Se estamos na era da pós-verdade, quando foi a da verdade?”, polemiza Margot Bloomstein, autora e presidente da Appropriate, uma consultoria de marca e conteúdo estratégico. “Sempre acreditamos no que queríamos acreditar”.
Como ela lembra, um dos defensores do Brexit – a proposta de separação da Inglaterra da EU –, defende justamente que fatos não convencem ninguém, emoções sim. Isso, é claro, corresponde muito a forma como as coisas acontecem – desde à comunicação em redes sociais até as campanhas eleitorais. Afinal, muda-se de opinião, defendem-se questões variadas e não comprovadas, compartilham-se notícias de fontes nada confiáveis. Mas, ninguém conta uma história com a qual não concorda. Compartilhar é uma forma de provar conexão com um conteúdo, confessar emoção.
“Consistência é uma questão interna. Ou seja, credibilidade não é tão relevante quanto a forma como as empresas fazem os clientes se sentirem”, afirma Margot. Trazendo isso para o nível brasileiro, podemos citar o exemplo do jogador de futebol Bruno, recém-saído da cadeia e já trabalhando. Os memes encheram a internet. Logo, a morte de sua namorada será esquecida: basta algum sucesso do time que o contratou. É mais relevante a forma como os torcedores se sentem do que o fato realizado pelo individuo em questão.
Estamos acostumados a usar Donald Trump como exemplo em casos de pós verdade, mas Hllary Clinton, a candidata derrotada, também foi colocada em dúvida pelo FBI. E coube às pessoas acreditar nela, ou não.
Acreditar ou não?
Nesse sentido, para Margot, “a verdade emerge não da honestidade, mas da consistência – a forma como acreditamos”. Em um período de convencimento, passa-se pela deliberação, depois pela validação. Primeiro, a escolha. Depois, a experimentação e a certeza. Ou seja, primeiro, uma identificação com nossas convicções, depois uma experimentação real – o que torna a percepção individual muito mais relevante do que a comprovação científica. O que parece certo é mais relevante do que o que é provado.
E por que isso acontece? Como ela explica, adotamos os fatos da forma como é formada nossa identidade, de acordo com a nossa predisposição cultural – até mesmo em termos de profissão. E isso, para as pessoas, é mais importante do que fatos ou comprovações científicas – ou não teríamos tantas pessoas se alimentando mal ou tomando qualquer atitude que claramente não torna a vida mais longa.