Você já ouviu falar em espaços instagramáveis? O termo, em alta no universo digital, faz referência aos ambientes físicos elaborados para quem deseja fazer fotos divertidas e alcançar o tão sonhado engajamento nas redes sociais. O nome, obviamente, vem do Instagram, a mais popular rede social de fotos.
Essas instalações, entretanto, promovem um debate e tanto a respeito dos novos comportamentos das gerações Z e Alfa: será que tais ambientes facilitam a imersão completa do público ou o esvaziamento da experiência?
Em São Paulo, por exemplo, é possível se deparar com os espaços instagramáveis em vários pontos da cidade. O Farol Santander anunciou a abertura da mostra Espuma Delirante, elaborada por Rafael Silveira. Inédita, a exposição reúne pinturas e esculturas com cores vibrantes e psicodélicas que são um prato cheio para quem deseja mergulhar em um universo abstrato e ter novas experiências sensoriais.
Além disso, o ambiente surrealista permite que os heavy users das redes sociais registrem e divulguem esse momento com seus seguidores, o que movimenta ainda mais as redes e traz visibilidade para quem deseja conquistar novos seguidores.
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Centro Cultural Banco do Brasil também se destaca
Além do Farol Santander, muitos outros lugares da grande São Paulo têm sido palco para essas instalações imersivas. O Centro Cultural Banco do Brasil, por exemplo, recebe até junho a exposição A tensão, do argentino Leandro Erlich. Com o objetivo de representar situações do cotidiano de maneira totalmente descontextualizada, o artista criou a famosa Swimming Pool, uma piscina que não molha!
Sucesso nas redes sociais, a obra já atraiu vários visitantes, que fizeram questão de eternizar o momento e compartilhá-lo nas redes sociais. Assim como a piscina, outras instalações também atraem os olhares do público em outros pontos da cidade, como as mostras dos quadros de Van Gogh e Portinari, e os balões coloridos de Flávia Junqueira, expostos no Shopping Pátio Higienópolis.
O aumento repentino da quantidade de espaços instagramáveis não só em São Paulo, como nos principais centros do Brasil, levantou o debate exposto no início deste artigo: será que tais ambientes facilitam a imersão completa do público ou o esvaziamento da experiência?
Para refletir sobre a temática, três profissionais da área, trazem perspectivas sobre o uso desses ambientes para a divulgação da arte e para a representação da mesma através das redes sociais.
Espaços instagramáveis promovem a imersão total do público
A empresária e representante da SOS Lips, Carla Vanzak defende a ideia de que tais ambientes, além de serem uma excelente estratégia de marketing para divulgação de obras, produtos e marcas, também são ótimos para quem deseja experimentar novas sensações e adentrar a um universo desconhecido sem sair da própria cidade: “essas atrações são um convite à imersão. Você vive novas experiências, se aprofunda nas temáticas expostas, como no caso do Van Gogh, e passa a buscar novos conhecimentos sobre o artista ou sobre a marca ali representada”, argumenta.
O CEO da Ticto, plataforma de vendas de produtos digitais, Guilherme Petersen, endossa essa linha de raciocínio ao afirmar que os espaços instagramáveis são uma evolução natural das técnicas do marketing de alta performance, aceleradas, por sua vez, por conta da pandemia: “várias marcas brasileiras e até mesmo a mídia tradicional, que sempre brigou com a internet por audiência, recorrem hoje a novas tendências para engajar nas mídias sociais, como é o caso dessas exposições contemporâneas”, explica o representante da Ticto.
Além da imersão, instalações ajudam na democratização da arte
A CEO e fundadora do Grupo Prima Donna, Tatiana Fanti, também mostra a sua visão sobre as novas tendências do universo digital, estabelecendo um panorama histórico que remonta à época em que as redes sociais ainda engatinhavam no país.
“Os espaços instagramáveis já existiam antes do Instagram, mas em menor proporção. Alguns artistas – Marina Abramovic para mim é o maior exemplo – já faziam performances artísticas que contavam com a participação do público”, inicia Tatiana Fanti, que complementa: “Marina, por exemplo, trouxe em uma de suas performances, a oportunidade de as pessoas sentarem-se à mesa junto dela e compartilharem com a artista um momento de silêncio. Tudo isso aconteceu bem antes do boom das redes sociais, ou seja, a experiência e interatividade em exposições de arte não é uma novidade. Isso apenas se ampliou ainda mais depois das redes sociais – democratizando, inclusive, a arte”, pontua a CEO do Grupo Prima Donna.
Nesse sentido, Tatiana argumenta que diante do sucesso desses espaços, as marcas passaram a fazer uso desses locais para divulgarem seus produtos e popularizarem seus nomes através das mídias digitais: “já faz bastante tempo que as marcas estão aproveitando desse conceito de experiência e oferecendo a seus clientes espaços instagramáveis. A loja da Havaiana na Oscar Freire (São Paulo) foi uma das primeiras a oferecer a seus clientes um cenário para fotos: uma Havaiana gigantesca servia como pano de fundo para fotos. A Galeria Melissa é um outro caso de sucesso dos espaços instagramáveis, já que une a arte à tradicional sandália de plástico transparente”, comenta a empresária.
“Atualmente são muitas as marcas que estão pensando nesse conceito: Café Cheriè, Pikurrucha’s Café são dois exemplos de espaço gastronômico que construíram suas marcas baseadas em conceitos fotografáveis e que estão dando muito certo. Os dois espaços, inclusive, oferecem a locação do café enquanto ele não está aberto ao público para sessões de fotos”, evidencia Tatiana, que também relembra que os shoppings passaram a adotar esta estratégia de marketing ao montar espaços próprios para fotos, o que, segundo a especialista, contribui para o relacionamento entre a marca e o cliente de maneira mais original e criativa.
Os dois lados da mesma moeda
Para finalizar, a fundadora do Grupo Prima Donna explica que a imersão ou o esvaziamento da experiência está relacionado não com o espaço em si, mas sim com a maneira com que os artistas ou as empresas vão fazer uso dele. “Veja a exposição de Van Gogh, que incrível! A impressão que temos é que estamos dentro dos quadros do artista; é uma nova forma de ver a arte e isso é muito bacana porque acaba aproximando arte de pessoas que talvez não tivessem contato com esse universo se fosse uma visita tradicional a um museu”, afirma.
“Os espaços instagramáveis promovem uma experiência que acrescenta, que encanta e que, sim, gera fotos nas redes sociais e coloca o nome daquela exposição em evidência. E existe também o outro lado da história, geralmente marcas que querem pegar carona na tendência mas o fazem sem propósito, sem o porquê ao, simplesmente, montar um cenário de fotos”, pontua Tatiana Fanti, que finaliza: “é preciso entender que não é apenas um cenário bonito, é uma nova forma de experimentar a marca. Faça com inteligência”.
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