Por mais que o delivery tenha conquistado adeptos durante a pandemia, é fato que viver com comida entregue em casa é praticamente impossível e principalmente improvável. Por isso, antes da reabertura de bares e restaurantes, passou a ser muito mais comum a alimentação na quarentena foi feita dentro do lar, com refeições preparadas na cozinha de casa. Esse cenário traz diferentes perspectivas, desde a possibilidade de descobrir um novo passatempo cozinhando até a procura por alternativas mais fáceis de serem executadas, para quem não tem familiaridade ou apreço pelo fogão.
Para entender mais sobre esse cenário e as características curiosas identificadas no período, a Consumidor Moderno realizou um webinar que teve convidados especialistas no tema: Christina Larroude, diretora de Marketing da Camil, e Alexandre Canatella, fundador e CEO do CyberCook e diretor de Negócios Digitais do Carrefour.
No debate, um dos primeiros pontos destacados pelos executivos sobre a alimentação na quarentena foi o aumento do interesse por carboidratos – como arroz e macarrão. Christina conta que, no começo, muitas pessoas não sabiam como seria o período de quarentena e, por isso, quiseram estocar produtos essenciais (impossível não lembrar do que aconteceu com o papel higiênico, não é?). Com o tempo, no entanto, essa busca entrou num patamar mais natural. A Camil, então, apostou em ensinar os consumidores e fazerem pratos diferentes com os grãos que oferece – como lentilha, grão de bico e soja.
Além disso, Christina menciona o apoio a quem quer ter uma maior variedade de alimentos nas refeições do dia – por exemplo, os tipos de arroz são muitos, apesar de estarmos familiarizados com o branco ou o integral. Questionada sobre a perspectiva em relação ao futuro, ela acredita que a tendência é que as marmitas ganhem adeptos, especialmente por conhecermos a origem do alimento e termos certeza da segurança.
A alimentação na quarentena em perspectiva
Canatella conta que, no Cybercook, os dados são usados para entender tendências. Questionado sobre o aumento da alimentação sem carne, ele explica que, em vez de vegetarianos, os consumidores estão se tornando adeptos de proteínas mais diversas. “A nova geração, mais curiosa, ajudou a descobrir que a ervilha é altamente proteica”, exemplifica. Nesse sentido, revela que, para o Cybercook, o mais importante é que haja uma alimentação saudável, que tende a ser diversificada.
Inclusive, essa diversificação da alimentação na quarentena é uma tendência que vem sendo percebida pelas empresas. Canatella conta sobre uma mudança curiosa que aconteceu em 2020, na Sexta-Feira Santa, feriado em que os cristãos costumam consumir bacalhau: neste ano, cresceu a compra de peixes de elaboração mais simples, pois as gerações mais jovens estavam impedidas de visitar os pais e avós (devido ao distanciamento social) e não têm muita habilidade com o processo de dessalga do bacalhau. “Essas microexperiências elevaram o conhecimento sobre a proteína”, diz.
A questão da variedade no consumo de proteínas, no caso da Camil, também se manifesta por meio dos diferentes grãos oferecidos pela empresa. Questionada sobre a variação nas vendas de itens pré-cozidos, Christina lembra que uma parte dos consumidores nem mesmo tem fogão em casa e não tinham o hábito de cozinhar.
Nesse sentido, ela revela um hábito dos consumidores: “Durante a infância e a adolescência, há uma maior frequência de realização de refeições em casa; jovens adultos, porém, tendem a diminuir esse consumo e, quando se tornam pais, voltam para o arroz e feijão”, revela. Ou seja, há um “gap” na alimentação tradicional e dentro de casa na vida dos brasileiros, afetado especialmente pelas mudanças na estrutura familiar.
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