Segundo o Fintech Report 2022, feito pela consultoria de inovação Distrito, hoje o Brasil conta com 1289 startups financeiras. Dessas, 819 (63%) surgiram entre 2016 e 2022, o que indica um movimento crescente de inovação e um potencial de desenvolvimento gigante no setor, inclusive para novos players.
A grande concentração destas startups ainda está na categoria de crédito (17,5%), mas o relatório identificou uma boa performance na oferta de soluções inovadoras, principalmente relacionadas ao e-commerce. A categoria meios de pagamento já é a segunda mais frequente, representando 14,4% das fintechs, seguida das backoffice, com 14,2%.
Diante deste cenário, o potencial de crescimento ganhou até nome: fintechização. O fenômeno é caracterizado pela entrada no mercado das fintechs de empresas não necessariamente ligadas anteriormente ao fechado mundo das finanças.
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É o caso de grandes varejistas, como Magazine Luiza e Casas Bahia. A primeira lançou neste mês de maio a Fintech Magalu, marca que reúne diversos serviços financeiros adquiridos pela companhia, desde a conta digital MagaluPay a cartão de crédito focado para os lojistas já atuantes em seu marketplace e liberação de empréstimos para pessoas físicas. Segundo a Magazine Luiza, a fintech nasce com mais de 16 milhões de clientes.
Já as Casas Bahia, por meio da Via (proprietária tanto desta rede quanto da Ponto, antiga Ponto Frio) agora tem o banco digital BanQI. Nele, o cliente encontra todas as facilidades de uma fintech, como conta digital gratuita, empréstimo pessoal e cartão pré-pago grátis, com um extra de poder pagar carnês das Casas Bahia e ter acesso a cashback na loja. O público-alvo é o consumidor de baixa renda.
Se antes a chegada e o ganho de confiança das pessoas nas fintechs sacudiram o que se esperava de bancos tradicionais, a fintechização traz ainda mais expansão de ofertas de serviços financeiros ao usuário. O que ele ganha com isso?
Atrativos do modelo das fintechs para além do setor financeiro
Para Régis Borges, gerente sênior de auditoria da EY, empresa líder global em serviços de auditoria, impostos, transações e consultoria, inclusive no setor financeiro, o movimento de fintechização começou a ganhar impulso quando o Banco Central passou a regular as instituições de pagamentos (IPs) e as sociedades de crédito direto (SCD). Enquanto tais regulamentações permitiram o boom inicial das fintechs, passado um primeiro período muitas empresas não-financeiras viram também aí uma oportunidade de negócio.
Assim, cada vez mais entram neste mercado companhias que já possuem uma carteira extensa de clientes e fornecedores e transacionam bastante dinheiro diariamente, além de contarem com intermediários financeiros para capturar as vendas e viabilizar o fluxo financeiro dessas transações.
“São principalmente varejistas e demais empresas que atuam com vendas de produtos e serviços em larga escala e direto ao consumidor final, como magazines, supermercados e empresas de entrega”, afirma o gerente sênior.
Ele explica que a partir do momento que a empresa entende que é viável ela mesma assumir o papel anteriormente feito por fintechs ou bancos tradicionais, uma série de oportunidades aparecem. Por exemplo, a capacidade de reter e manter o cliente transacionando com a marca.
Leia mais: Fincare, a evolução da fintech: feita para ter clientes apaixonados
“Manter o cliente via conta digital permite que a companhia tenha ações e campanhas mais assertivas para incentivar novas compras, por exemplo, por meio de cashback. Isso possibilita uma retenção de clientes e novos negócios no business original”, diz.
Um segundo atrativo é que a empresa não-financeira que se aventura a também ser uma fintech passa a ter mais dados dos seus clientes, o que ajuda a traçar o perfil de consumidor e de consumo e a orientar campanhas e tomadas de decisões mais acertadas.
Além disso, há a questão econômica. Todas essas operações podem ser lucrativas e rentáveis, abrindo uma nova linha de receita para a empresa.
Consumidor também sai ganhando com a fintechização
Enquanto novos players encaram a adoção do modelo de negócio das fintechs como oportunidade, o fenômeno também é vantajoso para o consumidor. Principalmente em um tempo que o grau de confiança neste tipo de serviço financeiro digital é cada vez maior.
“A pandemia acelerou demais o crescimento das fintechs, primeiro pela utilização delas para a distribuição do auxílio emergencial, segundo porque boa parte da população que não estava acostumada a e-commerce e mecanismos digitais de pagamentos se viu obrigada a utilizá-los durante o distanciamento social”, fala o gerente sênior de auditoria da EY, Régis Borges.
Com isso, o consumidor já acostumado a estes ambientes digitais passa a ter acesso a benefícios que não teria se não fosse clientes das novas fintechs, como cashbask, descontos, promoções e taxas mais atrativas.
Régis Borges complementa que, neste cenário, tudo se torna mais barato ao usuário final, uma vez que a concorrência tende a baratear os custos dos serviços e força inovação.
“Outro ponto é que o movimento acelera a inclusão financeira. No Brasil, ainda existe uma parcela razoável da população que está fora do sistema financeiro e o aumento de fintechs facilita o acesso a estes serviços que são importantes”, comenta.
Desafios ao ramo de fintech daqui para frente
Uma vez que as atuais 1289 fintechs brasileiras terão que enfrentar não só a concorrência entre si, mas também de novos players com características diferenciadas, elas devem cada vez mais ficarem atentas às mudanças e aos rumos deste mercado.
O gerente Régis Borges lista três desafios principais que estarão neste caminho, com resultados que inevitavelmente favorecem a qualidade do serviço que chega ao consumidor.
O primeiro deles é estar por dentro das necessidades do cliente, inclusive projetando eventuais mudanças de comportamento que possam impactar o perfil de consumo dos serviços financeiros digitais. Em segundo lugar, está a atenção às próprias novas concorrentes, que aparecem com produtos e formas de atrair clientes cada vez mais vantajosos. Por fim, há a necessidade de se investir em inovação sempre.
“Existem novas tecnologias aparecendo, o 5G é uma delas, que podem trazer oportunidades. Outras tecnologias já existentes ainda não apresentaram todo seu potencial nos serviços financeiros como IA, blockchain, open finances… Então, novos produtos e serviços podem sair daí, por isso um olhar clínico para a inovação é importante”, reafirma.
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