Você conhece o esporte Salto em Alturas? Aquele que o atleta vem correndo em direção a uma barra alta, salta pegando impulso nas pernas, pula sobre a barra, e cai de costas num colchão bem macio. Lembrou?
Vou te contar uma coisa: você acredita que antes de 1968 não tinha o colchão?! Isso mesmo que você leu! O atleta tinha que pular e se sustentar do lado de lá nas suas próprias pernas. Incrível, não é mesmo?
Desde que o colchão foi introduzido nesse esporte, o atleta teve que se adaptar a muitas mudanças:
1) Vantagem competitiva: o atleta teve que adquirir novas capacidades corporais. Provavelmente as pernas não precisavam ser tão fortes para a sustentação após o salto, mas o corpo tinha que ser mais leve para poder agora se projetar de costas, como um voo;
2) Metodologias: portanto, o atleta teve que adotar uma nova dinâmica de treinamentos e exercícios;
3) Hábitos e cultura: com certeza teve que passar a se alimentar diferente, e mudar bastante seus hábitos, pois agora precisava de menos músculos e mais leveza…
O colchão mudou completamente a regra desse jogo. A própria barra foi aumentando de altura, e os atletas começaram a ter que desenvolver novas habilidades e competências. Bom, nessa altura da leitura, você já deve estar se perguntando: o que isso tem haver com inovação em organizações atualmente? Como isso que aconteceu com o atleta pode me ajudar, já que hoje enfrento dilemas reais de inovação de produtos, serviços, cultura organizacional, processos de trabalho, modelos de negócios, e etc. na empresa onde atuo?
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Nós, especialistas em inovação organizacional, gostamos de dizer que o colchão é igual à internet. Desde que a internet foi introduzida no jogo que organizações jogam com a sociedade, as regras desse jogo mudaram substancialmente, e ambos estão aprendendo a se adaptar a essas mudanças. Faz sentido, não acha? E o nome desse novo jogo que organizações jogam com a sociedade é cocriação.
Traçando um paralelo com o atleta acima:
1) Vantagem competitiva: as organizações também estão passando por processos de aquisição de novas capacidades: se antes as empresas grandes tinham vantagem competitiva perante as pequenas, agora as empresas rápidas também tem mais vantagens que as lentas. As empresas tem que aprender rapidamente a se adaptar a esse novo jogo;
2) Metodologias: portanto, o organizações começaram a receber um leque de novas metodologias que as ajudam a entender novamente este novo jogo e a atuar perante ele rapidamente. Por isso, laboratórios de inovação que ajudam empresas a criar
soluções unindo a equipe de forma rápida e assertiva são as novas dinâmicas de se adaptar a essa nova realidade competitiva. Enquanto as empresas grandes de antigamente se valiam de muita burocracia, processos e hierarquias, que eram os métodos
antigos de competitividade;
3) Hábitos e cultura: para ficarem mais rápidas, as empresas também observaram que precisariam ficar mais leves. Assim, começaram a optar por alugar assets ao invés de que adquirir assets – ou seja, a compartilhar um coworking e não possuir um escritório próprio. E também a trabalhar mais em parceria com outras empresas com serviços complementares, assim cada um pode se especializar no seu serviço alvo, dividindo riscos e mantendo a aquisição de poucos recursos para operar de forma menos custosa.
Com esse paralelo traçado, espero que tenha ficado claro que o novo jogo no mundo dos negócios é existente e real. Ele já está acontecendo aqui e agora. Porém, eu tenho uma notícia um pouco chata para você: provavelmente o atleta que era muito bom na modalidade sem o colchão, não necessariamente se tornou muito bom competidor na modalidade com o colchão.
Assim, empresas consolidadas nas décadas passadas podem não conseguir fazer a transição mais rapidamente, antes que uma startup abocanhe o seu mercado com algum tipo de inovação disruptiva. Portanto, fique perto de empresas com metodologias que vão ajudar a sua organização a treinar diferente, ganhar velocidade, abraçar a criatividade e ganhar novos trofeus.
*Clara Bianchini é mestre em Inovação de negócios pela Imagineering Academy na Holanda e bacharel em Comunicação Social pela PUC/SP. É cofundadora da consultoria de inovação Co-Viva, com clientes como Wework, GE, PwC, UOL, JWT. É também professora de Inovação da Escola Superior de Engenharia (ESEG) e professora convidada da INSEEC Business School em Paris.