Dois terços dos brasileiros estão trabalhando no modelo híbrido, e menos de dois em cada 10 estão 100% no presencial ou 100% remotamente. Os dados da pesquisa Tendências e Perspectivas do Trabalho – Report WeWork LATAM 2023, em parceria com a Page Outsourcing mostram que a flexibilidade se consolidou como um caminho de sucesso quando o assunto é cultura empresarial, relação com colaboradores, bem-estar e, claro, produtividade. Com o tempo, líderes e equipes perceberam que o espaço de trabalho é importante, mas não necessariamente precisa ser dentro de um prédio corporativo.
O futuro do trabalho está evoluindo à medida que as organizações passam por mudanças profundas. Cronogramas apertados, ameaças à segurança, inflação, sinais econômicos incertos, assim como a entrada no mercado de uma nova geração de profissionais, estão provocando mudanças de comportamento e de consumo, não só no cotidiano de quem trabalha, mas na expectativas dos clientes.
Essas transformações aceleradas e sem precedentes, há mais de dois anos, colocam ainda mais pressão sobre as organizações e sua força de trabalho. A saúde mental está sendo testada, e exaustão e esgotamento tornaram-se comuns para todos.
Desde 2010, a WeWork investe em um modelo na contramão de escritórios tradicionais, ao acreditar que uma cultura flexível de trabalho pode ser um caminho para superar desafios. A startup consagrou o modelo de ambiente de trabalho compartilhado pretende oferecer um espaço de trabalho otimizado, mas “humanizar as relações de trabalho”.
Em um momento delicado nos Estados Unidos, onde a companhia acaba de pedir reestruturação judicial com US$ 19 bilhões em dívidas. A empresa, sediada em Nova York, divulgou esta semana ter chegado a um acordo com credores que correspondem a 92% de suas dívidas.
Aqui no Brasil a situação é mais estável. Muito bem-sucedida no modelo de escritório compartilhado que se espalhou por capitais e cidade médias do sul e do Sudeste, a WeWork não trabalha com imóveis próprios. Ela aluga seus espaços. No Brasil, são 32 unidades em oito cidades: São Paulo, Alphaville, São Bernardo do Campo, Osasco, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. E por meio de mais de 500 parceiros de seu marketplace Station by WeWork, alcança todos os estados brasileiros, chegando a mais de 120 municípios.
Em conversa com a Consumidor Moderno, Ana Paula Gondim, diretora de espaços flexíveis da WeWork Brasil, avalia o momento do país, a partir da consolidação dessa nova relação com os modelos flexíveis de trabalho e comenta como é liderar e trazer inovação para este segmento no Brasil.
O trabalho e a experiência de comunidade
CM – Como você avalia a cultura do trabalho remoto e híbrido no Brasil? O que nos difere de outros países onde a WeWork atua?
Ana Paula Gondim – Atualmente, estamos atravessando um período de mudanças que ocorrem a uma velocidade sem precedentes, o que gera apreensão entre os gestores. Essa sensação de incerteza é compreensível, já que nos deparamos com alterações no comportamento para as quais não estávamos devidamente preparados. Ao analisar informações, como aquelas obtidas por meio de nossas pesquisas, torna-se viável tomar decisões mais informadas visando alcançar um equilíbrio sustentável entre as demandas de colaboração, produtividade e rentabilidade de uma empresa e o desejo de proporcionar qualidade de vida, bem-estar e a redefinição de prioridades na vida dos colaboradores.
O Brasil está sendo protagonista nesse movimento. Somos um país muito criativo e inovador, capaz de desenvolver experimentações orientadas por dados. Na WeWork, estamos comprometidos a contribuir de forma substancial com essa transformação na forma como as pessoas se relacionam com o trabalho. Fazemos isso por meio de pesquisas periódicas com parceiros reconhecidos, usamos nossos dados de comportamento de milhares de profissionais no Brasil e na América Latina como um todo e, é claro, capitaneamos tudo isso por meio de nossa tecnologia proprietária e visão de negócios orientada por dados.
CM – Como tem sido trazer bons resultados por aqui?
Ana Paula Gondim – Pesquisa da McKinsey indica que 70% das lideranças brasileiras sentem que suas empresas ainda não estão preparadas para reagir rapidamente à revolução tecnológica e volatilidade global que estamos passando. A WeWork tem o compromisso de auxiliar ativamente esses líderes a não temerem a transformação em curso, e sim abraçá-la de forma sustentável, que realmente contribua para uma melhor relação das pessoas com o trabalho.
