Se considerarmos o mercado varejista como um todo, é impossível não notar que o Brasil ainda vive em um período mais cauteloso, especialmente pela redução do poder de compra do consumidor como consequência direta da recessão alimentada pela crise econômica dos últimos anos. No entanto, um dos setores onde a realidade de mercado parece caminhar na direção contrária é o farmacêutico.
Em 2015, o faturamento total do setor alcançou R$ 66 bilhões e a taxa composta de crescimento anual (CAGR) entre 2010 e 2015 chega a 12,6%, dando motivos de sobra para acreditarmos na expansão do mercado brasileiro, a partir do investimento cada vez mais frequente das grandes redes nacionais e de boa parte dos maiores players internacionais. Nosso mercado interno está bastante movimentado e casos de negociações entre grandes companhias do setor no mercado externo trazem ótimas perspectivas de investimentos e novos negócios.
Segundo dados da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), as grandes redes de farmácia alcançaram crescimento de 12,6% em vendas só no primeiro semestre deste ano. Os primeiros seis meses registraram faturamento de R$ 19,32 bilhões, mais da metade do que o total movimentado em 2015: R$ 35,94 bilhões. Há mais de 10 anos, o setor de varejo farmacêutico brasileiro não sabe o que é recessão, com desempenho positivo sendo alcançado seguidamente desde 2011. Essa evolução se deve em parte ao aumento de vendas, do processo de profissionalização que está ocorrendo no setor e pela movimentação no mercado de fusões e aquisições.
Casos específicos como o excelente desempenho da Raia Drogasil – desde seu nascimento a partir da fusão em 2011 até hoje – mostra que o setor caminha para um possível processo de estruturação. A fusão concluída entre a segunda e a terceira maior rede de farmácias do Brasil criou uma gigante de mercado, com crescimento de quase 60% no número de lojas e 21,1% de aumento da receita bruta no ano passado, alcançando lucro de R$ 391,1 milhões.
Os investimentos em novas tecnologias e inovações devem continuar a crescer, dando base para que o varejo farmacêutico continue amadurecendo. Por outro lado, o setor sofre pela alta informalidade do mercado, ocasionando dificuldades para uma maior presença de players internacionais. O que está acontecendo atualmente com a compra da Onofre pela gigante americana CVS pode ser considerado um exemplo disso, deixando brechas para que o interesse de grandes redes nacionais como a Profarma e Extrafarma em ativos da BR Pharma ocupem espaço entre as negociações.
Será que as instabilidades econômicas e questões como o desenvolvimento dos biofármacos serão suficientes para brecar esse desenvolvimento? O que mais caracteriza o sucesso no desempenho desse mercado é a maior profissionalização da gestão do varejo farmacêutico do país, além da cultura do brasileiro de se automedicar. Remédios são primordiais para o consumidor, fato que torna o setor mais resiliente à crise, onde medicamentos são tratados como prioridade em detrimento a outros bens de consumo.
Por Sérgio Coelho é sócio da Cypress Associates, assessoria financeira especializada em operações estruturadas, Fusões & Aquisições e mercado de capitais