KNOW é o encontro de networking feminino que a consultoria KPMG realiza anualmente. A oitava edição ocorreu hoje, em São Paulo. “Temos certeza de que não há futuro sem inclusão”, diz Patricia Molino, sócia da KPMG e líder do Comitê de Inclusão e Diversidade, na abertura do evento. O encontro busca fortalecer a igualdade e o empoderamento feminino no mundo corporativo. Na oitava edição, que ocorreu hoje, as debatedoras foram Camila Achutti, da Mastertech; Cristina Junqueira, do Nubank; Maíra Liguori, da Think Olga, e Clara Bianchini, da Co-Viva.
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Em um dos pontos altos do debate, Camila Achutti – que aos 25 anos já fundou duas start-ups milionárias – resumiu bem as frustrações do público, composto por executivas de grandes empresas. Para ela, as mulheres não querem ser chamadas para eventos só para discutir assuntos pessoais, como a melhor maneira de conciliar vida pessoal e trabalho. Querem sim ser chamadas para discutir negócios, como seus pares homens. “Ninguém me pergunta como eu ganhei meu primeiro milhão”, brinca ela.
Camila enfatiza que é importante superar os estereótipos, como aquele que diz que o programador tem que ser um homem antissocial. Além disso, ressalta que a sociedade precisa ter um cuidado especial na educação das meninas, para que elas possam estar sujeitas ao mesmo tipo de experiências que os meninos e possam, naturalmente, desenvolver seu interesse em áreas tradicionalmente masculinas, como as de ciências exatas. “Eu queria brincar de mecânico com meus primos, mas meu pai não deixava, dizia que minha mãe me mataria se eu sujasse meu vestido”, lembra.
Machismo no Brasil
Na sociedade machista que ainda impera em muitos países como o Brasil, as profissionais mulheres ainda têm o peso de serem responsabilizadas pelos filhos e pelo lar. Cristina Junqueira, co-fundadora do Nubank, sabe bem o que é isso: sua filha, Alice, nasceu na mesma época em que a empresa era fundada. “Fui fazer pitch na Sequoia, a maior firma de venture capital do mundo, grávida”, diz ela.
A executiva lembra de um artigo que lhe marcou muito, sobre como muitas mães, na tentativa de manter a carreira sem sobressaltos, acabam tentando levar a mesma vida antes e depois do parto – o que obviamente é impossível. “Basicamente, a autora diz que ignorou o nascimento do filho no primeiro mês o tanto quanto possível, tentando manter a rotina de antes. Tenho vergonha de dizer que fiz o mesmo”, diz ela. Perguntada por uma participante da plateia se teria feito diferente hoje, ela esclarece que não vê a escolha como um erro, mas uma constatação, de como a nossa sociedade funciona.
Pioneiras ainda buscam igualdade
Graças ao esforço de mulheres pioneiras como essas, as coisas vêm mudando. Cristina conta que leva e busca a filha na escola todos os dias, mas nem por isso rende menos no trabalho do que seus pares homens. E que recentemente o mesmo benefício foi estendido a um profissional homem, que levantou a questão numa entrevista de emprego, temendo a reação da companhia. “Disse pra ele que não tinha problema, desde que ele cumprisse com os resultados esperados.”
Também falando de seus colaboradores, Camila lembrou o caso de uma funcionária que tinha sido mãe recentemente e ficou com o filho doente. “O marido, desempregado, queria que ela se demitisse do trabalho, para cuidar da criança. Liguei pra ele”, conta ela, provocando risadas na plateia.
“Dizer que a mulher tem pouca ambição (ou menos ambição que o homem) raramente corresponde à verdade”, explica Maíra Liguori, co-fundadora da Think Eva e Think Olga. Sobre o caso do funcionário do Google, demitido em agosto por dizer que mulheres não são adequadas para trabalhar com tecnologia, ela lembra que o preconceito e o discurso de ódio nunca podem ser confundidos com liberdade de expressão. “Fora de uma ditadura, todo mundo pode falar o que quiser, só precisa saber lidar com as consequências e ter cuidado para não ferir os outros”, ensina.
O mundo não é assim
E pra quem acha que “o mundo é assim mesmo” e não enxerga a mudança possível, Clara Bianchini traz outras visões de mundo. “Na Holanda, quando fiz meu mestrado, fique surpresa em ver como essa questão da igualdade de gêneros é bem discutida, o que se reflete inclusive nas políticas públicas em vigor”, conta.
Muitos homens tem suas opiniões a respeito da questão de gênero, mas nem todos se preocupam em ver se suas visões de mundo são corroboradas por dados. “Temos que lidar com machistas, mas também com muitos ‘achistas’”, explica Patrícia Molina, a respeito desse tipo de profissional. “Baseamos nosso julgamento em fatos, e os fatos se sobrepõe aos preconceitos e pré-julgamentos”, diz a executiva, apresentando os valores da empresa. Ao fim, ela lembra a importância da sororidade entre as mulheres e, no caso de quem optou por casar, de ter no marido um parceiro de vida, que seja fonte de apoio.
Mesmo para quem está no front dessa batalha, sempre há espaço para evoluir. “Uma vez uma amiga perguntou quem eram minhas confidentes para assuntos corporativos e de carreira. Na época, eu não tinha ninguém. Mulheres costumam fazer grupos pra discutir a família, não os negócios. Desde então, fui atrás disso”, revelou Camila.
Também participaram do evento o executivo Pedro Melo, sócio da KPMG no Brasil, que admitiu que a empresa ainda tem muito a evoluir na igualdade entre gêneros, especialmente entre os cargos de chefia; e Oliver Cunningham que apresentou informações sobre os novos consumidores e a transformação digital pelos quais os negócios estão passando.