“Ela não trabalha, só cuida dos filhos e da casa”. Quem nunca ouviu essa clássica frase no ambiente corporativo ou familiar, não é mesmo? A popularização desta expressão evidencia o quanto a maternidade ainda é romantizada e expõe uma doença silenciada pela sociedade: a síndrome de burnout materna.
Você já parou para pensar qual é o tempo de trabalho que uma mãe gasta, em média, para cuidar dos seus filhos? Será que esta jornada de trabalho invisível é equivalente ao período de trabalho com carteira assinada? Da preparação da papinha aos cuidados com a higiene, a educação e o lazer dos pequenos, os afazeres diários são intermináveis e estão intrinsecamente associados ao desgaste físico e mental de milhares de mães que, solitárias, sofrem com a sobrecarga deste “papel”.
Considerada pela OMS como uma doença crônica, a síndrome de burnout é caracterizada pelo estresse emocional intenso e pela sensação de sufocamento no trabalho, sintomas comumente observados ao longo da maternidade e negligenciado pela família, que tende a justificar a carga de trabalho das mães com o velho argumento da “vocação natural”.
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Vinte quatros horas por dia “sendo mãe”
Para se ter uma noção, se colocarmos na ponta do lápis as horas de trabalho desempenhadas pelas mães em comparação com os trabalhadores assalariados, percebemos que a discrepância é imensa, conforme explica a especialista em RH, recrutadora e headhunter, Carolina Martins, Top Voice do LinkedIn: “usando a recomendação da OMS onde o tempo mínimo de amamentação é de seis meses e considerando que o “tempo médio” por cada mamada é de 20 minutos, a mãe gasta 600 horas só amamentando”, inicia a profissional, que continua: “levando em consideração a amamentação, troca de fraldas, preparo de almoço/jantar, banho, cuidados médicos e cuidados higiênicos, além da limpeza rotineira da casa, calcula-se que, por dia, o trabalho de ‘ser mãe’ leve, em média, 12h”.
Ainda segundo Carolina Martins, com o decorrer do tempo e o crescimento da criança, as tarefas rotineiras das mamães são alteradas mas nunca terminam: “conforme o bebê cresce outras atividades vão dando lugar às primeiras, como: brincar, levar e buscar da escola, escovar os dentes e auxiliar nas tarefas escolares. E, por mais que soe estranho, ajudar a criança no banho ou na alimentação, por exemplo, pode levar mais tempo que dar o banho ou o alimento. Ou seja, durante a primeira infância, a mãe passa, em média, de 12h a 14h por dia atarefada com isso”, pontua.
Falência geral: acúmulo excessivo de funções na maternidade
gera danos físicos e mentais
Para além, a psicóloga especialista em Desenvolvimento Humano, Bruna Rodrigues, fundadora do Instituto Diferente Mente e do projeto Psicologia em Ação, recorre a uma analogia para exemplificar o custo mental da maternidade e seus efeitos a curto, médio e longo prazo: “a título de ilustração, imaginemos que ser mãe equivale a, no mínimo, ser uma empresária que precisa manter a empresa, equilibrar as entradas e saídas e ainda ter que fazer todo o trabalho operacional, que envolvem cuidados, limpeza, compras, pagamentos e tudo mais. Além de ter uma pressão psicológica contínua relacionada a responsabilidades sobre o outro, a mãe acaba sofrendo com a falta de tempo para si mesma e se vê diante de um adoecimento mental que, neste caso, pode ser representado como um tipo de falência para o negócio”, argumenta.
Nesse sentido, em meio ao excesso de atividades diárias e a cobrança excessiva dos familiares e da própria mãe para dar conta de tudo, a saúde mental se esvai e dá lugar a uma série de problemas, como a falta de autocuidado e a dependência emocional no outro.
“Cuidar dos filhos não é visto como um trabalho e na maior parte dos casos é entendido como responsabilidade da mãe”, afirma Carolina Martins, que prossegue: “o impacto na saúde mental dessa jornada interminável passa desde questões de autoimagem até quadros depressivos”, esclarece. Não é à toa que 63% das mães foram diagnosticadas com sintomas depressivos durante a pandemia, conforme indica um estudo feito pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, fato que pode estar associado ao acúmulo de atividades e a falta de uma rede de apoio.
Como forma de reverter essa situação e auxiliar no processo de recuperação da saúde mental da figura materna, é necessário, segundo a especialista em RH Carolina Martins, acabar com a noção de “super mãe”: “ a principal forma de auxiliar as mães é tirar delas o peso de serem as únicas responsáveis pelos filhos e parar com a romantização da ‘super mãe’. É fundamental que a mãe tenha suporte para liberar tempo para ela mesma. Processos terapêuticos são ótimos aliados nesse processo, pois a auxilia no processo de percepção de seus outros papéis que não se limitam a ser exclusivamente mãe”, argumenta.
A psicóloga Bruna Rodrigues endossa a linha de raciocínio ao afirmar que o problema não está em ser mãe, mas sim no excesso de atividades que são culturalmente atribuídas a elas assim que tornam-se mães. “A questão não é ser ou não ser responsável por uma criança, mas sim a pressão emocional que esse cargo gera no indivíduo e que se intensifica por conta da falta de um suporte dos outros responsáveis”.
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