A discriminação e a violência contra a comunidade LGBTQIA+ são fatores que contribuem paulatinamente para a exclusão socioeconômica desta população e dificultam seu acesso e permanência no mercado formal de trabalho. Estudos mostram que as barreiras são ainda maiores para LGBTQIA+ de baixa renda, uma vez que a interseção dos marcadores raciais e de classe social com orientação sexual e/ou identidade de gênero confluem e se articulam produzindo vulnerabilidades sociais, econômicas, políticas e psíquicas consideráveis entre esta população, reforçando tendências de marginalização que dificultam fortemente sua autonomia financeira.
Outro grande obstáculo ao acesso ao mercado de trabalho para pessoas LGBTQIA+ é a falta de qualificação profissional. Esse problema não é exclusivo desta comunidade, mas se intensifica devido ao estigma e ao preconceito sofridos ao longo do processo educacional, limitando os níveis do aprendizado e contribuindo para baixa autoestima e alto índice de evasão escolar precoce.
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Nesse contexto, pessoas trans e travestis, que, muitas vezes, interrompem os estudos durante sua transição de gênero, não têm outras alternativas de emprego e geração de renda que não seja o trabalho sexual, ficando mais expostas a abusos e violência transfóbica, afetando diretamente sua saúde e gerando consequências psicológicas graves que dificultam sua mobilidade social. Segundo levantamentos da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% da população trans estão envolvidos no mercado da prostituição.
Visando contornar estes desafios, iniciativas que fomentam o empreendedorismo LGBTQIA+, tais como Micro Rainbow Brasil, Diversità Consultoria e Capacitrans, têm se mostrado alternativas eficazes para a autonomia financeira e a inclusão social desta população. A Micro Rainbow Brasil, ONG pioneira nesta área, já capacitou, desde 2015, cerca de 400 empreendedores LGBTQIA+ de todo o país e mais de 250 conseguiram abrir ou expandir seus pequenos negócios em diversos setores.
A rede Capacitrans tem oferecido capacitações para a população trans em várias áreas, como moda, gastronomia e design de interiores, entre outras. Já a Diversità, com apoio do Instituto +Diversidade, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Casa Neon Cunha, está realizando cursos de empreendedorismo prioritários para pessoas trans, com concessão de capital semente e mentoria para os melhores modelos de negócios.
Uma pesquisa lançada pelo LinkedIn em 2022 revelou que 43% das pessoas LGBTQIA+ entrevistadas no Brasil relataram ter sofrido discriminação no ambiente de trabalho, principalmente por meio de piadas e comentários homofóbicos. Além disso, 23% têm medo de revelar suas identidades no trabalho com receio de que isso possa influenciar negativamente o seu crescimento dentro da empresa e 20% têm medo de sofrer represálias por parte dos colegas.
O Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, criado em 2013 em São Paulo, foi uma das primeiras iniciativas no país a reunir grandes empresas em torno de 10 Compromissos com a promoção dos direitos LGBTI+. A Mais Diversidade também tem oferecido capacitações sobre diversidade no ambiente de trabalho, além de curadoria de talentos e consultorias em comunicação. Já a Diversità Consultoria, fundada no Rio de Janeiro no ano passado, visa oferecer vários tipos de capacitações sobre inclusão LGBTIQ+ no mundo corporativo.
*Lucas Paoli Itaborahy é especialista em Direitos Humanos e diretor-executivo da Diversità
*Clarisse Cavalcante Kalume é especialista em Gênero e Sexualidade e coordenadora da Diversità
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