O comportamento de consumo com base na frugalidade está em alta, sobretudo, pois a pandemia do novo coronavírus provocou uma recessão global de -4,4%. Os dados são do World Economic Outlook do Fundo Monetário Internacional (FMI) e indicam a pior recessão desde a crise de 1929.
A frugalidade está relacionada à segurança financeira e ao controle de gastos, mantendo o conforto e, ao mesmo tempo, evitando desperdícios. O contexto atual, em que a circulação de dinheiro caiu significativamente e a quantidade de pessoas desempregadas bateu recordes históricos em função da pandemia e das medidas de isolamento social, fez com que considerassem esse estilo de vida e padrão de consumo.
O estudo Barômetro de Covid-19 mostra que 61% dos consumidores no mundo estão mais preocupados com a demora na recuperação da economia global e como isso vai afetá-los. Assim, eles estão mais inclinados a poupar ou pelo menos evitar gastos. 70% das pessoas estão de olho nos preços. Outras 42% estão revendo suas prioridades de compras, deixando-as para momentos mais propícios.
A mudança de hábitos para uma vida de frugalidade leva em conta o consumo, os recursos disponíveis no planeta e o aumento dos preços devido à crise. Qualquer mudança de hábito de compra afeta o mercado, as empresas e a maneira com que elas produzem. Entenda o que muda.
O que é frugalidade?
Há várias definições de frugalidade no dicionário, as mais pertinentes para entender a transformação em curso são moderação, sobriedade de hábitos e costumes e simplicidade. De qualquer forma, em síntese, se trata de uma vida quase que minimalista.
Ou seja, com excelente qualidade de vida e conforto, mas utilizando poucos recursos. A questão central para o consumidor é saber o que é realmente importante para si e priorizar produtos que, de fato, que tenham utilidade na vida diária.
Isso vale para diversas coisas, entre elas objetos de consumo diversos, alimentos, roupas, tecnologia, decoração, tempo, dinheiro e até recursos naturais.
A premissa é tomar decisões de compra de olho na utilidade das coisas que são consumidas. Os itens, nessa lógica, são escolhidos com base em aspectos funcionais e só são descartados, substituídos ou reaproveitados, quando sua vida útil termina.
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Valorização do que se tem
Agir com frugalidade significa abrir mão do que é supérfluo, sem necessidade ou que não tenha real importância. Ainda assim, ser econômico é diferente de ser avarento. O estilo de vida está ligado a uma nova visão sobre o consumo, que evita extravagâncias e a ostentação.
Por isso, como vimos, a utilidade e funcionalidade são preocupações centrais para o consumidor frugal. Por que comprar o smartphone mais caro da loja se existem outros com parâmetros semelhantes e que cumprem as mesmas funções? Ou, por que trocar de smartphone se o que eu possuo ainda supre as minhas necessidades e executa perfeitamente as tarefas que preciso?
A pessoa frugal pensa duas vezes antes de substituir o que tem por objetos novos. Portanto, ao mesmo tempo em que se é econômico e consciente em relação ao consumo, a pessoa acaba valorizando mais aquilo que já possui.
Para os consumidores que adotam a tendência, existe um entendimento de que muito do que a sociedade consome não é uma real necessidade ou um desejo existencial. Na verdade, para eles, são necessidades induzidas pela publicidade, mídia e pressão social. Quando tudo isso é percebido, escolhas são repensadas.
Frugalidade nos hábitos diários
A frugalidade está presente em uma série de questionamentos cotidianos, não apenas em relação às despesas financeiras e compras de luxo. Isso reflete em diversas escolhas feitas ao longo do dia, que devem ser planejadas a fim de alcançar uma vida mais equilibrada:
- Tenho um casamento para ir e não tenho vestido ou terno para a ocasião. Uma escolha frugal leva ao aluguel dos trajes ao invés de comprá-los para deixá-los guardados após um único uso;
- Concluí todas as minhas obrigações diárias e, ao deitar na cama para descansar e deixar o sono vir. O que fazer com esse tempo? A frugalidade vai impulsionar a pessoa para algo útil, em vez de gastar o tempo na timeline das redes sociais;
- Tenho vários livros parados na estante, o que fazer com eles? Criar um grupo de empréstimo, para fazer com que o conhecimento circule;
- Uma pessoa frugal, contudo, não é adepta de e-readers (dispositivos para leitura de e-books). Além de ser um objeto caro, envolve uma cadeia de exploração para fabricação das peças e depois de um tempo se torna lixo eletrônico.
- As cascas de algumas frutas, como a banana, geralmente vão para o lixo, porém existem receitas nas quais elas podem ser utilizadas. Uma pessoa frugal opta por utilizá-las, pois além do aproveitamento máximo, gera menos lixo.
A lista de exemplos é infinita e nos mostra o ciclo dessa desconstrução a respeito dos hábitos de consumo. Repensando-o o consumidor é capaz de reverter toda uma cadeia de produção.
Como a frugalidade afeta o consumo
Ao rever seus hábitos e, invariavelmente, descobrir excessos e mudar de atitude, o consumidor acaba comprando menos e estimula empresas a reverem seus posicionamentos e objetivos de negócios. O consumidor tem esse poder e está despertando sobre a importância da mudança de postura para construir um mundo mais sustentável e melhorar sua própria qualidade de vida. As organizações que não se adaptarem perderão espaço de mercado.
Consequentemente, antecipando o impacto da frugalidade como tendência de consumo, as empresas devem partir para um modelo de produção mais sustentável. Isso implica, necessariamente, em:
- Rever os tipos de insumos industriais utilizados;
- Atestar a origem destas matérias-primas;
- Acompanhar o consumo de recursos para produzir com o mínimo possível;
- Optar por materiais recicláveis paras embalagens;
- Aumentar o valor agregado ao produto;
- Tomar precauções para tornar a marca mais confiável;
- Alinhar os objetivos empresariais aos dos públicos consumidores.
Além de tudo isso, é fundamental garantir que as campanhas de comunicação, marketing e publicidade sejam construídas alinhadas às mudanças de comportamento do consumidor ou todo o esforço da cadeia é desperdiçado.
Para evitar que isso ocorra, é necessário pensar sobre alguns fatores: sua campanha é sustentável? É inclusiva? Expressa os novos valores do seu público? Quais sensações transmite a ele? E, acima de tudo, está de acordo com o que é praticado pela empresa? Se o mundo muda, a marca e como ela produz precisa mudar também.
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