material.
- Por fim, a marca não utiliza plástico para proteger produtos enviados para entrega. O material utilizado é o extrusado de milho, que é biodegradável e, se diluído em água, pode até ser utilizado como adubo para plantas.
Vantagens da economia circular
Ainda segundo Patrícia, as vantagens do movimento da circularidade ficaram ainda mais claras após a pandemia.
“A atitude individual tem um impacto global muito grande. Já a economia circular traz muitos benefícios, sendo o principal o cuidado com as próximas gerações. Por meio da economia circular, conseguimos ter um futuro muito mais positivo do que em uma economia de descarte, sem consciência e sem sustentabilidade envolvida”, atesta.
Além dos evidentes benefícios ambientais, apostar em estratégias de economia verde pode fazer muito bem aos negócios, já que ao reaproveitar materiais, por exemplo, se estabelece maior segurança no aprovisionamento de matérias-primas, aumentando a competitividade.
A economia circular também pode fornecer aos consumidores produtos mais duradouros e inovadores, além de atender aos anseios de um consumidor cada vez mais atento às questões ambientais.
Dados do estudo Global Consumer Insights Survey 2020, da PwC, demonstraram que 43% dos entrevistados esperam que as empresas sejam responsáveis pelo impacto ambiental e 41% esperam que os varejistas eliminem sacolas plásticas e embalagens de itens perecíveis.
Setores em evidência
As empresas dos setores de energia, serviços públicos e recursos naturais têm potencial para desempenhar um importante papel no desenvolvimento de uma economia circular, segundo um relatório da PwC.
Isso porque muitos dos avanços tecnológicos que poderiam acelerar a circularidade estão dentro da esfera de operação desses setores, como inovações na composição e eficiência de materiais, eletrificação, produção de hidrogênio, bioquímica e química sintética, além de captura e uso de carbono.
Contudo, a dependência da indústria de metais em combustíveis fósseis permanece alta. Três quartos da energia mundial da indústria do aço é fornecida pelo carvão. E o processo de produção cria emissões significativas de gases de efeito estufa.
Entre os esforços de inovação em andamento em trabalhar para a produção de emissão zero é o Hybrit, uma iniciativa com a colaboração da siderúrgica sueca SSAB, a produtora de minério de ferro LKAB e a empresa de energia Vattenfall. A tecnologia Hybrit visa substituir carvão fóssil por eletricidade e hidrogênio sem combustível. O resultado seria a primeira tecnologia de fabricação de aço livre de fósseis do mundo, com nenhuma pegada de carbono.
A siderúrgica SSAB diz que espera oferecer os primeiros produtos de aço isentos de fósseis no mercado em 2026. A empresa também espera que em sua base nos EUA, as operações do forno elétrico sejam totalmente alimentadas por energia renovável até 2022.
Até lá, dos gigantes da indústria, passando por empresas de grande e médio porte, chegando nas pequenas empresas, há espaço para que todas se envolvam nos processos de energia circular.
Para Patrícia, fundadora da Simple Organic, todos os setores devem estar atentos para as questões ambientais. “Quem não produz um produto ou vende algo que pode ajudar de outras maneiras, na conscientização, por exemplo? Não tem um setor que não deva estar atento à economia circular, à conscientização do consumidor e às responsabilidades das marcas”, finaliza.
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