Quando criança, um dos meus passatempos favoritos era ler quadrinhos. Títulos como Mafalda, Garfield, Calvin & Haroldo e Asterix estavam entre os meus favoritos – e é curioso como algumas tirinhas ficam marcadas para sempre.
Uma delas trazia os personagens de Quino, Mafalda e Manolito, conversando sobre o ano novo. Enquanto Manolito diz a Mafalda que as pessoas esperam que o ano que está começando seja melhor do que o último – um sentimento que acredito ser compartilhado por todos neste janeiro de 2022, Mafalda responde, do seu jeito aguçado, humanista e questionador, que aposta que o ano que está começando espera que as pessoas é que sejam melhores.
2022 marca o centenário da Semana de Arte Moderna. Marca também os 50 anos desde a Conferência de Estocolmo, primeira grande cúpula global dedicada ao meio ambiente, bem como os 30 anos da Rio-92, ou Eco-92, quando representantes de 178 nações se reuniram no Rio de Janeiro para discutir como diminuir a degradação ambiental e garantir as condições de sobrevivência e prosperidade das gerações futuras.
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É ainda o ano em que teremos, provavelmente, uma das eleições mais importantes e polarizadas da história recente do Brasil, que definirá quem ocupará as cadeiras de presidente e vice pelos próximos anos, além das posições para o Congresso Nacional, tanto no senado como na Câmara dos Deputados. Em outras palavras, é neste ano que elegeremos os representantes em quem confiamos para não apenas nos tirar de uma das crises mais severas das últimas décadas, mas também para indicar os caminhos que vamos percorrer como nação.
Um ano tão simbólico e decisivo não apenas espera pessoas melhores: ele exige. Exige pessoas capazes de tomar decisões com a cabeça e o coração. Dotadas de empatia, compaixão, com a habilidade de coexistir, conviver e prosperar junto a outras pessoas que pensam e são diferentes de si. Pessoas que não esperem que o governo irá resolver todos os problemas do país, mas que saibam ao mesmo tempo cobrar deste mesmo governo e de todas as instituições públicas e privadas a responsabilidade e o papel que lhes cabe na construção de um futuro desejável – e melhor.
Não é mais possível ignorar os sinais que o planeta não se cansa de nos enviar. Dos regimes de chuva, cada vez mais inconstantes, ora causando secas terríveis, ora inundações arrasadoras, até a acidificação e o aquecimento dos oceanos, que vem dizimando corais e os biomas que eles sustentam ao redor do mundo, até a pandemia que nos atingiu nos últimos 2 anos. Não dá para aceitar que o único caminho para o desenvolvimento e a riqueza do nosso país seja explorar de maneira inconsequente nossos recursos naturais, seja na forma do comércio ilegal de madeira, seja no desmatamento que abre caminho para mais pastagens e lavouras de baixa tecnologia. Isso sem falar no garimpo, em que o sonho da riqueza acaba por contaminar com componentes tóxicos e letais áreas que são verdadeiros santuários para a nossa biodiversidade e povos ancestrais.
A Semana de Arte Moderna de 1922, de forma análoga ao nosso contexto presente, foi realizada em uma época de turbulências no âmbito político, social, econômico e cultural. Alvo de críticas ferozes no momento da sua realização, o evento sedimentou-se ao longo das décadas seguintes como um divisor de águas, rompendo com os padrões tradicionais da academia artística europeia e dando origem a um movimento com identidade própria, genuína e essencialmente brasileira, marcada pela liberdade de expressão e experiências estéticas: o modernismo brasileiro.
Minha esperança é que este momento igualmente agudo e turbulento que vivemos neste início de 2022 possa se converter em um legado tão relevante quanto o da Semana de Arte Moderna, que talvez não seja percebido imediatamente, mas deixe sua marca positiva nas décadas por vir. Não apenas nas linguagens e expressões estéticas, mas na nossa postura como indivíduos e sociedade. Um ano transformador, em que novas ideias ganhem espaço e possamos compreender como viver em maior harmonia – tanto uns com os outros como com tudo aquilo que nos cerca. Estes são meus votos.
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*Por Mauricio Soares, sócio-fundador da ARCA.
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