Há muito o que se contar e falar ainda sobres as questões raciais no mundo. Com pressões externas como a do movimento Black Lives Matter, a indústria de entretenimento tem colocado à disposição da audiência – agora nos canais de streaming – mais e mais títulos para tratar do assunto.
Você sabia, por exemplo, que Mohamed Ali, o famoso lutador de boxe da década de XX, e o ativista Malcolm X, conhecido por sua mobilização em prol da igualdade racial, já haviam se encontrado para tratar de questões ligadas ao enfrentamento ao preconceito? Pois esse é o caminho que percorre o filme “Uma Noite em Miami”, que estreou em janeiro na Netflix.
Em outras produções, ainda que a questão racial não seja o ponto central do enredo, ela serve de pano de fundo, como aconteceu com “Os Bridgerton”, também da Netflix, que tem a expert em dramas Shonda Rhimes como responsável. Executada pela sua empresa, a Shondaland, a série baseada nos livros da autora nova-iorquina Julia Quinn se passa numa Londres de 1800 e pouco. A grande sacada aqui? Ter criado uma corte em que boa parte das pessoas é negra. Ainda que esteja contando uma história de amor entre um conde e uma garota bom-partido da classe alta londrina da época, o debate está como pano de fundo, seja no casal interracial apresentado, seja no fato de a produção ter apostado em uma rainha da Inglaterra negra, partindo de estudos históricos que sugeriam isso.
Se você ainda está no grupo que não se movimentou o suficiente para entender melhor os caminhos das discussões de raça e diversidade (tema macro do mundo em que vivemos agora), aproveite a disponibilidade desses títulos. Além de abordar uma conversa necessária, elas são produções de alta qualidade. Tanto que já fazem bonito na temporada de prêmios internacionais que vêm por aí. Confira!
“Uma Noite em Miami” (Amazon Prime)
Dirigido por Regina King, atriz premiada em 2020 por seu trabalho na série “Watchmen” e agora uma das mulheres indicadas ao prêmio de Melhor Direção no Globo de Ouro 2021 (que acontece no próximo dia 28 de fevereiro), o filme tem um ponto de partida na realidade para imaginar como seria o encontro de quatro homens negros que eram ícones de sua época, em um hotel de Miami.
A trama coloca o ativista pelos direitos dos negros Malcom X (papel de Kingsley Ben-Adir), o pugilista Muhammad Ali – na época ainda Cassius Clay (interpretado por Eli Goree) -, o cantor Sam Cooke (Leslie Odom Jr., indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante) e o atleta Jim Brown, um dos maiores jogadores de futebol americano da história dos Estados Unidos (papel de Aldis Hodge).
O jogo de cena entre os atores é imperdível. A dinâmica é quentíssima, ainda que boa parte do filme passe dentro do tal quarto de hotel, e as conversas entre eles revelam suas dúvidas, medos e desejos para mudar a realidade de seu entorno, incluindo a de suas famílias. Ainda que fossem nomes de sucesso em suas áreas, o preconceito nunca os deixava em paz, e tinham que enfrentá-lo desde que fosse em pequenos eventos sociais, até a confrontos maiores com o governo do país (como no caso de Ali, que se recusou a lutar na Guerra do Vietnã).
Assista ao trailer:
“A Voz Suprema do Blues” (Netflix)
Conhecido também como o último filme do ator Chadwick Boseman – o eterno “Pantera Negra” -, o drama narra a história de um trompetista que sonha viver de seu trabalho como músico na Chicago de 1920. Também está no elenco a excelente Viola Davis, que surge como a lendária cantora de blues Ma Rainey, conhecida como “a Mãe do blues”. Suas cenas cantando são de esmagar o coração e valem muito (tanto que Viola também está indicada por sua atuação no Globo de Ouro deste ano).
O filme é uma ótima opção para conhecer mais da condição de vida das pessoas negras nos Estados Unidos do começo do século passado. A produção é do ator Denzel Washington e não deixa de suscitar a pergunta: e se fosse feito um longa-metragem como esse, mas contando sobre o Brasil? O que será que a gente descobriria misturando música e realidade social?
Assista ao trailer:
“Os 7 de Chicago” (Netflix)
Indicado ao Globo de Ouro 2021, o longa-metragem do diretor Aaron Sorkin concorre em cinco categorias, entre elas a de Melhor Filme. A trama reconstrói o julgamento de sete homens, todos ativistas sociais, que estavam em uma marcha em direção a Chicago para protestar contra a Guerra do Vietnã em uma convenção do Partido Democrata. O ano era 1968.
Ainda que a questão de luta racial não seja exatamente o centro, ele fica bastante em evidência por conta da presença de Bobby Seale (líder dos Panteras Negras vivido aqui pelo ator Yahya Abdul-Mateen II), que chegou a ser amarrado a uma cadeira e amordaçado em pleno tribunal durante o julgamento, em uma manifestação de violência policial que mostra como esse é um problema antigo. A narrativa desse momento de violência contra Seale, em especial, virou livro e pode ser lida no “Seize the Time”.
O grupo chamado de “os 7 de Chicago” inclui ainda Abbie Hoffman (ativista interpretado por (Sasha Baron Cohen – o Borat), Jerry Rubin (outro ativista, da ala mais radical no anti-guerra, vivido por Jeremy Strong); além de David Dellinger (papel de John Carroll Lynch) e Tom Hayden (interpretado pelo premiado Eddie Redmayne), manifestantes que evitavam ações mais conflituosas; finalizando com Rennie Davis (Alex Sharp), John Froines (Danny Flaherty) e Lee Weiner (Noah Robbins).
Vale ressaltar que outros nomes fortes de Hollywood como Joseph Gordon-Levitt e Michael Keaton também integram o elenco. Veja para descobrir o que rolou nesse julgamento histórico.
Assista ao trailer:
“O amor de Sylvie” (Amazon Prime)
Que tal assistir a uma história de amor protagonizada por dois atores com muita química, além de boa trilha sonora e reconstituição histórica? Essa é a pegada desse drama, que narra o “encontro de almas” entre Sylvie (Tessa Thompson) e Robert (Nnamdi Asomugha), considerado o próximo “John Coltrane” no mundo do jazz.
Claro que há uma pedra no meio do caminho para esses dois ficarem juntos – o que inclui uma viagem a Paris, uma vida de dona de casa e a luta de Sylvie por conseguir reconhecimento profissional sendo uma mulher negra na Nova York da década de 1950. O filme é um original da Amazon e foca no cotidiano de pessoas comuns que tentavam superar o preconceito para ter uma vida digna.
Assista ao trailer:
+ Notícias
Do Parasita ao Tigre Branco: a transgressão como salvação
Qual serviços de streaming devo assinar? Conheça vantagens e desvantagens de 10 opções