O fenômeno natural El Niño está provocando impactos no consumo dos países da América Latina. O evento engloba diferentes efeitos, como chuvas intensas na região Sul do Brasil, secas no Norte, e elevação das temperaturas no território nacional. Potencializado pelas mudanças climáticas mundialmente, traz novos desafios e mudanças para organizações e para a sociedade. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Municípios, cerca de 5,8 milhões de brasileiros já foram afetados pelas chuvas e secas em 2023.
Um exemplo está nas chuvas no Rio Grande do Sul. O estado sentiu os efeitos do El Niño com mais força do que em períodos anteriores com o surgimento de nove ciclones extratropicais em apenas três meses. As chuvas em setembro foram responsáveis pelas mortes de 47 pessoas, além de desabrigar cerca de cinco mil. Do outro lado do país, uma seca histórica afeta o estado do Amazonas, e cerca de 200 mil pessoas já foram afetadas.
Segundo levantamento do Euromonitor International, o fenômeno, potencializado pelas mudanças climáticas, já impactam também o consumo na América Latina, alterando padrões de consumo e trazendo novas demandas de consumidores. Segundo a pesquisa “Voice of the Industry: Sustainability Survey”, 90,6% dos entrevistados na região apontaram o tema da sustentabilidade como essencial para a resiliência dos negócios.
Impactos do clima nos consumidores
Ao mesmo tempo, o fenômeno do El Niño provocou um clima mais úmido nas regiões do Peru, do Equador e da Bolívia, o que por sua vez contribuiu com a propagação de infecções e doenças graves como o Zika vírus, a dengue e a Chikungunya. Além disso, no Chile, as inundações provocaram a falta de água potável e intoxicação devido ao consumo indevido. Devido a isso, o levantamento aponta que houve uma procura maior por medicamentos digestivos para tratar dessas doenças.
Além disso, outra prioridade se deu na área de saúde mental, uma vez que a vida das pessoas foi impactada, em muitos casos, de forma intensa. Medicamentos para ajudar com sono, ansiedade e depressão foram algumas das demandas dos consumidores das regiões afetadas, além de suplementos alimentares. As inundações também resultaram no aumento de preços de produtos de beleza e autocuidado acima da inflação, uma vez que o consumo dos mesmos foi reduzido.
As mudanças provocadas pelo El Niño e pelo aquecimento global também mudaram os padrões climáticos das regiões da América Latina. Assim, o foco dos consumidores se voltou a aparelhos como aquecedores e ar-condicionado. Pelo mesmo motivo, o estudo prevê que o preço da energia elétrica pode subir, uma vez que regiões estão sendo impactadas pelas secas de reservatórios de água.
Assim, antecipa que consumidores estarão mais inclinados a encontrar produtos que economizem energia. Segundo a pesquisa “Voice of the Consumer: Sustainability Survey 2023”, da Euromonitor International, 42% dos latino-americanos afirmaram que usarão produtos mais eficientes na economia de energia para impactar positivamente o meio ambiente.
Calor fora de temporada
Um dos efeitos do El Niño é o aumento das temperaturas em quase toda a América do Sul – o Brasil incluso. Por isso, um de seus impactos está justamente nas tendências de temporadas, o que afeta setores como de vestuário e calçados. Países como Chile, Argentina e Colômbia já registraram a queda do volume de vendas de meias, acessórios e agasalhos durante o inverno. Por outro lado, houve um aumento na procura por peças que protegem contra as chuvas, como casados, jaquetas e botas.
Por esses motivos, a indústria de vestuário está propensa a estocar pedidos por até seis meses de antecedência de forma a alinhar seus produtos com as temporadas adiantes. Não só isso, mas além da redução das margens de lucro, as empresas estão percebendo a necessidade de criar estratégias de promoções e descontos para liquidar estoques excessivos – o que por sua vez, gera maiores custos de armazenamento. Segundo o levantamento, 76% das organizações de vestuário e acessórios planejam investir na resiliência do supply chain nos próximos cinco anos.
Novas necessidades
O El Niño já provocou a elevação dos preços de alimentos, uma vez que as inundações e secas afetaram produções em diferentes regiões – como foi o caso do plantio do arroz no Peru e da pesca no Amazonas. No Rio Grande do Sul, as produções de milho e trigo fora duramente afetadas. Não é à toa, portanto, que 79% das organizações de alimentos e bebidas apontaram que as mudanças climáticas irão afetar seus supply chains.
Do outro lado do balcão, as mudanças nas temperaturas e nas chuvas impactam o consumo de diferentes produtos como sorvetes, chocolates e sopas. Além disso, produtos como arroz, café e açúcar podem sofrer alta nos preços.
Essas e outras movimentações no mercado apontam a necessidade para que empresas compreendam as implicações das mudanças climáticas e de fenômenos naturais em seus negócios. Não só isso, mas para seus consumidores e os impactos desses efeitos em suas vidas e em seus trabalhos para propor soluções com antecedência, de forma a minimizar riscos e desafios.