Hoje, os holofotes internacionais se voltam para uma das figuras mais emblemáticas da política mundial: Donald Trump. Com a apresentação oficial de seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, o país assiste à retomada de um capítulo da história que promete ser decisivo para a esfera global, além de ditar novos rumos da economia. A “Era Trump 2.0” está em pleno curso, e as expectativas são altas sobre como o ex-presidente – que já foi uma novidade polarizadora em 2016 – governará neste retorno triunfal.
Trump, com sua agenda nacionalista sob o lema “America First” (primeiro, os Estados Unidos), defende um país mais focado em suas próprias necessidades, ao mesmo tempo, em que se projeta como um líder em pautas globais. Esse movimento, que já havia moldado os quatro anos anteriores de sua administração, promete reverberar no cenário internacional, e seu impacto já começa a ser sentido de maneira particular em diversos países e claro, no Brasil.
Não à toa, surgem questões como: qual o impacto do governo Trump no Brasil? O que há de positivo dos efeitos de Trump para o nosso país? E em relação à Inteligência Artificial, o que as empresas podem esperar do governo? Embora seja cedo para avaliar os desdobramentos de suas propostas que ainda precisam se materializar, especialistas já apontam alguns caminhos.
O que a volta de Trump significa para a economia?
A candidatura de Donald Trump, marcada por discursos impactantes e promessas ambiciosas, tem levantado debates sobre seus possíveis efeitos na economia global. Segundo Bruno Carazza, escritor, pesquisador e professor da Fundação Dom Cabral, as propostas de Trump incluem medidas destinadas a impulsionar o crescimento econômico dos Estados Unidos. Entre as promessas estão cortes de impostos, incentivos para empresas instaladas no país e uma política econômica mais protecionista.
“O maior estímulo e crescimento da economia americana aumentam, em tese, a procura por produtos que exportamos para os Estados Unidos. Como os Estados Unidos são nosso segundo maior parceiro comercial, um crescimento maior da economia americana pode beneficiar a economia brasileira“, explica Bruno Carazza.
Além disso, uma possível intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China poderia abrir espaço para empresas brasileiras. “Se os produtos chineses enfrentarem tarifas mais altas, as empresas brasileiras podem ocupar esse mercado, desde que tenham capacidade competitiva”, analisa Carazza.
Por outro lado, as políticas de Trump trazem potenciais riscos. Medidas como a redução de impostos e políticas protecionistas podem aumentar a inflação nos Estados Unidos, o que teria repercussões globais. “Uma inflação mais alta nos EUA pode levar ao aumento das taxas de juros, fortalecendo o dólar. Fica mais difícil para o Brasil atrair investimentos e dificulta o trabalho do Banco Central aqui no Brasil de controlar a inflação com o dólar mais alto”, afirma Carazza.
Tendências do novo governo em relação à IA
Agora, no âmbito das novas tecnologias, a Inteligência Artificial se apresenta como uma das tecnologias mais estratégicas deste século e uma pauta da agenda do retorno de Donald Trump à Casa Branca. A expectativa é alta, uma vez que Trump é conhecido por sua postura favorável à desregulamentação. Luís Guedes, professor da FIA Business School, acredita que a política de IA de Trump irá priorizar a busca pela hegemonia americana no desenvolvimento de IA, principalmente pela capacidade e desenvolvimento da China nesse campo.
O professor destaca que, entre as possíveis ações, essa busca pela liderança pode envolver o aumento dos controles de exportações de tecnologias sensíveis, o aumento dos investimentos estatais em pesquisa e desenvolvimento de IA, e uma colaboração mais estreita com aliados. Além disso, é esperado uma geopolítica para limitar a influência da China no cenário global de IA. “Essas ações buscam consolidar os EUA como líderes no setor, enfrentando a ascensão da China de forma estratégica”, comenta Guedes.
