O Brasil registrou, ao longo de 2017 e 2018, recordes de redução na taxa básica de juros, o que não refletiu de maneira robusta na redução da inadimplência das famílias brasileiras. Mais do que um problema do tamanho do juro, a questão do endividamento tem passado pela dificuldade das empresas de criar sistemas eficientes de cobrança.
O Seminário de Cobrança Digital, organizado pelo Grupo Padrão, reuniu empresas dos setores financeiro, de tecnologia, varejo e serviços para discutir a árdua tarefa das empresas em recuperar o crédito diante do persistente problema de inadimplência. “Isso sempre trouxe fricção para as duas pontas. Para a empresa, (a recuperação do crédito) é necessidade para recompor o caixa. E do lado do consumidor, essa inadimplência traz constrangimento em larga medida”, disse Jacques Meir, diretor-executivo de conhecimento do Grupo Padrão, durante a cerimônia de abertura do evento.
Meir ressalta ainda que as ferramentas tecnológicas emergem de maneira muito rápida para entender o momento em que o consumidor se encontra e para que as empresas consigam propor negociações competitivas para o mercado e interessantes ao consumidor. Segundo o diretor, o mercado precisa fazer a seguinte pergunta: “como que as ferramentas digitais podem trazer um pouco mais de humanidade para um processo como o de cobrança, tão árido?”.
O Brasil, diz Meir, é hoje um país em débito consigo mesmo, que não consegue entregar as demandas da sua população. “Porque sempre confunde prioridade com o que é acessório. Vivemos isso por acesso demasiado ao crédito devido a políticas populistas que fizeram com que as pessoas assumissem dívidas que não poderiam pagar”, avalia.
O eldorado do petróleo, que o país vislumbrou depois da descoberta do pré-sal, segundo o diretor, acabou por aprofundar os problemas de endividamento e transformou a Petrobrás na empresa de capital aberto mais endividada do mundo. “Evidentemente, a conta não fecha. Acreditou-se que poderíamos viver o eldorado do petróleo com o barril a 100 dólares. Como negócio, hoje, o petróleo tem um horizonte finito. Isso fez, por exemplo, com que o Rio de Janeiro entrasse em colapso”, diz o diretor sobre os investimentos feitos por conta da exploração do petróleo e por conta dos eventos esportivos de 2014 e 2016.
A pergunta que o executivo levanta é se o Brasil é um país viciado em dívida. A resposta não é clara, mas a questão do endividamento é das principais pautas das eleições deste ano. Algumas propostas que pretendem reduzir a dívida das famílias brasileiras, chamam a atenção e levantam suspeitas.
Diante dessa realidade, a transformação digital chega para ser incorporada ao dia a dia das empresas e criar novos modelos de negócios para fortalecer o caixa das empresas, por meio da recuperação de crédito, e a saúde financeira das famílias. “E assim podemos dar um grande passo para sair do atoleiro em que nos encontramos. A maioria dos nossos candidatos (para a eleição presidencial deste ano) não aborda isso. Há muita espuma sobre a macroeconomia e pouco sobre o que o futuro nos espera. E o futuro está nos esmagando. O digital veio para ficar e não podemos simplesmente baixar a cabeça por apego à nostalgia”, destaca Jacques Meir.