As empresas que usam tecnologia para serviços financeiros, as chamadas fintechs, estão cada vez mais fortes na América Latina. Muito desse impulso é causado pelas próprias instituições tradicionais que têm dificuldades em oferecer serviços financeiros sem burocracia e com transparência.
As fintechs da América Latina e Caribe, em especial as brasileiras, já são tão importante para o mercado que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) realizou um estudo para avaliar o perfil dessas startups e as expectativas para os próximos anos.
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Gabriela Andrade, especialista em Mercados de Capitais do BID e autora do estudo, explicou a NOVAREJO o perfil e as principais tendências das fintechs da região. Confira trechos da entrevistas.
1. As atuais condições dos serviços de telecomunicações – como a Internet – podem diminuir o crescimento do fintechs na América Latina, especialmente no Brasil?
O fato de que é preciso uma conexão com a internet para usar esses serviços significa que uma parte da população da América Latina e Caribe (ALC) não terá acesso fácil agora ou no curto prazo. No entanto, ao mesmo tempo, a queda dos custos do acesso de banda larga e dos smartphones está dando origem a uma rápida adoção e uso da banda larga móvel e isso é a tendência que mostra uma oportunidade de mercado para muitos fintechs (tanto na ALC como em outras regiões em desenvolvimento).
2. Como é o perfil das fintechs da região?
Percebemos que 45,6% das startups das fintech seguem um modelo B2B (Business to Business) enquanto os restantes 54,4% seguem um B2C (Business to Consumer). Entre as soluções B2B, mais de metade (52,5%) indicam que as pequenas e médias empresas (PME) como principal cliente, 24,4% estão desenvolvendo soluções para instituições financeiras e os restantes 23,1% visam outras instituições corporativas.
3. Que tipos de fintechs estão mais maduras hoje no Brasil?
Atualmente, o Brasil possui o maior ecossistema Fintech na ALC com 230 startups. A atividade do setor no País é dividida principalmente em cinco segmentos, com soluções de pagamento representando a maior categoria com 58 startups, seguido de plataformas de financiamento alternativas com 46 startups. Juntos, esses dois segmentos representam quase metade (45,2%) das empresas Fintech no país. Se adicionarmos as seguintes três categorias: gerenciamento financeiro da empresa, gestão financeira pessoal e gerenciamento de ativos, vemos que esses cinco segmentos representam 78,3% de todas as fintechs no Brasil. Vale ressaltar que o Brasil também tem a Nubank, uma das fintechs que recebeu o maior investimento na região, embora não esteja nas categorias mencionadas acima.
4. O que precisávamos para amadurecer mais?
É importante consolidar muitos dos modelos de negócios fintechs inovadores existentes no País para garantir a sustentabilidade a longo prazo e a capacidade de atender adequadamente os segmentos-alvo. Isso requer diálogo e ações dos diferentes públicos interessados no ecossistema, incluindo políticas do setor público e iniciativas do setor privado. Na mesma linha, ter um ambiente adequado que apoia o setor também é crucial para atrair mais investimentos e novas inovações no país, bem como para fornecer os incentivos para que os empreendedores apostem em suas ideias.
5. Que tipos de fintechs devem ser mais usadas nos no Brasil nos próximos anos?
Em termos de segmentos da Fintech que ainda não são bastante predominantes no Brasil, podemos destacar as soluções “RegTech” e as soluções InsureTech mais diversificadas. Finalmente, seria interessante seguir novos desenvolvimentos, tanto no Brasil como na região em geral, que utilizam as tecnologias mais recentes e promissoras, como a aprendizagem por máquinas e as tecnologias de contabilidade distribuída.