Estamos preparados para um mundo sem Facebook ou mesmo smartphones? Rebeca Moraes, sócia-diretora da consultoria de tendências Aurora, responde prontamente: “não estamos preparados. O que tudo isso trouxe para gente é um caminho sem volta. Hoje precisamos do digital até para acessar o offline. Por outro lado, vamos criar novas comunidades, outros meios. Mas viver sem Facebook já acho difícil”, disse, ao participar do Conarec, um congresso internacional sobre relacionamento entre empresas e clientes, realizado pelo Grupo Padrão, que acontece em São Paulo.
Ao lado de Rebeca, estavam Ana Bavon, fundadora e diretora-executiva do Feminaria, Jacqueline Weigel, CEO da W Futurismo, Paula Gertrudes, VP de Creative Content da agência ACT1ON, e Lucas Mendes, CEO do WeWork. A conversa foi mediada por André Toretta, CEO dA Ponte Estratégia, Planejamento e Pesquisa.
Lucas Mendes dá continuidade à fala da consultora, lembrando que os ambientes de coworking são espaços de comunidade. “Ter essas redes de trabalho no mundo inteiro é uma rede social presencial. A questão dos vizinhos de apartamento que não se conhecem, morando no mesmo pédio, foi o clique dos criadores do WeWork. E nesse ambiente de interação, mais de 30% das reuniões acontecem na área da cozinha, uma área tradicionalmente social, por isso oferecemos cerveja e café, bebidas tradicionalmente socializantes”, conta o CEO do WeWork.
Para Mendes, quanto mais ficamos digital, mais viramos um ser social, já que a interação faz parte da natureza humana, desde os primordios. “Não é ficar desconectado, é se conectar de outra forma”, aponta, concluindo que o smartphone “terá uma vida longa, mas vamos achar formas de misturar a presença física e digital na sociedade”.
A futurista Jacqueline concorda. “Não acredito num futuro que não seja um blended do fisico e do digital. Precisamos entender que a transformação virou uma constante e que as comunidades vão migrar. As empresas precisam entender o comportamento do consumidor. O tempo todo tem que estar de olho ao que está mudando”, orienta. Para ela, a auto-organização em pequenas comunidades é que vai movimentar o mundo nos próximos anos.
Nessa mudança, emenda Toretta, a dúvida é como fazer com que os clientes e marcas se adaptem a este mundo em transformação mantendo uma experiência de sucesso. Rebeca acredita que a percepção de que a tecnologia afasta as pessoas e corta relações é errônea. “As pessoas devem usar essa tecnologia em beneficio das conexões”, diz.
Paula Gertrudes conta que uma forma que ela encontra de estar atenta às mudanças e às novas conexões foi justamente “mudar” seu escritório para o WeWork por alguns dias. “A essência do meu trabalho é fazer recomendações para as marcas criarem essas conexões com seus consumidores. E eu tento ficar próxima ao que está acontecendo, como trabalhar em um coworking, estar aberta e receptiva às mudanças e estar preparada para o que vier de braços abertos”.
Ser verdadeiro
Com a popularização das redes sociais, a exposição do perfil de quem somos também cresceu, e isso vale para as marcas e empresas. Por isso, cada vez mais elas terão que se mostrar verdadeiras para se conectar ao consumidor, caso contrário, a relação não se sustentará. ”Quando a gente faz uma conexão para entender quem é a marca e quem é a pessoa, hoje não tem mais efeito se não for de verdade. As pessoas querem se sentir parte. Independente de como as pessoas interegem, o que importa é que elas estão se mostrando de verdade”, analisa Paula.
“Os consumidores se apaixonam pelas marcas não mais pelo que elas vendem, mas pelo que elas transmitem. A reputação da marca está cada vez mais importante. A missão da marca está cada vez mais ligada ao propósito de cada um. Ele [consumidor] não vai ostentar minha marca se não se identificar com ela”, atesta Ana Bavon, da Feminaria, conusltoria especializada em empreendedorismo feminino. Para a executiva, a cadeia de valor deve estar conectada ao que ela diz que é. “A partir do momento que começo entender a minha transparência como valor, eu consigo me alinhar ao pós-consumidor”.
“Hoje todo mundo conhece as empresas por dentro por meio das redes sociais dos funcionários. Existe uma cobrança de honestidade, que vendam algo que seja autêntico. Metade dos clientes que temos no Brasil são empersas com mais de mil funcionários, que repassam a cultura da empresa para outros”, relata Lucas Mendes.
Então Toretta provoca, perguntando se é possível criar uma metodologia para o futuro, em meio a tantas novidades constantes. “Você não vai mais acertar num produto que dure 15 anos, por exemplo”, anuncia Jacqueline. A futurista acredita que construir o futuro exige método, mas que o futuro será sem forma e sem processos padronizados, com operação e fórmula copiadas de outros. “Temos uma operação viva que se molda todo dia. Ela tem uma ordem, só não tem o controle e copiar, neste cenário, pode ser um desastre. Para disruptar e inovar existe método sim, até mesmo inspiração em terceiros, mas não um padrão”, afirma.
Paula Gertrudes também considera que os processos ainda são importante sim, assim como Lucas Mendes, que diz ainda adotar muitas metodologias da velha economia. “Mas temos a transparência. A metodologia principal é confiar nas pessoas, dividir, estarmos sempre alinhados a qualidade dos processos”.
Lucas ressalta que temos que aprender a desaprender, já que em pouco tempo, conceitos sólidos se desmancham. Então, “como sobreviver ao futuro?”, quer saber Torettta. Para Paula, uma das estratégias é compartilhar conhecimento. Ana aconselha transparência e abraçar as vulnerabilidades. Jacqueline fala em ‘alfabetização’. “Alfabetize-se para o futuro. Reinventem-se. Pense mais no planeta do que na venda. O futuro pode ser incrível, a tecnologia vai nos empurrar para ele e ela precisa encontrar um ser humano diferente. O futuro é plural, portanto, não adote um guru. O futuro vai exigir um ser humano mais exigente, mais respeitoso e mais consciente”.