No último domingo, dia 15 de março, meu celular me mostrou a seguinte notificação: “O seu tempo de uso aumentou 131%”. Seria chocante um crescimento dessa magnitude se não fosse pelo atual momento em vivemos: a pandemia global do novo coronavírus. Atualmente moro em Barcelona, na Espanha. Cheguei ao país no comecinho de fevereiro porque vou cursar um mestrado. Sou jornalista há mais de 15 anos e desde início da minha carreira trabalho com o digital.
Mídias sociais? Hard user. Newsletter? Assino umas 20. Messenger instalados no celular? Uso até o do Linkedin. Mas mesmo assim, quase nunca ultrapasso o limite de 5 horas por dia (que já é alto) imposto como regra no meu smartphone. Em dois dias, porém, fiquei colada na telinha buscando as últimas atualizações para a situação na Catalunha.
Os números se devem ao #EstadodeAlarma, a designação para as medidas de emergência imposta em todo país pelo presidente do governo espanhol Pedro Sánchez. A medida foi tomada no sábado (14). A partir de então, restringiu-se totalmente a movimentação dos cidadãos – e a gente só pode sair de casa para trabalhar (caso não tenha sido dispensado ou esteja de home office), ir à farmácia, ao supermercado, ou seja, uma urgência.
Lojas, bares, restaurantes, escolas, universidades, órgãos públicos, tudo está fechado. Deliveries de comida e compras do mercado chegam aos prédios de pouco em pouco. Mas nada de ir visitar o amigo, ficar passeando na praça, dar uma caminhada no parque. É isolamento que chama. E a medida foi tomada porque a Espanha passou, em poucos dias, a ocupar o quarto lugar na lista de países do mundo com maior número de pessoas infectadas – atualmente, mais de 11.700. E cerca de 533 mortos. Ao terminar de ler esse texto, você sabe, essa quantidade já terá se alterado para mais, infelizmente.
A notícia do dia em muitos periódicos europeus hoje é a mea culpa que os líderes do bloco estão fazendo por terem demorado para tomar medidas extremas. Faz dois dias apenas que a França também aderiu à restrição mais cerrada. E isso fez toda a diferença para a Europa se tornar o polo global da pandemia – e não mais a China.
A situação na Itália é das mais catastróficas: as medidas restritivas foram aplicadas pouco a pouco, de modo que a população não compreendeu a gravidade da situação. A até 10 dias atrás, happy hours bombavam em cidades como Milão, epicentro da contaminação na região norte do país.
Por aqui, em Barcelona, o mês de fevereiro avançou sem que nenhuma medida mais dura fosse tomada. Teve Carnaval de rua, aulas nas escolas, pontos turísticos lotados. Dia 8 de março eu mesma fui à passeata do Dia da Mulher, que foi enorme. Norte-americanos, italianos, ingleses… Minha rua, que fica no bairro Gótico, era uma Babel de idiomas ouvidos da sacada. Com o passar dos dias e conforme a situação italiana ia piorando, esses ruidosos visitantes foram sumindo. Desde 10 de março, porém, o comércio já sentia a queda de visitantes. Foi quando as notícias se intensificaram. Ainda assim, devo dizer, apenas no dia 11 (justamente meu aniversário), o governo espanhol passou a tomar mais medidas com o decreto oficial de situação de pandemia por Covid-19 dado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
TRABALHO REMOTO + HOME OFFICE + APPS
Eu estou em isolamento, é verdade. Só que ele é bem mais físico, ou seja, de conviver com outras pessoas. Falo com gente o tempo todo – via FaceTime, Instagram, Whatsapp, Facebook… E-mails ajustam as entregas de texto, curadorias, pautas da semana. Através do Spotify escuto uma série de podcasts praticamente o dia todo. Só paro quando escrevo. Baixei um app de audiolivros para poder dar conta dos clássicos que nunca lerei em papel, mas posso ouvir enquanto cozinho. E de noite, quando meu expediente acaba, conecto no streaming da Netflix, da Amazon ou da Apple TV+ para ver filmes, séries ou aquele documentário mais cabeçudo.
De fato, sem essas tecnologias, aí sim eu vou dizer: seria bem mais complexo, difícil mesmo, enfrentar a quarentena. Porque é usando eles que posso falar com a minha família no Brasil, dar oi aos amigos, produzir conteúdo no meu perfil de Instagram (@lucyborges) e trabalhar. Sei que muita gente está com medo, se sentindo ansiosa e até perdida: os efeitos econômicos que vêm por aí, assim que o vírus deixar de ser uma ameaça tão poderosa, são de assustar.
Porém, é melhor viver um dia de cada vez. A mudança brusca de rotina que espanhóis, franceses, italianos – e antes deles chineses – que todos no mundo vivem só vêm confirmar que desenharemos o futuro à medida que ele chegue. Tem quem fale em saques de comida, roubos, derrocada social. Mas o que tem ocorrido pelas cidades é uma corrente forte de solidariedade, colaboração, de respeito à regra de não sair em público, de doação de dinheiro, tempo e comida para os mais desfavorecidos nessa epidemia toda. Enfim, o lado da humanidade que dá gosto de ver.
Chegou a hora no Brasil para colaborar com a frase que aqui virou mantra: #quedateencasa. Para o seu bem, dos seus funcionários, dos seus chefes, da sua família e de mais um montão de gente, fique em casa. Se previna do coronavírus!
Coronavírus: João Doria sugere fechamento de shoppings na Grande São Paulo
Newsletter ganha força em tempos de caos e pode ajudar marcas a falarem sobre coronavírus
Home office por conta do coronavírus? Veja dicas para facilitar o trabalho remoto
Coronavírus afeta comportamento do consumidor