Para isso, reinventamos o modelo de negócios da marca na América Latina com o lançamento do marketplace Station by WeWork e o vale-escritório Alelo Workpass, inédito na WeWork no resto do mundo. Estamos criando soluções flexíveis para atender novas demandas das empresas no pós-pandemia.
“É incrível observar que a flexibilidade já é mais lembrada que o plano de saúde para o trabalhador do mundo contemporâneo“
CM – O Customer Experience (CX) de uma marca diz muito sobre ela, sobre sua liderança e cultura. Como é seguir inovando em CX para o mercado brasileiro?
Ana Paula Gondim – Nossos membros brasileiros são extremamente exigentes, o que faz com que tenhamos que revisar nossos processos a todo momento. Isso é ótimo porque nos mantém sempre à frente da discussão. Nossa principal característica é a “experiência de comunidade”. Nossa comunidade é composta por uma rede não apenas dos nossos stakeholders, mas também pelos stakeholders de nossos clientes.
Ou seja, nós somos responsáveis por proporcionar uma experiência de sucesso também para o fornecedor ou o cliente que visita uma empresa que está dentro da WeWork, e tem contato com a nossa marca, desde o agendamento da visita, passando pelo check-in, até o uso prático dos espaços físicos e tudo que vem junto, como o café, o banheiro, a ergonomia dos móveis, o bem-estar dentro dos espaços. Desafiamo-nos a construir experiências diárias para que todos esses membros e seus convidados sintam que tomaram uma boa decisão quando escolheram sair de casa e ir até um espaço da WeWork.
CM – Temos acompanhado a tendência do aumento da regulação sobre empresas de tecnologia – particularmente nos EUA. Como você avalia essa questão sob o ponto de vista da inovação?
Ana Paula Gondim – Agentes regulatórios, mercado e sociedade civil possuem atividades complementares e que, em constante diálogo, contribuem para otimizar o potencial da tecnologia para o desenvolvimento e a inovação humana.
CM – Complementando a pergunta anterior, qual seria o caminho para startups e unicórnios da nova economia seguirem inovadores, competitivos e, de fato, lucrativos?
Ana Paula Gondim – É preciso focar em construir modelos de negócios escaláveis, em setores resilientes a crises, com equipes de gestão experientes e um forte ecossistema de apoio. Em um cenário de investimentos com aportes mais baixos, é necessário buscar por rentabilidade em vez de crescimento elevado.
CM – Para 2024, quais inovações podemos esperar da WeWork para o Brasil?
Ana Paula Gondim – Estamos focados em liderar a transformação na forma como as pessoas se relacionam com o trabalho, contribuindo para auxiliar empresas de todos os setores e tamanhos a navegarem por esse cenário de transformações rápidas.
Seguimos crescendo substancialmente de forma sustentável e por meio de uma rede de parceiros. Nosso foco é inovar constantemente oferecendo ao mercado soluções de produtos flexíveis que atendam às suas necessidades.
CM – E o que você enxerga como tendência para o seu setor?
Ana Paula Gondim – Como tendência, observamos por meio de nossa mais recente pesquisa o fomento da discussão sobre semana de quatro dias (83% dos colaboradores que gostariam de trabalhar quatro dias na semana), uso de inteligência artificial (IA) nas atividades corporativas (realidade no cotidiano de 41% dos profissionais brasileiros, sendo que 35% só não a utilizam por falta de conhecimento) e o protagonismo da flexibilidade como benefício inegociável pelos trabalhadores.
É incrível observar que a flexibilidade já é mais lembrada que o plano de saúde para o trabalhador do mundo contemporâneo, a tal ponto que 81% das pessoas gostariam de ter ou já possuem um benefício destinado à flexibilidade. Na hora de avaliar uma proposta de emprego, 87% das pessoas consideram a modalidade de trabalho e 88% a flexibilidade de horários.
Reestruturação financeira nos EUA
Com o anúncio da WeWork Inc.nos Estados Unidos sobre o plano de reestruturação de dívida, dúvidas pairaram sobre a situação da unidade brasileira. Desde 2021, as operações da WeWork LATAM, que incluem Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, fazem parte de uma joint venture. O SoftBank Latin America Fund adquiriu a maioria das ações da empresa.
Em comunicado oficial, a WeWork LATAM informa que este movimento não impactará suas operações na América Latina.
“Queremos assegurar que o recente anúncio de pedido de Chapter 11/recuperação judicial da WeWork Inc. nos Estados Unidos não inclui e tampouco impacta a WeWork LATAM. Essa ação não tem impacto nos nossos membros, seus vínculos, serviços ou acesso aos nossos prédios na América Latina. Não causa nenhuma mudança nem exige qualquer ação”.