Ser mulher, empreendedora e cozinheira na pandemia pode ser interpretado como um ato de coragem. E não à toa: são muitas as dificuldades que as mulheres enfrentam frente aos negócios, especialmente no ramo gastronômico. É como se reinventar à cada obstáculo, mas sem nunca perder o sonho de ser dona do próprio negócio. E em um período no qual boa parte dos restaurantes teve de fechar as portas por causa do isolamento, conhecer a história por trás de inúmeros estabelecimentos que se reinventaram durante a pandemia, tendo em vista que grande parte deles é chefiado por mulheres, é fundamental. Por isso, a 99Food criou o Projeto Cozinheira & Brasileira, em parceria com Instituto Brasil a Gosto, que tem como objetivo celebrar as brasileiras empreendedoras brasileiras que atuam no segmento da gastronomia.
“Aqui em Minas, o tropeiro é o prato da casa, todos os dias tem e todos os dias sai. E o macarrão na chapa faz muito sucesso. Montei uma barraquinha de rua, mas quando veio a lei da pandemia para fechar tudo, eu pensei: ‘ah, a única coisa que eu sei fazer de bom, que todo mundo fala, é comida’. E aí eu montei o macarrão de novo, só que dentro da minha casa”, destaca Poliana, dona do Macarrão das Meninas, em Belo Horizonte (MG), integrante do projeto Cozinheira & Brasileira.
Pertencente ao projeto, a 99Food também encomendou uma pesquisa, realizada pelo Instituto Datafolha e Ipsos, que apontou uma série de costumes culinários desenvolvidos pelos brasileiros em aplicativos de delivery.
Comida típica como forma de manter as tradições
A pesquisa mostra que 83% dos entrevistados têm o costume de comer pratos típicos de seus estados. Entre as regiões, a Nordeste é a que mais consome seus pratos típicos (93%), seguida da região Sul (87%). E os motivos pela preferência são muitos, mas o estudo destacou dois principais: comer comidas típicas da região, para 41% dos brasileiros, significa valorizar a cultura da região, assim como se conectar aos familiares (29%).
Para Luciene, dona do Restaurante e Jantinha da Nena, esse apelo também vem por meio da preparação da comida. “O meu restaurante é a minha primeira casa, mesa da cozinha, fogão, geladeira, essas coisas todas, quando eu comecei, eu levei da minha casa para começar o negócio. Algo que eu vendo bastante é a costela com mandioca, conhecida aqui no Goiás como Vaca Atolada”, comenta no vídeo produzido pelo Instituto Brasil a Gosto.
Luciene é uma das milhares de mulheres empreendedoras do setor gastronômico que incluíram seus restaurantes nas entregas por delivery, uma forma de continuarem o sonho de cozinhar e de manter seus negócios. O estudo mostra que 64% dos entrevistados passaram a pedir mais comida por aplicativo durante a pandemia, 65% pedem ao menos uma vez na semana.
“Há dois dados bem importantes e que acabam direcionando o negócio para um caminho que, a meu ver, ainda ia demorar um pouco para acontecer: a transição da indulgência para o uso cotidiano dos apps. Já que metade (50%) das pessoas afirmam que já estão em busca/pedem opções de pratos que fazem parte da alimentação diária. É importante destacar que o saudável não significa saladas ou pratos com baixas calorias, mas sim, comida caseira”, comenta Mansano.
A preferência dos brasileiros, destaca o estudo, também vai para alguns dos pratos típicos em todo o Brasil. 13% dos brasileiros consomem a feijoada, por exemplo, pedida por delivery para manterem a tradição com a comida do País. Mas, alguns preparos costumam ter mais adesão em determinadas regiões: o cuscuz tem adesão de 22% nos deliveries do Nordeste, mas apenas 6% no país. O mesmo ocorre com o churrasco, que é consumido por 30% dos usuários da região Sul, ao passo que, no resto do país, o consumo é de 7%.]
E de churrasco, Maíra, dona do Santo Espetinho Gastrobar, em Porto Alegre (RS), entende. Ainda que no Sul os homens sejam reconhecidos como churrasqueiros, as mulheres têm tomado a dianteira na hora de preparar esse prato tão típico da região.
“Eu sempre fui a cozinheira oficial da família, em todos os encontros familiares, de amigos. Eu encontrei o Santo Espetinho à venda. Olhando para ele, eu obviamente pensei ‘não, não tem condição, é muito para mim, não tenho como comprar’. Mas já sonhava que ele fosse meu. Em 20 de janeiro de 2020, eu assumi o Santo Espetinho como proprietária”, explica Maíra.
O papel das mulheres empreendedoras e cozinheiras
Na pandemia, as mulheres que empreendiam no setor culinário tiveram que se adaptar ainda mais ao consumo feito por delivery. E como são elas, de acordo com a pesquisa, que lideram as cozinhas brasileiras (76%), nada mais justo que o empreendimento também fosse liderado pelas mesmas — ainda que as suas portas estivessem fechadas.
“Fomos em busca do Instituto Brasil a Gosto, que é uma referência. Sua razão de existir tem tudo a ver com a proposta do Cozinheira & Brasileira: lutar para que a autêntica cozinha brasileira, arraigada em técnicas, saberes e produtos, seja uma realidade nos fogões e nas mesas de todas as casas do país”, explica Danilo Mansano, diretor-executivo da 99Food.
Mais do que trabalhar com um aumento intensivo do delivery, elas trabalham também com negócios. E essa é uma das satisfações que elas trazem a partir do esforço de manter o empreendimento vivo.
“Ser cozinheira, para mim, é fantástico. A minha visão era sempre que, era trabalhando para mim, era dentro da minha comunidade, era fazendo o que eu sabia fazer, o que eu amava fazer, que eu iria ser feliz. Hoje eu me sinto, sim, uma profissional. Uma empreendedora, eu me sinto. E ter meu restaurante, meu nome lá, Quentinha da Cheff… Às vezes eu fico pensando, ‘sou eu! É meu’”, explica Maria da Conceição, dona do Quentinha da Cheff, de Recife (PE).
O Projeto Cozinheira & Brasileira disponibilizou algumas das receitas mais populares e típicas brasileiras em seu site oficial, baseadas nas preparações de algumas das mulheres cozinheiras, brasileiras e empreendedoras. Em breve, a 99Food lançará, com apoio do Instituto Brasil a Gosto, uma websérie com a história de cada uma dessas cozinheiras. Uma maneira de não apenas incentivar o trabalho delas, mas de homenagear a cultura brasileira por meio da comida.
“É muito difícil uma mulher brasileira empreendedora, mas a gente luta e está conseguindo. São as mulheres de hoje, as mulheres guerreiras, que estão a frente de muitos negócios, muitos empreendimentos. Eu amo cozinhar, eu amo o que eu faço”, conclui Sabbá, dona da Soparia da Sabbá, de Manaus (AM).
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