“Como o Brasil pode se inserir no mundo disruptivo se a escola segue o mesmo modelo de giz e quadro negro?” Com essa provocação, Jacques Meir, diretor executivo de conhecimento do Grupo Padrão, deu início ao debate “O negócio do impacto social e a democratização da educação”, realizado durante o Whow! Festival de Inovação, em São Paulo. Não existem respostas fáceis para o problema, mas é certo que a solução passa pela transformação desse modelo que foi criado para atender às expectativas da realidade industrial. “Hoje, as escolas devem levar em consideração quem são e quais são os interesses dos estudantes e como resolver os problemas atuais”, afirmou Tatiana Klix, gestora de mobilização do Instituto Inspirare. “Inclusive, em um mundo em que o diálogo é muito difícil, é fundamental educar as pessoas para a empatia.”
A proposta da Udacity se enquadra nesse novo cenário, pois segue um novo modelo de universidade on-line do Vale do Silício ao desenvolver cursos para formação profissional na área de tecnologia. Os “nanodegrees” são criados em parceria com grandes empresas do setor, como Google, Facebook, Amazon Web Servicecs e AT&T. “No Brasil, existem 14 milhões de desempregados e 200 mil postos de trabalho. Por quê? Porque falta capacitação”, disse Carlos Souza, diretor-geral da Udacity.
Se mudar o modelo de educação já é difícil, “do outro lado da ponte João Dias” é muito mais. Quem trouxe essa frase forte foi Luís Henrique Coelho, fundador da Empreende Aí, negócio de impacto social que capacitou mais de empreendedores de territórios populares a terem seus próprios negócios com metodologia própria. “Quem empreende na periferia não tem referências, não adianta falar de Jorge Paulo Lehman nem de Harvard, pois vão perguntar ‘o que é Harvard?”, disse. “Primeiro passo é falar na linguagem dessas pessoas, tirando a glamourização. Sai o termo CEO, entra o presidente da empresa.’”
O tema de impacto social é importante, inclusive, para se pensar no atual momento das empresas. “As companhias precisam se posicionar”, disse Meir, citando o caso da Unilever, que decidiu que vai deixar de estereotipar seus consumidores. Mas Klix rebateu que, quando se analisam os negócios sociais – por mais que o impacto seja sentido por muitos -, a maioria é fundada por homens brancos. “A representatividade é muito importante, por isso temos de educar para democratização”, afirmou. Souza, da Udacity, concordou. Para o executivo, quanto mais educado, mais oportunidades para se trabalhar com aquilo que gosta. “O aluno de hoje precisa ter mais que habilidades técnicas, precisa ter determinadas características, como atitude positiva, e as empresas buscam pessoas que querem aprender”, acrescentou.