Outras iniciativas, pontua Guedes, incluem a melhoria da construção de data centers nos Estados Unidos, o investimento na produção de energia para suprir a crescente demanda computacional dos modelos avançados de IA, o aumento da produção doméstica de chips e a atração de investimentos estrangeiros para fortalecer a infraestrutura de IA
Alianças estratégicas com big techs
A rápida aproximação de Trump com as gigantes da tecnologia também terá impacto sobre a IA. Seu apoio a uma agenda de desregulamentação e a flexibilidade regulatória pode favorecer as grandes empresas de tecnologia, que frequentemente se veem limitadas por políticas mais restritivas.
Para o professor, essa aproximação conta com muitos fatores, notadamente econômicos, mas também geopolíticos, como, por exemplo, um alinhamento dos interesses das empresas de tecnologia em garantir contratos governamentais e expandir sua influência nesse setor. Além disso, esse cenário permite que as big techs recalibrarem suas estratégias para manter boas relações com a Administração Federal. Outro ponto levantado é que o governo tem personalidades influentes do campo da tecnologia, como Elon Musk e Peter Thiel, o que garante que, de certa forma, os interesses da indústria sejam diretamente representados.
“Essa aproximação, muito grande a meu juízo, não é absolutamente isenta de riscos. O relacionamento entre Trump e as big techs continua complexo e potencialmente volátil, podendo se tornar tenso novamente se Trump perceber traição de seus novos aliados. Além disso, esse alinhamento levanta preocupações sobre a influência do poder corporativo na política e o impacto potencial nos processos democráticos e na confiança do público”, analisa Luis Guedes.
Entre outras ações esperadas, Trump prometeu revogar a Ordem Executiva de IA de 2023 do ex-presidente Joe Biden, mostrando preocupações sobre como essa iniciativa poderia dificultar a inovação de empresas americanas. “Este movimento sinaliza uma mudança em direção para uma abordagem regulatória menos incisiva, o que pode acelerar o desenvolvimento da IA nos Estados Unidos, com mais liberdade de ação. A expectativa que se arma é em torno priorização do crescimento da indústria em detrimento da supervisão regulatória mais rígida”, explica o professor da FIA.
Efeito Trump
Dois dias antes de sua posse, Trump, anunciou o lançamento de sua própria criptomoeda. Como esperado desse fenômeno da era Trump, ocorreu uma rápida valorização global em bilhões de dólares.
Segundo cotação do site CoinMarketCap, a memecoin $TRUMP opera com valorização de quase 140% nas últimas 24 horas.
“Minha nova meme coin está aqui! É hora de celebrar tudo o que defendemos: GANHAR! Junte-se à minha comunidade especial”, escreveu no X.
Algumas das políticas propostas por Trump
Tarifas
Imposição de tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México, caso os dois países vizinhos não reprimam o fluxo de drogas para os EUA e pessoas que entram ilegalmente no país.
Donald Trump também determinou a criação de uma tarifa global de 10% sobre todos os bens importados para os EUA, medida que, segundo o presidente, eliminaria um déficit comercial anual de US$ 1 trilhão.
O republicano também se concentrou na China, promovendo tarifas de 60% sobre as importações chinesas, além de medidas para limitar a presença de empresas chinesas em setores estratégicos.
Imigração
Donald Trump pretende estabelecer restrições mais rígidas para o acesso ao asilo na fronteira entre os EUA e o México e avançar com um grande esforço de deportação.
Alívio Fiscal
Trump prometeu reduzir as regulamentações federais para estimular a criação de empregos e ampliar os cortes de imposto de renda. Ele propôs novos cortes de impostos, incluindo a redução da taxa corporativa de 21% para 15% para empresas que fabricam nos EUA.
Trump pressionará o Federal Reserve a reduzir as taxas de juros, sem exigir isso diretamente. Suas propostas exigiriam ação do Congresso e poderiam aumentar a dívida federal em trilhões de dólares ao longo de uma década, sem economias em outras áreas.
Burocracia Federal
Trump planeja criar um painel de eficiência governamental liderado por Elon Musk e Vivek Ramaswamy, com o objetivo de combater o desperdício no governo federal. Além disso, Trump pretende reprimir denunciantes federais e criar um órgão independente para monitorar as agências de inteligência dos EUA.
*Foto: Jonah Elkowitz / Shutterstock.com.