Faça uma pesquisa rápida sobre diversidade no Google. Mais: procure imagens que sejam correspondentes ao tema. Muito provavelmente, você encontrará fotos conceituais como a que abre esta reportagem – pessoas de cores diferentes segurando um planeta, cores da bandeira LGBT ou de repente um negro sorrindo de terno e gravata. A questão principal é que diversidade é muito mais do que somente isso.
Foi exatamente o que foi discutido durante o C2, em Montreal. A falta de diversidade no mundo, especialmente no ambiente corporativo, é algo que ainda ignoramos, apesar de tantas discussões a respeito do tema. O problema é que falamos muito e agimos pouco. Ainda não percebemos o potencial que esse tipo de assunto pode ter, especialmente nos negócios.
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Diversas pesquisas mostram isso. Recentemente, o instituto NBER Faculty Research mandou diversos currículos exatamente iguais para as mesmas empresas. A única mudança foi o nome: em alguns, colocou o nome de “Greg”, mais comum em homens brancos, nos outros “Jamal”, um nome bastante recorrente na comunidade negra. Resultado: os homens brancos recebem duas vezes mais chamadas para entrevistas do que os negros.
“Sabemos que a diversidade é boa e temos que falar mais sobre isso”, afirma Arwa Mahdawi, estrategista de marcas e responsável pelo site Rent a Minority. “Mas nada de fato tem sido feito.”
Não por acaso, Mahdawi criou o site Rent a Minority – “alugue uma minoria”, em tradução livre. Nele, empresas podem escolher que tipo de minoria gostaria de ter para a sua empresa: negros, hispânicos, árabes, gays ou mulheres (não que as mulheres sejam minoria na população mundial, mas se você pensar nas lideranças das empresas, de fato o são). Uma espécie de cardápio humano para a empresa ser vista como “engajada socialmente”. Claro, trata-se de uma piada. O problema, contudo, foi que diversos executivos de grandes companhias entraram em contato para reforçar as suas equipes com esses aluguéis.
Segundo a profissional, a diversidade de muitos é a tecnologia de ontem: quem levantar essa bandeira e realmente fazer esforços efetivos, vai sair na frente no futuro. Será um diferencial competitivo.
“As pessoas ainda veem a diversidade como politicamente correto”, diz ela. “Mas ainda não percebem o quanto isso pode trazer resultados para a empresa.”
Dados mostram os ganhos
De fato, não trata-se de um discurso politicamente correto. A diversidade traz resultados. Um levantamento do instituto americano Peterson Institute em parceria com a consultoria EY mostra que companhias que têm, ao menos, 30% dos cargos de liderança ocupados por mulheres apresentam ganhos 15% maiores. E as presidentes atuais lutam para aumentar ainda mais esses percentuais.
E para que esses resultados consigam se expandir por toda a economia, todos precisam começar a lutar por isso. Todos, sem exceção. Segundo Mahdawi, existem três pontos a que as empresas e executivos precisam se atentar. “Primeiramente, não se trata de diversidade, precisa ser uma cultura. Segundo, não é papel somente da área de recursos humanos, mas de todos. Por último, uma coisa é fato: a empresa que não evoluir será extinta”, diz.
Problemas além das corporações
Um ponto que é importante tocar: a diversidade também não pode ocorrer apenas nos corredores e salas das companhias. Longe disso. O poder de uma raça e gênero em cima dos outros acarreta em diversos problemas sociais ao redor do mundo. É o que aponta a professora Annalisa Enrille, da Universidade da Carolina do Sul.
Ela pesquisa há anos a questão de tráfico de pessoas e escravidão. Segundo ela, há 40 milhões de pessoas que são escravas sexuais ou sofrem com a escravidão moderna. Caso este número esteja difícil de visualizar, pense que equivale a 20% da população brasileira. Mais: quatro vezes a população da cidade São Paulo, a mais populosa da América do Sul.
Muitos, no entanto, pensam que é algo que acontece longe de nós. Estão errados. É só lembrar os contínuos resgates de bolivianos explorados em grandes capitais, como a própria São Paulo, e na zona rural. Nas Filipinas, segundo a professora, seis mil pessoas abandonam o país todos os anos para em busca de uma vida digna.
Ao mesmo tempo, esses imigrantes são vítimas de exploração sexual e de trabalho escravo ao redor do mundo. Aqui no País, por exemplo, houve diversas acusações de trabalho escravo de mulheres das Filipinas em casas de pessoas de alto poder aquisitivo. “Encontramos crianças de 10 anos de idade sendo exploradas como prostitutas nas Filipinas”, diz Enrille.
Por que isso continua acontecendo?
A resposta dessa pergunta é até que simples: não nos importamos. Para Enrille, preferimos ignorar pensando que esse tipo de coisa nunca acontecerá conosco. Está na hora, segundo ela, de adotarmos o que Enrille chama “honestidade radical”. “Temos que engajar as pessoas a falar sobre isso e a entender o que de fato está acontecendo”, diz. “Precisamos conversar disso nas empresas, em casa e criar um verdadeiro impacto.”
E isso não pode entrar por um ouvido e logo sair pelo outro. “Estou cansada de falar sobre escravidão, pois precisamos mudar o discurso”, afirma Enrille. “Não estou aqui no C2 pedindo dinheiro, mas solicitando que vocês comecem a agir para mudar esse panorama.”