Poucas experiências podem enriquecer tanto uma manhã quanto ouvir um otimista. E foi justamente assim que os participantes da II Conferência Sodexo de Qualidade de Vida começaram o segundo dia de evento. Ao contrário do dia anterior, Londres não mostrava seu aspecto tropical – fez frio, enfim. Mas não na sala principal, onde emprestamos nossos ouvidos à Ray Kurzweil, uma das mentes mais preciosas do nosso tempo, diretor de engenharia do Google e cofundador da Singularity University.
Ele começa a palestra contando sobre a história de sua avó que, em 1868, estudou na primeira escola para mulheres da Europa. Ela foi a primeira revolucionária da família e, naturalmente, foi seguida. Contando a respeito de sua trajetória, o futurista revela ter entendido como a máquina de escrever funcionava e isso foi marcante para ele pois, até então, Kurzweil acreditava que entender o funcionamento de algo faria com que a magia se perdesse – como funciona com truques de mágica. Mas, com a máquina de escrever, isso não aconteceu. E também não aconteceria com outras tecnologias.
Essa experiência foi uma entre várias que abriram portas mentais para Kurzweil. Não por acaso, em 1962, ele descobriu a Inteligência Artificial (IA). Conheceu Marvin Minsky, cientista reconhecido como o fundador da IA, que também se tornou mentor de Kurzweil – e assim permaneceu até falecer.
Em sua carreira, estudando ciência e engenharia, Kurzweil identificou padrões em projeções e previsões. Não por acaso, se tornou um visionário, futurista, adivinhador. Nesse sentido, foi capaz de classificar dois tipos de previsões: as exponenciais e as lineares. Naturalmente, esta acontece de forma mais lenta. A outra, mais acelerada. E o que as diferencia é justamente a capacidade de inovar de forma disruptiva.
Nesse sentido, ele comenta que “podemos, hoje, consertar um coração – não no sentido amoroso, mas em um ataque cardíaco”. E o tema de saúde é um dos preferidos do futurista – e tem relação com qualidade de vida. Nesse sentido, ele afirma que poderíamos passar o dia falando sobre avanços em saúde. “Os avanços lineares foram importantes”, comenta. Inclusive, nos ajudaram a viver mais.
Hoje, falamos sem susto que podemos viver mais de cem anos – e não precisamos pensar muito longe, pois isso pode valer para os Millennials, inclusive. Contudo, há poucas décadas, poderíamos não passar dos 60. Como comenta Kurzweil, temos mais acesso às más notícias e, por isso, achamos que a vida está pior. Mas não é o que mostram os dados sobre saúde.
Colocando em prática
Na sequência, Ray mostra que a Lei de Moore é uma comprovação do processo de evolução exponencial. Sua tese envolve cálculos de logarítimos, mas, em resumo, demonstra crescimentos em uma linha reta, representando diversos elementos, como o número de bits enviados ao longo dos anos. O mesmo vale para o tráfego de internet, de hospedagens de internet, da capacidade fotovoltaica.
Naturalmente, a partir desse padrão, Kurzweil desenvolve suas previsões. Entre elas, o desenvolvimento de nanotecnologia para curar doenças dentro do corpo humano ou até mesmo para “inserir” conhecimentos na mente das pessoas e torna-las especialistas em temas completamente novos.
Uma das conclusões mais polêmicas de Kurzweil, porém, é justamente sobre a expectativa de vida: houve crescimento do tempo que vivemos e, para ele, isso não deve mudar. Essa é a tese que apresenta, inclusive, no seu livro The Singularity is Near – ou A Singularidade está próxima, em português. Nesse sentido, ele explica justamente a crença na teoria da singularidade – que consiste na aposta de que haverá um momento em que a humanidade tornará possível não morrer. Para Kurzweil, esse momento tem data marcada: o ano de 2045.